Diz-se que refém é uma pessoa ou grupos (reféns) que permanecem sob o “jugo” (tacão) ou poder daqueles que o têm ou que se assenhoram da capacidade de julgar, decidir ou exercer autoridade por delegação, representatividade legal consentida sobre as pessoas, as sujeitando “persuasivamente” à aceitação e obediência por meio de força (física ou moral), fraudes, promessas falsas, convencimento, incutindo o medo e a incerteza.
Em um exercício reflexivo, podemos afirmar que somos todos reféns (refenizados) de alguma coisa; de grupos, partidos, governantes, ideologias, culturas, crenças, ou religiões, decisões, do tempo, escolhas, violências, impunidades, preconceitos, ressentimentos, personalidade e, principalmente, dos medos e das incertezas.
A condição de refém se estende ao pensamento, desejo, vontade; incentiva a dúvida, a insegurança e o medo, restringindo a liberdade. Difere de sequestrado, que priva a pessoa da liberdade física e cuja submissão à intimidação pode se revestir ou travestir na aceitação da condição de subserviência pela demonstração enganosa de amizade, empatia, confraternidade, externando sentimentos de estima, solidariedade ao seu “captor” ou “mito”(síndrome de Estocolmo), incluindo aí até a veneração.
O termo sequestro se caracteriza também quanto aos bens materiais, à apreensão ou arresto de haveres em troca de garantias ou contrapartida de direitos em litígios e imateriais (ético ou moral) como o “surrupio” ou cassação de direitos sociais (individual ou coletivo).
Somos reféns da mídia que cotidianamente repassa informações sem a necessária critica a ”checagem” da veracidade; a difusão de assuntos com objetivos e interesses econômicos velados, ou ocorrências reproduzidas a partir de narrativas duvidosas (fakes). Bombardeados com reportagens sobre as mazelas sociais e os vitimados da bestialidade humana.
Ficamos adstritos às pregações messiânicas, doutrinas e preceitos religiosos nas madrugadas televisivas “refenizando” os insones; os “idiotics realities shows”, entretenimentos dominicais com programas de variedades repetitivos utilizando atores “refenizados”, ou opiniões descomprometidas e indevidas de ancoras despreparadas.
Submissos aos desmandos, às interpretações convenientemente esdrúxulas das normas regimentais, das legislações (incluindo a Carta), sobre as mudanças sociopolíticas colocando a sociedade no sentido e direção das incertezas, pela supressão de direitos individuais e coletivos quanto às conquistas sociais adquiridas, da censura intelectual por meio dos injustificáveis contingenciamentos, e argumentações exóticas e despropositadas nas áreas da educação, turismo, cultura, e meio ambiente resultando na abjeção da nossa inteligência.
Sujeição a enredos fantasiosos sobre a necessidade premente das reformas estruturais associados à lenda da “quebra” do sistema de equipartição previdenciário, seu falso deficit, e a farsa dos benefícios privados; à burla da empregabilidade informal objetivando acelerar a produtividade industrial e a oportuna desconstrução e precarização das relações trabalhistas em troca da terceirização, traduz importantes eventos em somenos interesses.
Esse sequestro dos nossos supostos valores de cidadania e utópica liberdade de expressão se deve a aceitação de falsas promessas, mentiras, de grupos socialmente atrasados e ao efeito da excessiva tolerância (leniência) com os opressores da mente e suas convicções sobre a necessidade de um estado punitivo.
Modelos de políticas neoliberalizantes, associadas a mudanças de regimes e ideologias, por um lado culpam o estado da excessiva intervenção na economia, passando a promover as desregulamentações, as privatizações das empresas estatais, tudo em busca do estado mínimo, e a importância do mercado com a exacerbação do consumo e o incentivo à prática consumista diante do crédito escorchante; de outro, a desmoralização da política, o ataque às instituições democraticamente constituídas, o desmonte das estruturas administrativas, a divulgação do medo, da violência ensejando a necessidade de um estado repressor como meio de controle social.
Aqueles que ainda duvidam e não se consideram atualmente subjugados, com certeza são reféns da própria ignorância (desconhecimento), ou neurônios importantes foram devidamente sequestrados a se exigir o desligamento do controle remoto.