Mais uma consequência da crise econômica que, além de prejudicar o cotidiano da população, também afeta os planos dela.
Como se não bastasse a inflação, que reduz o poder de compra do consumidor, o cidadão brasileiro também é atacado com a perda do rendimento da aplicação mais tradicional do país: a caderneta de poupança. Mais uma consequência da crise econômica que, além de prejudicar o cotidiano da população, também afeta os planos de quem trabalha.
Conforme reportagem publicada na edição de ontem do Correio do Estado, só neste ano de 2015 houve um decréscimo de R$ 17,5 bilhões nas aplicações na caderneta de poupança. As explicações para este resultado são muitas, e vão desde as dificuldades financeiras dos cidadãos, que aumenta a frequência dos saques, até o desinteresse pelo investimento, cujo rendimento é inferior ao da inflação.
Por causa da desvalorização - não somente na conotação financeira - da poupança, o brasileiro deixa cada vez mais de lado a modalidade. De um investimento, a caderneta tem se tornado na prática, uma espécie de conta corrente remunerada. A explicação para esta característica está na frequência dos depósitos, que ocorrem normalmente no início do mês, e dos saques, acontecem em maior número a partir da segunda quinzena.
A regra que o Banco Central do Brasil estabeleceu para a caderneta de poupança prejudica muito o investimento, cujo rendimento é de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (TR): 6,17% ao ano. O porcentual está muito abaixo da inflação acumulada nos últimos 12 meses até agosto último, 9,56%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O último mês de agosto, diga-se de passagem, foi o pior mês para a caderneta de poupança dos últimos 20 anos. Os depósitos foram de R$ 1,9 bilhão, quando a média dos últimos anos foi de R$ 4 bilhões/mês.
A redução da carteira da caderneta de poupança no Brasil (todo o valor depositado em todos os bancos do País) contribui, dentro de um círculo vicioso, a prejudicar ainda mais a economia brasileira e deixar, ainda mais distante, sua recuperação da crise. Isto porque ela financia setores estratégicos, como o da construção civil, uma vez que 65% dos depósitos da caderneta de poupança são destinados à financiamentos imobiliários.
Outro fator de preocupação gerado pelo encolhimento da caderneta de poupança é a vulnerabilidade da população menos esclarecida ao sistema financeiro. O grupo dos mais desfavorecidos, o que mais sofre com a crise, fica mais exposto a ela quando o investimento mais comum desta camada da população, é o mais prejudicado pela conjuntura econômica: com rendimento abaixo da inflação.
Mais um problema para o governo federal é que a recuperação da caderneta de poupança deve demorar, sobretudo porque o governo federal, no momento atual, de queda no grau de investimento e perda da confiança dos investidores internacionais, não tem força política para impor perdas aos bancos.