Artigos e Opinião

ARTIGO

Frei Venildo Trevizan:
"A luta pela vida"

Frei Venildo Trevizan:
"A luta pela vida"

Redação

05/09/2015 - 00h00
Continue lendo...

O conflito é um fenômeno que se encontra em todos os seres humanos. Existem conflitos internos e externos. Existem conflitos pessoais e conflitos sociais. Existem conflitos psicológicos e conflitos espirituais. Fazem parte da existência de cada ser humano e da luta por uma vida mais segura e mais feliz. Não são fraquezas. São forças.

E todo o viver se apresenta com momentos de alegria e momentos de apreensão, momentos de entusiasmo e momentos de insegurança, momentos de felicidade e momentos de tristeza. Isso não significa ausência de paz e de prazer. E muito menos que o viver consista em permanente conflito. São apenas possibilidades e atitudes que necessitam de uma certa vigilância para que os sentimentos e os raciocínios sejam direcionados a um objetivo confiável.

As dúvidas e as incertezas são permanentes companheiras em nosso viver. Podem assustar a quem não possua uma fé sólida. E podem tranquilizar a quem tenha em sua mente projetos claros e definidos. Então, sua função será apenas demarcar limites e possibilidades no caminho, ajudando a discernir a melhor maneira de prosseguir por ele.

Todos lutamos pela vida. Creio em sã consciência que ninguém esteja lutando em favor da morte. Sempre em favor de valores, em favor de projetos e de sonhos que garantam uma vida vitoriosa. Mesmo vendo-se acometido de alguma doença, de alguma fraqueza que limite sua liberdade de ação, mesmo assim continuará acreditando e lutando para conseguir uma vida mais confortável e mais aprazível possível.

O Mestre dos mestres vê em todo o ser humano um desejo profundo, e até angustiante, de poder ouvir, de poder falar, de poder ver com clareza o caminho a seguir. Quer ensinar que, para poder falar com segurança, é preciso, primeiro, aprender a ouvir. 

Quando lhe apresentam um homem portador de deficiência auditiva, chama esse homem a um lugar à parte e para se afastar da multidão, a fim de evitar que o vejam como um mágico, ou milagreiro. Toca nos ouvidos e os abre para ouvir o que precisava ouvir. Mostra que, antes de querer falar algo, será preciso estar com os ouvidos atentos para ouvir bem.

A sabedoria do Mestre pode até perturbar o sossego de muitas mentes humanas. Essas mentes que andam reclamando maiores esclarecimentos e mais corajosas atitudes deveriam também assumir responsabilidades mais humanas, auxiliando a quem se encontra ainda hoje à margem da vida, com marcas de ignorância e de surdez perante as verdades da fé e da religião.

Existem muitos ouvidos fechados para a verdade. Existem muitos corações fechados ao amor. Existem muitas mentes fechadas ao perdão. É preciso abrir. É preciso reconhecer e assumir as possibilidades de transformar esse mundo surdo aos apelos de justiça, de dignidade, de humildade e de transparência num mundo de solidariedade e de partilha fraterna.

É preciso abrir os ouvidos e o coração para escutar atentamente o que Deus nos fala a cada dia e em cada fato, para não permanecermos indiferentes a seus apelos pela paz e pelo bem.

Editorial

O leito que falta: um problema de todos

O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos

17/05/2025 07h15

Arquivo

Continue Lendo...

É triste constatar que, em pleno 2025, Mato Grosso do Sul ainda não apresenta projetos consistentes para enfrentar a crescente escassez de leitos hospitalares na rede pública. Mais preocupante do que a ausência de iniciativas é a aparente indiferença de parte dos gestores públicos diante de um problema que, cedo ou tarde, afetará diretamente toda a população, inclusive quem hoje acredita estar protegido por planos de saúde privados.

A raiz da crise é complexa, mas há fatores evidentes e evitáveis. A baixa capacidade de investimento dos entes públicos tem um papel central, sem dúvida, mas não se pode ignorar o impacto desastroso da forma como são utilizadas as emendas parlamentares no orçamento da União. A lógica paroquial, que transforma recursos públicos em moedas de troca para atender interesses eleitorais locais, é corrosiva. Em vez de investimentos estruturantes na saúde, como a abertura de novos leitos hospitalares, o dinheiro é pulverizado em pequenas obras, compra de tratores ou projetos sem descrição clara. Atende-se a poucos, e mal.

Essa fragmentação do Orçamento revela uma distorção grave na nossa democracia representativa: a prioridade deixou de ser o bem público e passou a ser a manutenção de currais eleitorais. Enquanto isso, problemas estruturais se acumulam, sem resposta adequada. A saúde pública sente esse impacto de maneira particularmente dura. A cada novo surto, crise sanitária ou aumento de demanda, o sistema entra em colapso – não por falta de profissionais ou de capacidade técnica, mas por pura ausência de leitos disponíveis.

Campo Grande, a capital do Estado, é um retrato fiel dessa negligência. A reportagem que segue nesta edição revela o que aqueles que dependem do SUS já sabem de cor: há filas para internações, pacientes aguardando vagas em prontos-socorros superlotados e famílias angustiadas com a falta de uma estrutura minimamente adequada. E o pior: mesmo em um cenário tão crítico, as autoridades parecem pouco mobilizadas para reverter a situação.

A lógica do clientelismo que se impôs sobre a política brasileira cobra seu preço. Em vez de técnicos capacitados e compromissados com o planejamento de longo prazo, temos apadrinhados políticos ocupando cargos estratégicos. Em vez de projetos estruturantes, temos soluções paliativas – quando muito. Em vez de visão de Estado, temos cálculos eleitorais. O resultado é a perpetuação de problemas como a falta de leitos hospitalares, que compromete a vida e a dignidade de milhares de cidadãos.

É urgente que o debate sobre emendas parlamentares ganhe centralidade no debate público. O Brasil precisa rever profundamente a forma como distribui e fiscaliza o uso desses recursos. Não se trata de eliminar o instrumento, mas de transformá-lo em ferramenta de desenvolvimento real e equitativo. A saúde deve ser prioridade, e isso precisa estar refletido em cada decisão orçamentária.

É uma pena que, enquanto isso não acontece, o cidadão comum continue enfrentando corredores lotados, espera indefinida e sofrimento evitável. O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos.

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Hierarquia em postos de trabalho: lutas e dilemas

16/05/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

As responsabilidades dos postos de trabalho são diversas e complexas e respondem a uma hierarquia estrutural das empresas. Recentemente, fiz mais uma entrevista em uma organização para uma vaga disponível e, mais uma vez, ofereceram-me uma colocação que não tinha nada a ver com a minha formação e experiência profissional. Era um posto de assistente administrativo, para atender, no balcão, as pessoas que necessitam de encaminhamento e orientação. Sendo psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicoterapia de Orientação Analítica, encerrando mais uma em transtorno do espectro autista (TEA), e professora de Libras, me assustei com a completa invisibilidade do meu currículo para a empresa.

Para revidar esta proposta, perguntei à pessoa que estava me entrevistando se não havia uma vaga para a área de Psicologia. Percebi que o que eu estava perguntando era irreal para a empresa, porque este posto não é, em geral, ofertado para pessoas com deficiência (PCDs). Ainda que eu sonhe com esse posto, o mercado de trabalho não reserva esse espaço para mim. Existe somente uma compreensão: as organizações só empregam PCDs em razão da Lei de Cotas, artigo 93 da Lei nº 8.213/91, porém, não garantem a inclusão nem minimizam as discriminações.

Ter algum tipo de deficiência não pode anular a capacidade e as habilidades dos profissionais. Como podemos mostrar isso para a sociedade? Como podemos nos empoderar para enfrentarmos essas barreiras?

As dificuldades e os empecilhos da aceitação social da diversidade são marcas que vieram com a escravidão portuguesa, com as propagandas de governos sobre o branqueamento da população e com o apagamento de classes desfavorecidas. Os preconceitos se multiplicaram durante mais de dois séculos, e nos encontramos diante de uma batalha de titãs. Não podemos esmorecer. Temos de nos fortalecer por meio de cursos de formação, da divulgação de textos, de fazer com que as leis sejam cumpridas, criando associações, grupos de trabalho, grupos de estudos, entre outras atividades que possam nos legitimar como grupo social.

Podemos criar projetos e planos de carreira para desmantelar essa cultura empresarial de rejeitar a troca de saberes e conhecimentos na hierarquia dos postos de trabalho. Precisamos também garantir nosso lugar, para que possamos nos desenvolver e conseguir crescer junto com os demais funcionários. Não falo sozinha, pois, sempre que discuto com meus colegas nas redes sociais, vejo que eles e elas também se manifestam nesse sentido de não lhes darem oportunidade de avançar em suas carreiras profissionais.

Apesar de estarmos tão avançados nos meios de comunicação e nas tecnologias da informação, parece que os preconceitos não caminham paralelamente. Pelo contrário, parece que se acentuam. Ainda que aceitemos os tratamentos indevidos pelas empresas, precisamos combater as indiferenças, as humilhações e as dificuldades de relacionamento para alcançarmos vagas de trabalho condizentes com nossa formação e experiência profissional.

Menciono aqui as pessoas com autismo, que podem e devem trabalhar, pois sofrem de uma condição que não pode ser vista como uma deficiência. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento do indivíduo que interfere na capacidade de interação social, linguagem, comunicação e comportamento e que pode ser tratado por meio de terapias.

Atualmente, temos muitos diagnósticos de TEA tardios, pois o transtorno inclui uma variedade de características, mas, com acompanhamento especializado, são pessoas e profissionais capacitados para estudar e trabalhar.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).