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José Pio Martins: "A excelência é exceção"

Economista

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Em conversa com dois amigos, levantei uma das questões que me intrigam: por que o Brasil continua tão pobre e atrasado? Minha indignação com a pobreza brasileira vem de alguns fatores. Primeiro, o país tem recursos naturais abundantes. Segundo, a população brasileira é formada por pessoas de origens diversas, entre elas imigrantes e descendentes vindos de praticamente todos os países desenvolvidos e de várias culturas, portanto, com facilidade para importar tecnologias, costumes e habilidades. Terceiro, o país não tem resistência cultural na absorção do que o mundo inventa. Quarto, o sistema econômico (capitalista), o regime político (democrático) e a Constituição Federal são a favor da abertura ao comércio exterior e à inserção internacional.

Apesar desses atributos, de um total de 193 países (número oficial da Organização das Nações Unidas – ONU), o Brasil tem renda por habitante de US$ 10.869/ano e ocupa a posição de número 64. Ou seja, há 63 países com renda pessoal anual média superior à do Brasil, muitos deles pobres de recursos naturais, como é o caso do Japão, mas que mesmo assim conseguiram a riqueza econômica. Convém lembrar que esses números e posições mudam constantemente, e os dados dependem da data em que a comparação é feita.

O número de países considerados desenvolvidos não passa de 30. Isso significa que há países pobres em posição melhor que a brasileira em termos de renda por habitante. Daí se pode tirar outra pergunta: por que há tão poucas nações desenvolvidas em relação ao total de 193 países? No decorrer da conversa, uma amiga disse: “A excelência é a exceção; se não em tudo, em quase tudo”. Na música, no esporte, na literatura, nas artes e na ciência, a alta excelência é a exceção.

Fiquei pensando sobre o assunto. Quantos tenores há no nível de um Luciano Pavarotti? Pouquíssimos. Quantos futebolistas houve ou há no padrão de Pelé, Messi, Maradona? Praticamente, somente esses três mesmos. Mas, baixando um pouco a régua, quantos houve no padrão de Zidane, Rivellino, Ronaldo? Pouquíssimos. E tenistas no nível de Rafael Nadal, Andre Agassi e Pete Sampras? Raríssimos, quase ninguém. E na literatura? Na pintura? A mesma coisa. Realmente, parece que a excelência é exceção.

Claro, essa lista é aleatória, sem pretensão científica. Mas o fato é que dá para afirmar que a excelência em alto nível é a exceção. E aí me vem outra questão: se o destino do mundo é ser assim, então o Brasil não chegará tão cedo – se é que um dia chegará – à condição de qualquer dos 30 países desenvolvidos. Se bem que, para ter bom padrão de vida para todos, bastaria ir até próximo dos US$ 26 mil/ano de renda por habitante, desde que a desigualdade fosse reduzida. O Brasil tem amplas condições materiais e humanas para chegar a esse nível de renda e só não consegue por causa de nossos próprios defeitos políticos, econômicos e culturais.

O ministro Paulo Guedes vem dizendo que todos os governos nos últimos 50 anos cometeram o mesmo equívoco: política fiscal desastrosa, com déficits crônicos e explosão da dívida pública, e não perceberam que o país caminhava celeremente para a atrofia do setor estatal. Isso ocorreu nos 5.570 municípios, 26 estados, Distrito Federal e União federal. Política fiscal deficitária e dívida governamental gigantesca provocam sempre elevação de juros e aumento de tributos, fazendo o país ser um paraíso para quem vive de juros, ao tempo em que inibe o espírito de iniciativa, sufoca o empreendedorismo e desestimula os negócios.

Mesmo com uma carga tributária efetivamente arrecadada na faixa dos 34% do PIB, a atrofia do setor estatal, a ineficiência e a corrupção levaram a déficits que, acumulados, construíram uma dívida pública bruta perto de 80% do PIB. Vale mencionar que esses 34% ingressados nos cofres públicos ocorreram mesmo com inadimplência, sonegação, renúncias fiscais e economia informal. Ou seja, em matéria de construir o monstro, todos os partidos que estiveram no poder cometeram os mesmos erros. Outro amigo pessimista costuma dizer: nenhuma pessoa que está viva hoje verá o Brasil desenvolvido e sem pobreza. Se ele estiver certo, a esperança tem de ser transferida para o século 22.

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O papel da IA no bem-estar moderno

21/03/2025 07h45

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Os últimos anos foram marcados por transformações em várias esferas da sociedade, e um dos conceitos que mais mudou e ganhou novos significados foi o de bem-estar. Se antes ele era relacionado principalmente com a saúde mental e física, hoje em dia já abrange diversos outros fatores, como qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança e experiências personalizadas.

Esse cenário levou ao crescimento da economia do bem-estar, que, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI), alcançou US$ 6,3 trilhões em 2023, montante 25% maior do que o valor avaliado em 2019 (US$ 4,9 trilhões). Para 2028, a expectativa é que o setor chegue a US$ 8,9 trilhões, o que reforça como essa pauta já é uma forte tendência.

Porém, vale destacar que os avanços nesse mercado foram possíveis, entre outros fatores, por conta da evolução da tecnologia, que ampliou o acesso a soluções inovadoras, otimizou processos e possibilitou a personalização do bem-estar de acordo com as necessidades individuais. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental, contribuindo ainda mais para que o bem-estar seja mais acessível e flexível.

Temos diversos exemplos que comprovam como as soluções inovadoras trazidas pela popularização da IA impactam diretamente o autocuidado e a forma como interagimos com o mundo: no setor da saúde, startups brasileiras como a Pipo Saúde utilizam a tecnologia para oferecer suporte a diagnósticos e otimizar o atendimento médico, permitindo que milhões de pessoas tenham acesso a serviços de saúde de forma mais eficiente. O bem-estar emocional também foi impulsionado com soluções como a da Vittude, uma plataforma que conecta pacientes a psicólogos por meio de IA, democratizando o acesso a cuidados mentais.

No que diz respeito ao bem-estar corporativo, ferramentas desenvolvidas por empresas como a Gupy ajudam organizações a monitorar o nível de satisfação dos funcionários e sugerem ações para melhorar o ambiente de trabalho, reduzindo o estresse e, consequentemente, aumentando a produtividade.

Outro exemplo do impacto positivo da IA no bem-estar moderno está na personalização do entretenimento, com plataformas como Spotify e Netflix, que usam IA para sugerir conteúdos que correspondem aos interesses do usuário, e do aprendizado, com ferramentas como o Duolingo, que usam IA para personalizar o ensino, tornando essa jornada mais eficaz e menos desgastante para os estudantes.

Acredito que essa tendência de sofisticação das tecnologias baseadas em IA vai tornar a busca pelo bem-estar completo ainda mais fácil. Desde aplicativos que monitoram padrões de sono e alimentação a assistentes virtuais que ajudam a gerenciar tarefas cotidianas, é fato que a tecnologia seguirá transformando a forma como cuidamos do nosso corpo, mente e relações.

Porém, não podemos esquecer que o segredo para o uso eficaz da IA nesse contexto inclui necessariamente o desenvolvimento ético dessas tecnologias, para que sejam seguras, inclusivas e realmente focadas no bem-estar humano.

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Financiamento rural e a reforma tributária

21/03/2025 07h15

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Os Fiagros são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Criados em 2021, são ativos de investimento do agronegócio, seja de natureza imobiliária rural, seja de atividades relacionadas ao setor. O Fiagro acabou se tornando uma fonte alternativa de financiamento para o produtor rural, de modo a não depender exclusivamente dos bancos e do Plano Safra.

Entretanto, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a reforma tributária, mas vetou trechos que previam a isenção de tributos para os Fiagros e para os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Esses trechos isentariam tais fundos da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A justificativa do governo para o veto foi a ausência de autorização constitucional para que esses fundos não fossem considerados contribuintes do IBS e da CBS. Isso pode impactar diretamente o crédito para os produtores rurais. É uma insensatez e ilógico o que o presidente fez.

Os Fiagros são fundos em que as pessoas podem investir e que funcionam como fontes de financiamento para o agronegócio. No mundo inteiro, os fundos já são mais representativos do que os bancos. Esse tipo de fundo tem crescido bastante, pois permite também que investidores urbanos participem do setor agroindustrial, aproveitando o potencial do agronegócio brasileiro.

O Brasil conta com cinco grandes bancos e cooperativas de crédito, além de seis linhas de crédito disponíveis para o agronegócio. Há também o Plano Safra, que atende apenas uma pequena parte da produção. Dessa forma, os agricultores ficam nas mãos desses bancos e frequentemente enfrentam desafios para a concessão de crédito, tornando-se dependentes das instituições financeiras, que impõem taxas, garantias e burocracias muitas vezes incompatíveis com a realidade do setor.

Prova maior da importância de financiamentos alternativos é a notícia da suspensão do Plano Safra. O Tesouro Nacional decidiu suspender novas contratações dessas linhas de financiamento 2024-2025. A medida vale a partir de 21 de fevereiro. O governo, sempre correndo para remediar em vez de prevenir, editou a MP nº 1.289/2025, liberando 4,17 bilhões para conter a pressão do segmento. Ainda assim, é insuficiente para o que o setor demanda de fomento. 

Os fundos representam um novo universo, uma nova possibilidade de financiamento com juros menores, pois, muitas vezes, esse capital vem do exterior. Os investidores estrangeiros não estão acostumados com os juros elevados do Brasil e, portanto, taxas mais baixas já são atrativas para eles. O Fiagro é exatamente isso: uma fonte de financiamento. Além de financiar o campo, atualmente beneficia cerca de 600 mil investidores.

No momento, o Fiagro só paga imposto se houver mais de 100 cotistas no fundo, não sendo tributado pelo Imposto de Renda. Caso tenha menos de 100 cotistas, há a incidência de 15% de Imposto de Renda, cobrado apenas no momento do resgate do resultado pelo cotista. Além disso, o Fundo não paga PIS, Cofins ou ISS. Contudo, com esse veto presidencial, os Fiagros passarão a pagar os tributos previstos na reforma tributária, especificamente o IBS e a CBS. Isso significa uma alíquota de até 28,5%, o que inviabilizará completamente esses fundos.

É importante lembrar que a logística no Brasil é muito cara, os produtores gastam muito com transporte, e os custos trabalhistas e tributários são elevados. Agora, o governo tenta transferir mais essa responsabilidade para o produtor. Vale ressaltar, mais uma vez, que quanto mais difícil for a vida do produtor, mais difícil será a vida do consumidor, que verá o impacto nos preços dos produtos agropecuários nas prateleiras dos supermercados.

A nossa expectativa é que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifeste firmemente sua discordância com o veto e atue no Congresso para derrubá-lo. A tributação desses fundos compromete a competitividade do setor, aumenta os custos para os produtores, reduz a oferta de crédito no agronegócio e, por consequência, eleva os preços dos alimentos para o consumidor final.

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