Saber quais os critérios do processo de coleta de lixo da Capital é essencial para entender a atual paralisação dos serviços da Solurb
A paralisação do serviço de coleta de lixo e limpeza urbana de Campo Grande tem tirado muita sujeita que estava escondida embaixo do tapete. E também tem levantado muitas dúvidas sobre a quantidade de lixo que de fato é retirada das ruas da Capital todos os dias.
A concessionária CG Solurb, que reivindica da prefeitura o pagamento de uma dívida R$ 23 milhões, alega que recolhe 800 toneladas de resíduos por dia na cidade. A questão é que, passados três dias da suspensão da coleta, há muita quantidade de lixo na cidade, mas aparentemente, não chega à 2,4 mil toneladas que estariam jogadas nas calçadas com a paralisação do serviço.
A quantidade informada pela Solurb, de 800 toneladas diárias, é um dos parâmetros para o repasse mensal à concessionária ultrapassar os R$ 10 milhões em alguns meses. É a própria empresa quem faz o relatório da quantidade coletada mensalmente e o encaminha à Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação (Seinthra), solicitando como contraprestação o repasse em dinheiro.
As dúvidas estão lançadas sobre o critério de pesagem dos caminhões. A concessionária informa que os veículos com lixo são submetidos a uma pesagem na entrada do aterro sanitário, e que a balança é fiscalizada por um servidor público da Seinthra. Os que lançam suspeitas sobre a lisura no processo de pesagem, questionam o aumento de 23% na quantidade de lixo produzida nos últimos dois anos, que foi de 650 por dia para 800.
Diga-se de passagem, saber quais os critérios do processo de coleta de lixo da Capital é essencial para entender a atual paralisação dos serviços da Solurb. A prefeitura revelou que o último pagamento à empresa foi efetuado em 24 de agosto último e que só neste ano já repassou R$ 56 milhões à ela, e por isso tem insistido em uma “conferência minunciosa dos relatórios” dos resíduos recolhidos diariamente.
Enquanto a atual administração municipal e a concessionária do serviço de coleta de lixo e limpeza urbano não chegam a um acordo, quem mais sofre são os 853 mil moradores de Campo Grande, que têm de conviver diariamente com toneladas de lixo espalhadas nas calçadas e nos quintais.
A resolução do impasse pode demorar ainda mais, pois a concessão que teve início em 2012 é contestada pelo Ministério Público Estadual e também por cidadãos na Justiça e não há expectativa de decisões para os próximos dias. Para piorar ainda mais, o município enfrenta dificuldades financeiras, com queda na arrecadação e aumento das despesas e o repasse à Solurb, que começou em menos de R$ 4 milhões por mês e agora supera os R$ 10 milhões, compromete outras áreas da administração como, por exemplo, o pagamento de salários de servidores.
É necessário, neste momento, que os representantes da Solurb e do município tenham muita prudência ao negociar não somente o destino do lixo produzido em Campo Grande, mas a manutenção da saúde pública e da saúde financeira da cidade.