A redução da quantidade de ministros e servidores comissionados em Brasília pode, no entanto, não ter o efeito esperado, porque chegou tarde demais
O mercado financeiro reagiu positivamente ao gesto da presidente da República, Dilma Rousseff, de cortar oito ministérios, cargos de comissão e o próprio salário. O ato de Dilma também foi suficiente para o governo federal começar o fim de semana em clima de tranquilidade, algo que ainda não se viu neste ano. A redução da quantidade de ministros e servidores comissionados na turbulenta Brasília pode, no entanto, não ter o efeito esperado, porque chegou tarde demais.
Na reforma administrativa anunciada na sexta-feira (2), foram cortadas dez pastas com status de ministério, e criadas outras duas, a partir de fusão de várias secretarias especiais. A expectativa do governo federal é de economizar até R$ 200 milhões por ano. Quantia que tem efeito muito mais simbólico que prático, em meio ao orçamento trilionário da União e deficit na casa dos bilhões, previsto para o ano que vem.
Na reforma ministerial, quem ganhou espaço foi o PMDB, que, mesmo com uma Esplanada com oito ministérios a menos, aumenta sua participação no governo de Dilma Rousseff, de seis para sete pastas. Agora, serão 31 ministérios, contra as 39 pastas anteriores à reforma.
O PMDB, partido de maior bancada no Congresso, foi decisivo na reforma, porque também pode ser decisivo em um eventual processo de impeachment da presidente. O grande problema, agora, tanto para Dilma Rousseff quanto aos que fazem oposição a ela, é a instabilidade do próprio PMDB. Esta característica do partido pode não trazer a tranquilidade duradoura que o governo espera, nem o impeachment imediato almejado pela oposição.
Os efeitos desta reforma serão momentâneos, porque ela, sozinha, não é suficiente para acalmar os ânimos em Brasília, tampouco no mercado financeiro. A crise econômica deve continuar, sobretudo, porque este mesmo corte de ministérios deveria ter ocorrido anteriormente. Fosse assim, o caixa da administração federal estaria muito mais saudável neste momento de dificuldade financeira.
A redução de cargos neste momento pode ser vista também como uma confissão do governo federal. Dilma Rousseff admite, assim, que trabalhava com uma máquina inchada e ineficiente, flagrante desperdício de dinheiro público e amostra de má gestão, que prejudica os brasileiros. Os R$ 200 milhões que serão economizados a partir de agora poderiam, nos últimos cinco anos, ter sido aplicados em infraestrutura, saúde e educação, em favor de quem realmente precisa do governo.
Apesar de tardia, contudo, a reforma administrativa é válida, e o exemplo deve ser seguido por outros administradores públicos do Brasil, em todos os poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Em meio às dificuldades financeiras, pelas quais o próprio governo é responsável, não é o momento de esbanjar mordomias e gastos supérfluos, enquanto muitos sofrem com desemprego, queda na renda, e dólar e juros nas alturas.