Artigos e Opinião

CRÔNICA

Leia crônica de Raquel Naveira: "Floresta encantada"

Leia crônica de Raquel Naveira: "Floresta encantada"

Redação

06/06/2017 - 07h48
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Entrei numa floresta encantada pelas mãos da artista plástica gaúcha, Ana Ruas, radicada há vinte anos em Mato Grosso do Sul. Ela criou um painel imenso, exposto em uma das salas de exposições do Museu de Arte Contemporânea, o Marco.

Crianças pintaram na parte baixa e ela, com um andaime, concluiu a obra. O resultado é comovente. Uma profusão de cores; traços; troncos; folhas, talvez de salgueiros, palmeiras, leitosos sicômoros; fios de fontes jorrantes; amplas manchas e buracos de sombras; raízes e cipós que se cruzam, múltiplos e secretos. É o retrato de uma poderosa manifestação de vida, dos caminhos ora claros, ora escuros, de nosso inconsciente. 

No ateliê, as crianças conversaram com a artista que lhes perguntou o que era preciso ter na floresta para ela se tornar encantada. As respostas foram surpreendentes e poéticas: tem que ter bichos, borboletas, pássaros, fadas, gnomos, magia e aventuras. Árvores grandes, que brilham entre vagalumes.

Flores pequeninas e cheias de pólen. Príncipes, sapos e feitiços. Paz e imensidão. Tinta escorrendo por toda parte e até, pasmem o neologismo, alguns “cachorroscórnios”. A floresta encantada é mesmo um lugar bom para brincar de boneca, preparar um piquenique, escrever poesia e meditar nas clareiras.

Sentei-me no banco admirando a tela, sorrindo ao ler as frases infantis, tão espontâneas, e, súbito, penetrei na floresta, no meio da cabeleira de folhas. Abraço uma árvores cuja copa toca o céu. É um carvalho. Daqueles que o trovão e a tempestade não dobram.

Recolho as bolotas espalhadas pelo chão. Esta árvore é ponto central do mundo, mas há serpentes maléficas atacando suas raízes, eu sei, pressinto. Frutos fatais, sementes venenosas. Cardos espinhentos. A floresta e seus terrores. As mandíbulas devoradoras. Angústia e opressão me dominam. Saio do transe quando uma mulher entra na sala com passos fortes. 

Tento retomar então a ideia de serenidade, de simpatia em relação à floresta. Convencer-me de que aqueles ramos de acácia vermelha significam alegria. Que aqueles juncos têm flexibilidade e sons de flautas. Que há perfumes de jasmim, lírio e terra molhada espargidos nos ares. Respiro fundo nesse gozo, nesse êxtase de arrebatamento.

Afinal, sou eterna menina apaixonada pelos contos de fadas, esses livros   que os séculos não destroem, redescobertos a cada geração. Não são apenas fantasias, são portas abertas para verdades humanas ocultas. Anseios profundos da alma.

Na floresta encantada tudo vibra e tem voz: os animais, as plantas, o sol, a lua, as estrelas, a água, tudo é regido por uma força única e superior de harmonia. Na floresta encantada, eu gostaria de me perder, de me encontrar e de viver para sempre.

Que prazer espiritual me proporcionou apreciar sua Floresta Encantada, Ana Ruas.

ARTIGOS

O poder e as narrativas

04/01/2025 07h45

Arquivo

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Anos atrás escrevi um pequeno livro intitulado “Uma Breve Teoria do Poder”. Hoje está na quarta edição, veiculado pela Editora Resistência Cultural, que se notabilizou pela primorosa apresentação gráfica de suas edições. As edições anteriores foram prefaciadas por dois saudosos amigos: Ney Prado, confrade e ex-presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, e Antonio Paim, confrade da Academia Brasileira de Filosofia. A atual tem como prefaciador o ex-presidente da República e confrade da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Michel Temer.

Chamo-a de “Breve Teoria” por dedicar-me mais à figura do detentor do poder, muito embora mencione as diversas correntes filosóficas que analisaram a ânsia de governar, através da história.

Chamar um estudo de breve é comum. Já é mais complicado chamar uma teoria de breve. As teorias ou são teorias ou não são. Nenhuma teoria é breve ou longa, mas apenas teoria. Ocorre que, como me dediquei fundamentalmente à figura do detentor do poder, e não a todos os aspectos do poder, decidi, contra a lógica, chamá-la de “Breve Teoria”.

Desenvolvi no opúsculo a “Teoria da Sobrevivência”. Quem almeja o poder, luta, por todos os meios, para consegui-lo e, como a história demonstra, quase sempre sem ética e sem escrúpulos. Não sem razão, Lord Acton dizia, no século 19, que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Ocorre que, no momento que o poder é alcançado, quem o detém luta para mantê-lo por meio da construção de narrativas, cada vez tornando-se menos ético e mais engenhoso, até ser afastado. As narrativas são sempre de mais fácil construção nas ditaduras, mas são comuns nas democracias e tendem a crescer quando elas começam a morrer.

A característica maior da narrativa é transformar uma mentira em uma verdade e torná-la para o povo um fato inconteste, ora valorizando fatos irrelevantes, ora, com criatividade, forjando fatos como, aliás, Hitler conseguiu com a juventude alemã com a célebre frase: “O amanhã pertence a nós”.

Nas democracias, a luta pelo poder é mais controlada, pois as oposições desfazem narrativas e os Poderes Judiciários neutros permitem que correções de rumo ocorram. Mesmo assim, as campanhas para conquistar o poder são destinadas não a debater ideias, mas literalmente destruir os adversários. Quando Levitsky e Ziblatti escreveram “Como as Democracias Morrem”, embora com um viés nitidamente a favor do partido democrata, desventraram que as mais estáveis democracias do mundo também correm risco.

O certo é que, através da história, os que lutam pelo poder e os que querem mantê-lo, à luz da teoria da sobrevivência, necessitam de narrativas, e não da verdade dos fatos, manipulando-as à sua maneira e semelhança, com interpretações “pro domo sua” das leis, reescrevendo-as e impondo-as, quanto mais força tem sobre os órgãos públicos, mesmo nas democracias, e reduzindo a única arma válida em uma democracia, que é a palavra, a sua expressão menor, quando não a suprimindo.

É que, infelizmente, há uma escassez monumental de estadistas no mundo e um espantoso excesso de políticos cujo único objetivo é ter o poder e, quando atingem seu objetivo, terminam servindo-se mais do que servindo ao povo, pois servir ao povo é apenas um efeito colateral, e não obrigatoriamente necessário.

Os ciclos históricos demonstram, todavia, que, quando, pela teoria da sobrevivência, os limites do razoável são superados, as reações fazem-se notar, não havendo “sobrevivência permanente no poder”. As verdades, no tempo, aparecem, e, perante a história, as narrativas desaparecem e surge “a realidade nua dos fatos”.

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ARTIGOS

Caminhos da vida

04/01/2025 07h15

Arquivo

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Novo ano. Novos caminhos. Novos sonhos. Novas esperanças. Com certeza serão muitas as pessoas olhando pela porta desse novo ano com uma maneira nova de olhar. Estarão mais cautelosas ao planejar e ao decidir em seus negócios e em seus projetos.

Esperemos que as lições do ano que findou sirvam de ponto de referência para os novos projetos, até mesmo para os caminhos dos sentimentos do coração e das forças da fé. Pois tudo o que acontecer será para o crescimento dos relacionamentos e das partilhas dos bens e da comunhão de vidas.

Esses sentimentos e essas atitudes serão sempre motivos no crescimento pessoal e comunitário das obras e das opções pela vida e pela fé. A palavra deus será a luz para quem se encontra na busca e será alimento seguro para quem se puser a caminho da felicidade. Mostra que, enquanto houver sonhos, haverá esperança. 

Assim acontecerá ao chegar até nós a palavra do escritor sagrado. Assim será a maneira de Deus se revelar ao mundo. Os seres humanos têm sua maneira. Deus também tem seus momentos e suas maneiras. Não haverá comparação. Haverá isso sempre, maneiras próprias e muito pessoais quando fala aos seres humanos.

Assim ele se revela em uma de suas cartas (Ef. 4, 30-45): “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus. Toda a amargura, toda a irritação sejam desterradas do meio de vocês. Afeiçoem-se do bem e do amor. Sempre que houver razões de queixa de uns pelos outros, perdoem-se, assim como Deus sempre perdoa. Vivam na concórdia e na harmonia”.

E o autor sagrado continua dizendo: “Evitem o mal. Amem o bem. Principalmente eliminem entre vocês toda a discórdia e todas as ofensas. Edifiquem a misericórdia e o perdão. Progridam na caridade a exemplo de Jesus Cristo que em tudo nos amou e sempre se entregou como oferta sagrada e perfeita”.

O exemplo permanece e permanecerá sempre vivo e edificante. Nada guardou para si. Tudo sacrificou por amor e pelo resgate de tantos prisioneiros da maldade desse mundo. Em tudo deixou sua marca de doador do bem e da graça. E tudo na gratuidade.

As portas do novo ano estão se abrindo em nossa frente. A esperança de dias melhores, não apenas diferentes, deverá alimentar a esperança, o bem, marcar o pensar e o agir de cada ser humano. E que em tudo possa se orgulhar de ter o rumo correto em seu viver e em seu agir iluminado pela fé em Deus.

Entramos no caminho do otimismo. Nele, não haverá espaço para os pessimistas. Não haverá também para os medrosos, os inseguros e para os descrentes. Não haverá lugar ainda aos vingativos e para quem guarda mágoas ou invejas. Para esses, permanecerá um vazio do tamanho de sua fragilidade em acreditar.

É preciso acreditar no Deus misericórdia, no Deus bondade e no Deus generosidade. É preciso acreditar no Deus que acredita em todos. Mesmo os que não creem nele. Ele os ama e neles confia pelo simples motivo de ter um coração bom e uma alma generosa.

Ano novo. Alma renovada. Espírito novo. Sentimentos renovados. Em tudo manter a pureza no ser, o correto no agir. E Deus nos abençoe.

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