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OPINIÃO

Marcelo Aith: "Quebra do segredo e o abuso de autoridade"

Advogado e especialista em Direito Público

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O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB) aprovou, por unanimidade, no dia 16 de setembro, nota técnica em que rebate, pontualmente, as justificativas apresentadas para os vetos feitos à Lei de Abuso de Autoridade e pede a derrubada integral dos vetos pelo Congresso.

Há muito não se via um CFOAB tão corajoso e atuante como nova gestão, não se acovardando diante de situações centrais para a advocacia e para os cidadãos.

Dentro do arcabouço de pontos enfrentados pelo Conselho, quero focar em um ponto específico e importantíssimo que está intimamente atrelado a grandes operações ou a prisões cautelares de pessoas públicas, que é a quebra do sigilo das informações, imposta pela autoridade judiciária com irresponsáveis vazamentos à grande imprensa, fato que, inequivocamente, gera linchamento e prejulgamento precoce de pessoas. Não podemos nos esquecer que, invariavelmente, são pais de família, têm filhos, esposa, etc., que da noite para o dia veem suas vidas viradas pelo avesso. Cumpre ressaltar que não se está aqui a combater as operações, mas, sim, a espetacularização de tais circunstâncias. Muitas vezes, para não dizer sempre, a imprensa é avisada com antecedência, fazendo-se tabula rasa do segredo imposto pela autoridade judicial, as quais às vezes comunga de tais condutas perniciosas e ilegais.

A Lei 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade), em seu artigo 41, alterou o artigo 10 da 9.296/96, descrevendo a conduta de quebrar o segredo da Justiça nos seguintes termos: “Art. 10.  Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei”. Assim, quebrar o sigilo é ato criminoso e deve ser assim punido.

Não podemos olvidar que o pano de fundo dessas ações ilegais, imorais e antiéticas é enfraquecer a defesa, desviar o foco e atrair os holofotes aos paladinos da justiça. Um caso emblemático dessa parafernália foi a famosa e inesquecível tarde do PowerPoint, em que a força-tarefa da Lava Jato, a mesma que hoje está no foco das revelações do site The Intercept, colocou, mesmo antes de iniciar qualquer procedimento contra o ex-presidente Lula, como o grande capo de tutti cape dos envolvidos na dilapidação da Petrobras. Cumpre aqui ressaltar que nada ficou comprovado em relação a isso, pelo contrário, a cada diálogo divulgado fica mais evidente que os “meninos” da Lava Jato foram precipitados, fruto, por certo, na imaturidade. E a Lei de Abuso de Autoridade há de combater essas condutas inconsequentes.

Voltando aos vazamentos das informações acobertadas pelo segredo de Justiça, tais fatos devem, com a aprovação do Projeto de Lei do Abuso de Autoridade diminuir de incidência, mas acredito que acabar jamais, pois há muito o Ministério Público e os demais órgãos de execução deixaram de ser promotores da justiça e investigadores na busca da verdade para serem caçadores de bruxas, em especial dos políticos e advogados que os defendem. Graças a Deus o Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, capitaneada pelo Presidente Felipe Santa Cruz, entrou firmemente na luta contra essas aberrações cometidas por algumas autoridades públicas que acreditam serem “deuses”.

Para ilustrar as aberrações cometidas e o descaso com o segredo de Justiça, cumpre trazer um fato recentíssimo que ocorreu na Comarca de Avaré. A Juízo da Vara Criminal, responsável pelo cumprimento da carta precatória, encaminhada com uma enorme informação de confidencialidade, “descuidou-se” e permitiu que informação parasse nas mãos da imprensa local, a qual, por questões de política, fez questão de postar. Porém, ao que se sabe, o alvo do vazamento já tomou as medidas correicionais no Tribunal de Justiça de São Paulo e no Conselho Nacional de justiça contra a magistrada deprecada, objetivando, com isso, que ações irresponsáveis e ilegais não ocorram mais.

Mas pode estar alguns incautos a dizer: bandido tem de ser execrado! Nunca se esqueça que um dia pode ser você ou um familiar seu objeto dos abusos de autoridades cometidos ao bel prazer no Brasil.

Não há como finalizar esse texto, que mescla satisfação com a atuação firme do Dr. Felipe Santa Cruz, com a expectativa da derrubada dos vetos presidenciais à Lei de Abuso de Autoridade, com a lapidar frase de Juiz de Direito Luis Carlos Valois: “Quando o Judiciário passa a pensar que uma de suas funções é o combate à criminalidade, ele se afasta da posição de garantidor de direitos e liberdades para agir como mais uma arma apontada para a população”.

ARTIGOS

O papel da IA no bem-estar moderno

21/03/2025 07h45

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Os últimos anos foram marcados por transformações em várias esferas da sociedade, e um dos conceitos que mais mudou e ganhou novos significados foi o de bem-estar. Se antes ele era relacionado principalmente com a saúde mental e física, hoje em dia já abrange diversos outros fatores, como qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança e experiências personalizadas.

Esse cenário levou ao crescimento da economia do bem-estar, que, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI), alcançou US$ 6,3 trilhões em 2023, montante 25% maior do que o valor avaliado em 2019 (US$ 4,9 trilhões). Para 2028, a expectativa é que o setor chegue a US$ 8,9 trilhões, o que reforça como essa pauta já é uma forte tendência.

Porém, vale destacar que os avanços nesse mercado foram possíveis, entre outros fatores, por conta da evolução da tecnologia, que ampliou o acesso a soluções inovadoras, otimizou processos e possibilitou a personalização do bem-estar de acordo com as necessidades individuais. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental, contribuindo ainda mais para que o bem-estar seja mais acessível e flexível.

Temos diversos exemplos que comprovam como as soluções inovadoras trazidas pela popularização da IA impactam diretamente o autocuidado e a forma como interagimos com o mundo: no setor da saúde, startups brasileiras como a Pipo Saúde utilizam a tecnologia para oferecer suporte a diagnósticos e otimizar o atendimento médico, permitindo que milhões de pessoas tenham acesso a serviços de saúde de forma mais eficiente. O bem-estar emocional também foi impulsionado com soluções como a da Vittude, uma plataforma que conecta pacientes a psicólogos por meio de IA, democratizando o acesso a cuidados mentais.

No que diz respeito ao bem-estar corporativo, ferramentas desenvolvidas por empresas como a Gupy ajudam organizações a monitorar o nível de satisfação dos funcionários e sugerem ações para melhorar o ambiente de trabalho, reduzindo o estresse e, consequentemente, aumentando a produtividade.

Outro exemplo do impacto positivo da IA no bem-estar moderno está na personalização do entretenimento, com plataformas como Spotify e Netflix, que usam IA para sugerir conteúdos que correspondem aos interesses do usuário, e do aprendizado, com ferramentas como o Duolingo, que usam IA para personalizar o ensino, tornando essa jornada mais eficaz e menos desgastante para os estudantes.

Acredito que essa tendência de sofisticação das tecnologias baseadas em IA vai tornar a busca pelo bem-estar completo ainda mais fácil. Desde aplicativos que monitoram padrões de sono e alimentação a assistentes virtuais que ajudam a gerenciar tarefas cotidianas, é fato que a tecnologia seguirá transformando a forma como cuidamos do nosso corpo, mente e relações.

Porém, não podemos esquecer que o segredo para o uso eficaz da IA nesse contexto inclui necessariamente o desenvolvimento ético dessas tecnologias, para que sejam seguras, inclusivas e realmente focadas no bem-estar humano.

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ARTIGOS

Financiamento rural e a reforma tributária

21/03/2025 07h15

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Os Fiagros são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Criados em 2021, são ativos de investimento do agronegócio, seja de natureza imobiliária rural, seja de atividades relacionadas ao setor. O Fiagro acabou se tornando uma fonte alternativa de financiamento para o produtor rural, de modo a não depender exclusivamente dos bancos e do Plano Safra.

Entretanto, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a reforma tributária, mas vetou trechos que previam a isenção de tributos para os Fiagros e para os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Esses trechos isentariam tais fundos da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A justificativa do governo para o veto foi a ausência de autorização constitucional para que esses fundos não fossem considerados contribuintes do IBS e da CBS. Isso pode impactar diretamente o crédito para os produtores rurais. É uma insensatez e ilógico o que o presidente fez.

Os Fiagros são fundos em que as pessoas podem investir e que funcionam como fontes de financiamento para o agronegócio. No mundo inteiro, os fundos já são mais representativos do que os bancos. Esse tipo de fundo tem crescido bastante, pois permite também que investidores urbanos participem do setor agroindustrial, aproveitando o potencial do agronegócio brasileiro.

O Brasil conta com cinco grandes bancos e cooperativas de crédito, além de seis linhas de crédito disponíveis para o agronegócio. Há também o Plano Safra, que atende apenas uma pequena parte da produção. Dessa forma, os agricultores ficam nas mãos desses bancos e frequentemente enfrentam desafios para a concessão de crédito, tornando-se dependentes das instituições financeiras, que impõem taxas, garantias e burocracias muitas vezes incompatíveis com a realidade do setor.

Prova maior da importância de financiamentos alternativos é a notícia da suspensão do Plano Safra. O Tesouro Nacional decidiu suspender novas contratações dessas linhas de financiamento 2024-2025. A medida vale a partir de 21 de fevereiro. O governo, sempre correndo para remediar em vez de prevenir, editou a MP nº 1.289/2025, liberando 4,17 bilhões para conter a pressão do segmento. Ainda assim, é insuficiente para o que o setor demanda de fomento. 

Os fundos representam um novo universo, uma nova possibilidade de financiamento com juros menores, pois, muitas vezes, esse capital vem do exterior. Os investidores estrangeiros não estão acostumados com os juros elevados do Brasil e, portanto, taxas mais baixas já são atrativas para eles. O Fiagro é exatamente isso: uma fonte de financiamento. Além de financiar o campo, atualmente beneficia cerca de 600 mil investidores.

No momento, o Fiagro só paga imposto se houver mais de 100 cotistas no fundo, não sendo tributado pelo Imposto de Renda. Caso tenha menos de 100 cotistas, há a incidência de 15% de Imposto de Renda, cobrado apenas no momento do resgate do resultado pelo cotista. Além disso, o Fundo não paga PIS, Cofins ou ISS. Contudo, com esse veto presidencial, os Fiagros passarão a pagar os tributos previstos na reforma tributária, especificamente o IBS e a CBS. Isso significa uma alíquota de até 28,5%, o que inviabilizará completamente esses fundos.

É importante lembrar que a logística no Brasil é muito cara, os produtores gastam muito com transporte, e os custos trabalhistas e tributários são elevados. Agora, o governo tenta transferir mais essa responsabilidade para o produtor. Vale ressaltar, mais uma vez, que quanto mais difícil for a vida do produtor, mais difícil será a vida do consumidor, que verá o impacto nos preços dos produtos agropecuários nas prateleiras dos supermercados.

A nossa expectativa é que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifeste firmemente sua discordância com o veto e atue no Congresso para derrubá-lo. A tributação desses fundos compromete a competitividade do setor, aumenta os custos para os produtores, reduz a oferta de crédito no agronegócio e, por consequência, eleva os preços dos alimentos para o consumidor final.

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