Artigos e Opinião

OPINIÃO

Mansour Karmouche:
"O valor das instituições"

Advogado e vice-presidente da OAB-MS

Redação

04/09/2015 - 00h00
Continue lendo...

O Brasil vive um momento de turbulência política e econômica. Todos os estados brasileiros sofrem as dificuldades residuais dessa crise. Muitas unidades federativas – a exemplo do Rio Grande do Grande do Sul – enfrentam sérios problemas financeiros. Teme-se, inclusive, pela quebra definitiva do nosso frágil pacto federativo. Mato Grosso do Sul insere-se neste contexto, com problemas de várias ordens, muitos dos quais semelhantes – tais como desemprego, inflação, queda na renda – , outros específicos, como os conflitos indígenas, troca-troca na prefeitura da Capital etc.

Analisando estes fatos, eles se tornam mais agudos e preocupantes quando nos deparamos com escândalos de corrupção que permeiam a narrativa da crise, gerando temor em relação ao futuro. No plano nacional, todos os dias os capítulos da Operação Lava Jato causam indignação aos cidadãos que trabalham e pagam seus impostos. Na esfera estadual, os desdobramentos da Operação Lama Asfáltica demonstram que os desvios de recursos públicos tornaram-se um problema sistêmico, gerados principalmente pela sensação de impunidade que vigora em certos setores da nossa sociedade.

Neste aspecto, aparecem como subproduto desse processo os famosos “oportunistas da crise”. Estes personagens são facilmente identificáveis. Eles disseminam mentiras pontuais, levantam suspeitas infundadas, tramitam informações falsas pelas redes sociais, geram insegurança e tentam macular pessoas e instituições apenas com o propósito de angariar ganhos e influências pessoais.

Nada mais propício aos “oportunistas da crise” do que esse ambiente de desconfiança social generalizada, quando a fumaça da confusão dificulta que se enxerguem saídas no horizonte. Compreende-se que o quadro atual é resultante de escolhas erradas do governo. Não há como tapar o sol com a peneira: as evidências fáticas suscitadas nas investigações do Ministério Público, da Polícia Federal, do Gaeco e de vários outros órgãos de controle demonstram com clarividência que os abusos de poder criados pelo aparelhamento da máquina pública ultrapassaram todos os limites imagináveis.

O País perdeu-se no cipoal de promessas intangíveis, desvalorizando a palavra empenhada em nome de resultados duvidosos. Por isso, conceitos como ética e integridade são tão importantes nessa hora. Diante do que está posto, só podemos encontrar saídas por meio das instituições, lastreadas no Estado Democrático de Direito. Fora da lei, não há soluções plausíveis que possam ser implementadas em nome da construção do futuro. Essa tem sido a luta dos advogados, estejam eles onde estiverem. Todos sabem que nada pode ultrapassar a égide da legalidade.

Neste sentido, entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil são instrumentos fundamentais para respaldar os poderes da República na busca de soluções equilibradas para a superação da crise. Podemos enfrentar dificuldades momentâneas, até a incompreensão de alguns, mas o amadurecimento de nossas instituições garante realizar aquilo que a sociedade aspira na essencialidade da justiça.

Sabemos também que o momento é rico em conflito de ideias. Há imenso esforço para dar o melhor rumo ao País e ao nosso Mato Grosso do Sul. O sentimento geral aponta no sentido de reformas estruturais do Estado, buscando mais eficácia no uso dos recursos públicos. O Judiciário está fazendo sua parte. Sua contribuição tem sido inestimável para possibilitar a recuperação moral do País. Sabemos que a travessia será longa, mas temos certeza de que nosso esforço logrará êxito, porque em nosso coração pulsa a vontade de mudar. 

Editorial

BR-163: enfim, uma nova etapa

A reconstrução da confiança entre a população e as empresas responsáveis pela infraestrutura pública passa, obrigatoriamente, pelo cumprimento rigoroso de metas e prazos

21/05/2025 07h15

Arquivo

Continue Lendo...

Após anos de incertezas, promessas não cumpridas e frustrações acumuladas, a novela da BR-163 parece enfim caminhar para um desfecho. A rodovia que corta Mato Grosso do Sul de norte a sul terá um novo contrato de concessão. A empresa Motiva, novo nome da CCR, foi a única a se candidatar à tarefa de administrar esse importante eixo logístico do Estado. Em função da falta de concorrência, resta à sociedade acompanhar de perto e cobrar cada cláusula que será assinada.

É evidente que o contrato que está prestes a ser oficializado não representa o cenário ideal, especialmente se considerarmos as expectativas dos sul-mato-grossenses. Após tantos anos convivendo com promessas descumpridas e obras paradas, o sentimento geral da população é de cautela, se não de ceticismo. Ainda assim, diante da necessidade urgente de investimentos em infraestrutura viária, o que foi proposto parece, neste momento, razoável.

Entre os compromissos assumidos pela nova concessão, destaca-se a duplicação de pelo menos 200 quilômetros da BR-163 já nos cinco primeiros anos de contrato. Essa medida é essencial para aumentar a segurança de quem trafega pela rodovia e para garantir maior fluidez ao transporte de cargas e passageiros. Além disso, o alargamento da pista em trechos críticos também está previsto – outro ponto positivo que deve ser valorizado e, mais importante, fiscalizado.

A população de Mato Grosso do Sul já foi penalizada demais com descasos e contratos descumpridos. O que se espera, a partir de agora, é uma mudança de postura. A responsabilidade da empresa concessionária é enorme, mas a responsabilidade dos cidadãos e autoridades públicas de fiscalizar e cobrar também não é menor. O novo contrato precisa sair do papel e se transformar em obras visíveis, concretas e eficazes.

O contrato anterior ficou no passado – e, com ele, um histórico que não deve ser repetido. O presente exige maturidade para olhar para a frente, sem deixar de aprender com os erros cometidos. A reconstrução da confiança entre a população e as empresas responsáveis pela infraestrutura pública passa, obrigatoriamente, pelo cumprimento rigoroso de metas e prazos.

Mato Grosso do Sul tem crescido de forma consistente nos últimos anos. Mas, para que esse crescimento se consolide e se torne sustentável, é urgente que a logística acompanhe o ritmo da economia. Uma BR-163 segura, moderna e eficiente é peça-chave nesse processo. O agronegócio, o setor industrial, o comércio e o turismo dependem diretamente de uma malha viária que funcione.

Portanto, que essa nova etapa da BR-163 seja marcada pelo trabalho sério e pelo respeito à população. O que está em jogo vai muito além de uma concessão: trata-se do futuro de um Estado que quer – e pode – crescer ainda mais.

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Sua excelência, a Defensoria Pública

20/05/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

Nesses tempos em que tanto se fala em resiliência, que tal lembrarmos um pouquinho da Defensoria Pública, principalmente porque o mês convida a essa reflexão, já que comemoramos o Dia do Defensor Público, em 19 de maio?

Funcionando inicialmente, na maior parte dos estados brasileiros, como assistência judiciária, além de outras denominações congêneres que recebera, a Instituição, que é uma legítima representante jurídica da população, já percorrera (e ainda percorre) uma via crucis medonha para se firmar. É que todos os avanços até aqui firmados se deram às custas de muito “sangue, suor e lágrimas” (prosaicamente se falando). 

Isso é o que faz dela um exemplo de bravura e de autêntico exemplo de resistência em todo o percurso histórico da Justiça. Por essa razão, a data de 19 de maio tem de ser objeto de reflexão, principalmente porque, mesmo que seja reconhecida constitucionalmente como uma das funções essenciais à Justiça, ainda não lhe foram conferidas, concretamente, todas as prerrogativas previstas, para a obtenção da indispensável “paridade” com as demais carreiras jurídicas.

Para piorar a situação, “vira e mexe” a Defensoria é alvo de potenciais “criações legislativas” mirabolantes, as quais acabam subtraindo de seus membros e, consequentemente, de seu público-alvo, a paz e a segurança jurídica, já tão duramente conquistadas ao longo da existência institucional.

Em tema de conquistas, recentemente, o Projeto de Lei nº 4.015/2023, que foi aprovado no Congresso (Lei nº 15.134/2025), incluindo a Defensoria Pública entre as atividades de risco. Todavia, o presidente da República vetou parte substancial do PL, que continha, por exemplo, maior proteção de informações cadastrais e de dados pessoais dos membros da Defensoria, bem como a inclusão da atividade como de risco permanente, além da possibilidade de especial proteção policial e aposentadoria.

Entretanto, na contramão desses direitos que já deveriam fazer parte (sem favor) das prerrogativas institucionais, os defensores públicos ainda não têm isonomia com as demais funções da Justiça, a exemplo da garantia da vitaliciedade e da sonhada equiparação remuneratória.

De tais garantias e direitos, porém, seus membros já são dignos, há tempos, bastando-se lançar um olhar mais sensato e justo sobre tantos “tijolos” já carregados pelos defensores, para soerguer os muros de dignidade e de justiça daqueles que dos seus serviços dependem.

Ainda assim, guardadas todas as proporções (e desproporções), a carreira de defensor público é, por excelência, uma das que mais atraem os bacharéis em Direito, presentemente, seja pela nobreza e altruísmo de seu exercício, seja pelos auspícios promissores que ela guarda, em tema de realização profissional.

Na última década, o concurso para o cargo de defensor público tem figurado, nacionalmente, como um dos mais cobiçados, com vários certames em andamento por alguns estados da Federação, a exemplo de Alagoas, Amazonas e Pernambuco. Neste último, por exemplo, há 7.645 inscritos para 20 vagas, o que gera uma concorrência de 385.25 candidatos para cada uma daquelas.

Para quem sonhar em trilhar a nobre carreira de defensor público, como eu já dissera em um artigo que publiquei lá pelos idos de 2012, a atividade é fascinante e encantadora. Congratulações e vida longa, portanto, à Defensoria Pública, da qual, honrosamente, sou membro!

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).