Na atividade agropecuária não sustentável de baixa produtividade devido ao baixo custo é pratica comum a queimada dita controlada na “preparação” do solo. No caso do cerrado, os incêndios podem ocorrer de causas naturais agindo nesse tipo de vegetação cuja característica é de enfrentamento ao fogo e de recuperação imediata, assujeitadas às intempéries assim como as temperaturas altas, baixa umidade relativa, tempo seco, combustão espontânea, descargas elétricas e outros fenômenos resultantes de atritos.
Na vegetação amazônica ou floresta húmida os incêndios não ocorrem naturalmente, mas pela intervenção humana, onde se iniciam após a derrubada de árvores e desmatamentos, levando a destruição lenta, persistente, e de recuperação demorada, finalizando com a morte pela queimada inicialmente das árvores de casca fina até atingir seu cerne, diferentemente das que compõem a diversidade do bioma do cerrado das cascas grosas, resistentes à ação do fogo, aliando a quebra das sementes.
Todavia para desviar a atenção da gravidade das queimadas ilegais e, portanto criminosas, uma vez que grandes árvores armazenam quantidades de carbono e na queima as liberam para atmosfera acelerando as mudanças climáticas (imaginemos áreas correspondente a 16 campos de futebol), as autoridades, colaboradores, sabichões e aduladores se arvoraram em afirmar que tais incêndios, seriam comuns, normais e naturais na região amazônica, ao justificar o desmonte das políticas ambientais até então bem sucedidas e ao permitir ações “liberalizantes e desregulamentatórias” sob a égide do desenvolvimento econômico da região, e a falsa afirmativa de uma soberania ufanista.
Onde há fumaça há fogo! As cinzas nocivas resultante dos fenômenos físico-químicos desde o aumento da temperatura, os gases expelidos, a alteração da matéria à formação de outras substancias e a irreversibilidade ao estado inicial, respectivamente, são uma constante na história em busca do progresso e de uma economia não sustentável, atualmente preocupantes quanto ao futuro do planeta, talvez insignificantes frente à barbárie civilizatória, das guerras, do terrorismo, da fome, dos deslocamentos migratórios, das ofensas, discriminação, intolerância religiosa, que marcam os momentos atuais da radicalização.
Essas são as cinzas mais escuras que entre nós se caracterizam à semelhança do mundo materialmente desenvolvido embora eticamente comprometido com inúmeras causas sociais, traduzidas pela polarização ideológica, exercício hegemônico, privilegiando ofensas, enaltecendo ideários fascistas, revisitando o próprio “Elogio a Loucura” (E. Rotterdam) com a visão distorcida da ciência a partir dos “filósofos terraplanistas” (?), e com cenas do “Teatro do Absurdo” (M. Esslim), sobre um drama existencialista que se refere a solidão e a incomunicabilidade do homem apesar do advento dos avanços das relações sociais na web que no fundo distingue a individualidade.
Nosso cenário governamental pantomímico é o pano de fundo para toda sorte de disparates, que caracterizam as cinzas mais escuras, como a negação da ciência sobre o evidente que aquecimento global e a afirmação que questões ambientais dizem respeito apenas aos “veganos” ou que o nazismo era de esquerda (delírios); ao se falar inadequada e jocosamente sobre “cocô de índios” capazes de impedir licenciamentos governamentais ou solucionar problemas de poluição sugerindo frequências e intermitência de evacuação diária da população, dizeres que demonstram fases de regressão infantil como forma de enfrentar situações conflituosas para chamar atenção (desatinos); confundir Dinamarca com Noruega ao negar dados oficiais sobre desmatamento e se justificar apresentando índices produzidos nos governos anteriores ou enaltecer a todo o momento figuras desprezíveis de torturadores (asnices); indicação despreparada para representação do país no exterior ou emitir opiniões sobre estudantes qualificando-os como idiotas úteis (tagarelices); ofender dignatários de países dos quais dependemos das relações econômicas e estratégicas se contrapondo a política da boa vizinhança reconhecida ou ameaçar a imprensa colocando em risco a liberdade de expressão (arrogância).
As queimadas morais éticas (as cinzas mais escuras) são mais graves que as físicas por não sabermos até quando estaremos sujeitos ao rescaldo das loucuras latentes!