A Beatriz de cinco anos contou que foi surpreendida por um “spoiler” “trolando” – um colega de colégio que contou o destino reservado aos Vingadores ao relatar as cenas inéditas do filme.
Disse que lhe deu um passa-fora pela intenção de estragar a história surpresa ou a expectativa gerada pelo lançamento do momento nos cinemas.
Pra mim, o termo incomum de origem inglesa mereceu uma busca na web, definido num sentido diferente e de tradução inusitada como “espoliador”: aquele que pratica a ação de privar alguém de alguma coisa que lhe pertence ou se julga no direito por meio de fraude, violência ou força. O verbo TO SPOIL seria a origem do termo: estragar, desmanchar, destruir.
Caracteriza-se como bullying inocente e universal que cotidianamente nos submete essa “era dos spoilers”, dos desmancha-prazeres – agora dos usurpadores e dos destruidores, não só brincando, mas com sentimentos negativos, como raiva, ódio, ciúme, inveja e desprezo.
O outro termo dito e empregado na web – na vida real, extensivo e exclusivo aos jovens – é importado das conversas nas redes sociais, em que um integrante (TROLL) se intromete apenas para provocar desavenças nas discussões de fóruns, argumentando seriamente embora fora do contexto, criando temas paralelos ou de forma jocosa, esvaziando e depreciando o consenso. É o retrato de um indivíduo que se presta a enganar (trolar), fazer piadas, pegadinhas ou simplesmente alimentar seu ego sendo desprezível ao interferir no alheio.
Confesso que essa modernidade não me toca, continuo conceituando um de “chato” e o outro de “sacana”; um inconveniente e outro, cafajeste. Trazendo para o nosso trivial, também tenho dúvidas em enquadrar certas situações nas categorias dos Spoilers e dos Trolls enumerando fatos, elocuções, eventos ou ocorrências para que possamos nos exercitar com os vocábulos, já que um trata de adiantar fatos surpreendentes e ao outro, o que importa é trolar, com fakes ou indícios reais, desde que, no fim, tenha obtido seu intento de fazer uma pegadinha inocente ou em prejuízo de alguém.
Aí eu me pergunto: seriam as revelações do site The Intercept divulgadas na mídia – uma forma de contar à sociedade conversas ditas reprováveis e, portanto, ilegais entre o julgador e acusadores ao meio de processos condenatórios da Lava Jato – um exemplo de spoiler, ou seja, a maneira de antecipar (embora em doses homeopáticas) fatos adventícios que resultaram em condenações seletivas, já antevendo um fim para as estórias e o mérito (o cerne sobre um assunto) ou a superficial trolagem por meio de chamados “assuntos ‘hackeados’ e ilegalmente obtidos” por um grupo de “criminosos”, com o objetivo de atrapalhar o andamento das operações de combate à corrupção, com base em “supostos falsos” diálogos obtidos no aplicativo (Telegran) que permitiram a reprodução de conteúdos de textos, vídeos, áudios e imagem por meio de um pacote de dados ou de uma conexão livre da internet entre o ambiente jurídico em plenos processos condenatórios?
Estaria a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, ao interrogar o ministro, fazendo papel de “spoiler” com seus inscritos da base governamental ao privar a sociedade da expectativa sobre o andamento dos vazamentos em causa deixando de questionar o convidado e fazer continência a sua presença; ou a oposição que se apresentava como “troller”, de modo a subverter com afirmativas supostamente fora de contexto no sentido de reforçar a seriedade das denúncias veiculadas.
O hacker ou o cracker sempre estarão presentes quando for necessário justificar o malfeito. Apesar da expertise em telemática, um tem por objetivo cortar (hack), modificar programas adaptando-os às novas necessidades. Aos outros, cabe adulterar, inverter informações, tornando-as inverídicas após a quebra (crack) da segurança e serão incursos penalmente, pois suas ações jamais são bem-vindas sempre que autoridades envolvidas são atingidas.
Preparemo-nos, pois esses personagens “modernosos” estarão presentes no cotidiano. De um lado, as denúncias sobre ações aviltantes contra a sociedade; do outro, fatos, fakes, “descuidos” e desculpas repugnantes em suas defesas, já que estavam a mercê do acesso a informações sigilosas, mas sujeitas a serem “crackeadas” em seus equipamentos funcionais. Eu, no entanto, continuarei aguardando ansiosamente a divulgação dos futuros áudios capazes de deslindar essas vazaduras em módicas prestações!