Em texto anterior, afirmamos que confesso que não me agradam as expressões populares: “não vá o sapateiro além do sapato”, “cada macaco no seu galho”. Isso porque, ao nosso ver, sugerem a incapacidade de o homem avançar, progredir, sair da sua ilha, refletir sobre outras áreas do conhecimento. “Existo, logo penso” (Nietzsche), o que reforça o ensinamento de Saramago: “sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós”.
Não obstante, sob o aspecto pragmático, vejo com preocupação o surgimento de nomes de determinadas autoridades como solução, sobretudo para os executivos estadual e federal em relação às eleições de 2018. A propósito, estão citando nos últimos dias os nomes de Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e Odilon de Oliveira como alternativas para superar o momento caótico da crise política por que passa o País. Aqueles para a Presidência da República e, este último, para o governo do Estado de Mato Grosso do Sul.
A lembrança dos nomes acima deve-se à excelência dos seus serviços como magistrados. Apenas como resgate, Joaquim Barbosa destacou-se como ministro relator à frente do caso conhecido como Mensalão, cujas condenações só se verificaram graças à metodologia que implantou e à sua implacável dedicação. Sem qualquer exagero, sua atuação significou um marco divisor de águas no cenário penal, em especial em relação à impunidade no campo do crime do “colarinho branco”.
Odilon de Oliveira, como juiz federal, conquistou um elevado grau de credibilidade graças à sua competência e firme atuação à frente do crime organizado, sobretudo do tráfico de drogas ilícitas. Sérgio Moro, igualmente como magistrado federal, tornou-se um expoente respeitadíssimo e admirado em face da sua profícua atuação em desfavor do crime organizado, fazendo frente aos poderosos, revelada na Operação Lava Jato, também denominada Petrolão.
É inquestionável que se trata de excelentes técnicos, mas não são políticos. O vácuo existente entre o técnico e o político é enorme. Político é político e técnico é técnico. Seria ótimo se pudéssemos juntar em uma só pessoa esses dois atributos. Mas isso é difícil, porque as premissas lógicas são diversas. O técnico trabalha com a lógica racional, enquanto a lógica do político é outra. Não chegaria ao ponto de afirmar que a lógica da política é a falta de lógica, mas também não ousaria contestar essa conclusão e tão pouco deixaria de compreender essa lógica e, até certo ponto, de aceitá-la.
O jargão “é dando que se recebe” ou o “ toma lá, dá cá”, para o técnico e até mesmo para grande parte da sociedade é inaceitável, enquanto na política, desde que respeitados os parâmetros do mínimo ético, é compreensível. A governabilidade depende de acertos políticos, sobretudo com partidos políticos, até mesmo com agremiações partidárias que, por ocasião da eleição, foram adversários. O que, sob a ótica política, ou da lógica política, não é nenhum pecado capital o fornecimento de cargos em troca de apoio partidário, desde que seja para aprovar projetos de interesse da nação. O que reforça a ideia de que política é para político.
Não por acaso a conclusão de que se exige do político um perfil próprio, isto é, de liderança. O êxito do seu projeto político depende da sua capacidade de convencimento, articulação e negociação, muitas vezes, com adversários e até mesmo com sua própria base, em que prevalece a ideia do custo-benefício.
É bem provável que a menção aos nomes apontados se deve à carência de lideranças políticas. Sente-se falta no cenário político brasileiro dos “Marios Covas”, “Tancredos Neves”, “Ulisses Guimarães”, entre outros.
Não é nenhum devaneio afirmar-se que a pesquisa de intenção de votos (Folha de S. Paulo, Poder, 26/6), colocando Lula e Bolsonaro como os preferidos pelos entrevistados para a próxima eleição para a Presidência da República, no próximo pleito, revela, com clareza, a falta de lideranças à altura para o exercício de chefe da nação.
Enfim, espera-se que surjam lideranças políticas à altura.