Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial deste domingo: "Tudo na mesma"

Editorial deste domingo: "Tudo na mesma"

Redação

20/09/2015 - 00h00
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Até agora, não há qualquer indício de que o governo federal cumpra a promessa de solucionar o impasse de ocupações de terras por indígenas em Mato Grosso do Sul.

Novamente, a cidade de Antônio João está em clima de tensão e expectativa. Na semana passada, a Justiça Federal revalidou liminar, determinando a desocupação de quatro fazendas no município: Primavera, Cedro, Fronteira e Piquiri. Para os produtores, era esperada a reintegração de posse na última sexta-feira (18), o que não foi feito.

Na reportagem do Correio do Estado da edição de ontem (sábado, 19), os índios afirmaram que não vão deixar as áreas, invadidas desde o dia 21 de agosto. Enquanto isso, até agora, não há qualquer indício de que o governo federal cumpra a promessa de solucionar o impasse de ocupações de terras por indígenas em Mato Grosso do Sul.

No dia 2 de setembro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo esteve em Campo Grande e reuniu-se com produtores rurais e lideranças indígenas para debater a invasão das terras em Antônio João. A visita ministerial foi agendada depois que houve confronto em uma das fazendas, retomada pelos donos.

No embate, o indígena Simeão Vilhalba foi morto com tiro e a Polícia Federal investiga o caso. No encontrou, foi definida a formação de grupo que iria elencar cinco áreas prioritárias no Estado, que enfrentam há anos a disputa entre indígenas e produtores. Havia previsão de nova reunião em Brasília para esta definição, porém, até agora, nada foi divulgado sobre o assunto.  Somente no Estado, são 95 fazendas sob ocupação indígena.

Se em Brasília, a invasão é tratada com desdém, em Antônio João, o momento é de apreensão. Produtores aguardam pela reintegração das fazenda e temem pelo estado das benfeitorias após um mês de ocupação. Desta vez, o momento é de cautela, à espera da ação da Polícia Federal. Na determinação judicial, consta o prazo de cinco dias para que a desocupação fosse feita, mas, por enquanto, não há movimentação no município. 

Para os ruralistas, uma das possíveis soluções está na aprovação da PEC 71, que fixa indenização aos donos das terras que foram demarcadas como reservas indígenas a partir do dia 5 de outubro de 2013. A matéria teve parecer favorável no Senado e seguiu para avaliação na Câmara dos Deputados.

Há ainda o projeto de lei 5919 que cria regras para estes pagamentos. Pelo texto, o desembolso seria em dinheiro, garantindo ressarcimento pelas benfeitorias e lucro cessante, que é a renda que o agricultor deixará de ganhar por entregar a terra. O PL 5919 vai passar por duas comissões do Senado e, se for aprovado, segue para sanção presidencial.

Porém, mesmo com estes medidas, fica difícil crer que haja solução a curto prazo, já que, mesmo que as normas garantam indenização, dificilmente haverá recursos para isso: o governo federal está cortando gastos e investimentos, até nos programas sociais e pode não ter intenção de colocar entre os planos o desembolso de milhões em reais para indenizar os produtores.Aqui no Estado, a possibilidade de conflito é sempre presente, em decorrência das invasões:a mais recente foi em Iguatemi, na Fazenda Maringá. É mais um para a já extensa lista de “áreas bombas”, prestes a explodir.

Editorial

O caminho seguro da diversificação

Mato Grosso do Sul, historicamente dependente de poucas commodities, começa a dar sinais de maturidade econômica ao explorar novos caminhos

24/05/2025 07h15

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Nesta edição, trazemos uma reportagem especial que aponta para uma importante virada no modelo de desenvolvimento do Estado: a diversificação da produção e a ocupação de novas fronteiras – não apenas agrícolas, mas também industriais. Em um cenário nacional e internacional instável, a capacidade de um estado de se adaptar, inovar e ampliar suas atividades produtivas é condição essencial para garantir crescimento sustentável. Mato Grosso do Sul, historicamente dependente de poucas commodities, começa a dar sinais de maturidade econômica ao explorar novos caminhos.

Um exemplo eloquente é o crescimento da cultura do eucalipto, que vem ganhando cada vez mais espaço entre produtores rurais sul-mato-grossenses. Conforme revelamos nesta edição, há quem diga que sua rentabilidade já rivaliza com a da soja, carro-chefe da produção agropecuária do Estado. Esse movimento é mais do que um bom sinal de negócio: é uma demonstração de que o campo também está atento às mudanças do mercado, disposto a inovar e a mitigar riscos.

Toda economia diversificada é, por definição, mais resiliente. Isso quer dizer que, diante de crises pontuais – sejam climáticas, geopolíticas ou de mercado – o impacto tende a ser menor e mais controlável. A diversificação reduz a dependência de ciclos específicos e confere ao Estado maior autonomia e segurança para planejar seu futuro. O eucalipto, por exemplo, abastece a indústria de papel e celulose, que pode alavancar cadeias produtivas inteiras com potencial de agregar valor e gerar empregos.

A boa notícia, portanto, extrapola os limites do agronegócio. Ela representa um ganho estratégico para MS como um todo. Um estado com bases produtivas mais amplas consegue sustentar boas perspectivas de crescimento no médio e longo prazo. Além disso, atrai investimentos, movimenta o mercado interno, fortalece os cofres públicos e, com isso, tem melhores condições de oferecer políticas públicas de qualidade.

No entanto, é preciso avançar também em outros setores. Esperamos que boas notícias como essa se repitam não apenas no campo, mas também nas áreas da indústria de transformação e dos serviços. MS precisa se industrializar mais, integrar melhor suas cadeias produtivas e investir em tecnologia, inovação e qualificação profissional. Há espaço, por exemplo, para crescer na área de produção de biocombustíveis, alimentos processados, vestuário e tecnologia da informação. O turismo, ainda tímido frente ao seu potencial, é outra fronteira promissora.

De nada adianta, contudo, crescimento econômico se ele não se traduzir em bem-estar. O que realmente importa é a população sul-mato-grossense encontrar meios de viver com dignidade: com acesso à educação de qualidade, a serviços públicos de saúde eficientes, à segurança, à cultura e a boas perspectivas de vida. A economia é, antes de tudo, um meio para se alcançar esse fim maior.

Nesse contexto, o papel do poder público é fundamental: garantir infraestrutura adequada, segurança jurídica, desburocratização e estímulos aos setores produtivos. Mas também cabe à sociedade, aos empresários e aos trabalhadores reconhecerem que o caminho da diversificação exige responsabilidade, visão de futuro e compromisso com o desenvolvimento coletivo. 

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ARTIGOS

O que está por trás do aumento dos alimentos?

23/05/2025 07h45

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Em meio a debates acalorados sobre o aumento dos preços dos alimentos, é comum vermos dedos apontados para o agronegócio de forma acusadora. Mas será que essa narrativa reflete a realidade complexa do setor?
Primeiramente, é preciso entender: o agronegócio não é uma organização sem fins lucrativos. É um setor econômico vital, responsável não apenas por alimentar o Brasil, mas também por contribuir significativamente para a alimentação global. Quando falamos em “sustentar o mundo”, não estamos usando uma hipérbole, estamos descrevendo uma realidade econômica e social, mas o setor tem enfrentado alguns desafios nos últimos anos: as mudanças climáticas.

O fenômeno El Niño, que em 2024 causou secas no Norte e no Nordeste e excesso de chuvas no Sul, teve um impacto direto na produção de alimentos e, consequentemente, no aumento dos preços. De acordo com a consultoria LCA, 2,25 pontos porcentuais da inflação de 8,22% da alimentação em domicílio no Brasil em 2024 foram causados diretamente por esse fenômeno climático e a tendência é que esses efeitos persistam neste ano todo.

Temos também questões econômicas envolvidas. Com a valorização do dólar frente ao real, houve um aumento no custo de insumos importados essenciais para produções agrícolas e um aumento de demanda devido à queda do desemprego e ao crescimento do PIB. Esse cenário só evidencia ainda mais que as causas da inflação dos alimentos são variadas e não podem ser atribuídas exclusivamente ao agronegócio.

É crucial que as pessoas compreendam que por trás de cada alimento há uma cadeia de valor complexa, que envolve trabalho duro, investimento constante e gestão de riscos significativos. Para o consumidor urbano, o leite simplesmente “vem da vaca”. Mas a realidade é muito diferente. O mesmo se aplica ao algodão, outro produto frequentemente subestimado e que não é só um item de farmácia, é a base de uma indústria gigantesca que veste o mundo e produz inúmeros itens essenciais para nosso dia a dia.

O agronegócio não é o vilão da inflação, mas sim um setor que luta contra adversidades climáticas, flutuações econômicas e desafios logísticos para continuar produzindo alimentos para o Brasil e para o mundo. Como setor, precisamos ser mais eficazes em comunicar nossa realidade. É necessário que a sociedade urbana entenda os verdadeiros custos e riscos enfrentados pelos produtores. As oscilações climáticas, as pragas, as flutuações do mercado internacional – todos esses fatores impactam diretamente o produtor rural. O preço final de um produto agrícola reflete não apenas o custo de produção, mas também o risco assumido pelo produtor.

Ao mesmo tempo, reconhecemos a necessidade de continuar investindo em tecnologias sustentáveis e práticas que minimizem o impacto ambiental. O agronegócio brasileiro tem o potencial de liderar globalmente a produção sustentável. É hora de superarmos narrativas simplistas e reconhecermos o valor real deste setor. Como costumo dizer, “mais vale um pingo de caneta do que um quilo de memória”. Que este artigo sirva como esse pingo de caneta, registrando e valorizando a realidade complexa e essencial do agronegócio brasileiro.

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