Fui buscar em Camões a justificativa de minha persistência numa profissão que foi a razão de minha longa existência. As asas da memória me transportam aos oito anos, repletos de sonhos, esperanças e ilusões.
Revivo a época do internato do Ginásio Juvenal de Carvalho, em Fortaleza, onde me vejo rodeada de coleguinhas, tentando fazê-las decifrar os mistérios dos textos de Português.
Alguns anos depois, no Colégio Santa Inês, em São Paulo, era a mim que recorriam as colegas, quando os textos de Machado de Assis lhes pareciam mais complicados que os dos teoremas de Matemática ou Física.
De onde me vinha o prazer de ensinar, como irreprimível vocação a que não conseguia escapar?
O prazer de ler e comentar, de passar meus conhecimentos a minhas amigas, era algo irresistível, como saborear um copo de água gelada numa tarde de calor. O gosto cresceu, definiu-se, quando me matriculei na PUC do Rio de Janeiro, para cursar Línguas Neolatinas, e tive a ousadia de dar aulas numa escola do morro de São Carlos, para um grupo de alunos endiabrados, que não prestavam a mínima atenção aos ensinamentos preparados com o maior carinho.
Minha experiência terminou no curso primário, quando a classe estremeceu com uma bomba lançada por um garoto.
Compreendi, em minha ignorância, que a necessidade do preparo didático era fundamental no trabalho de envolvimento com crianças e adolescentes. A improvisação só valia para os gênios, e este não era meu caso.
Os anos giraram como folhas ao vento e, em 1950, formada, retornei a Campo Grande, ansiosa para desenvolver a profissão a que me agarrava como uma segunda vida. Comecei dando aulas no Oswaldo Cruz, no Auxiliadora, no Estadual, nos anos escuros de 1950, nos quais a falta de luz nunca diminuiu a minha paixão de encontrar os alunos e abrir-lhes o coração e a alma para as coisas significativas da vida.
A convite do Padre Angello Ventureli, participei da fundação da Faculdade Dom Aquino, onde lecionei mais de dezessete anos e adquiri os melhores amigos de minha vida, tanto no que se refere aos alunos como aos professores.
Atualmente, a maioria delas são professoras de universidades, exercem cargos elevados em tribunais, escreveram importantes obras, dirigem cursos de línguas.
A convite do reitor João Pereira da Rosa, ingressei na UFMS, onde me aposentei depois de 26 anos dedicados ao ensino e à cultura. Ia de carro, de Jeep, com o coração transbordando na esperança de dar minhas aulas. Gostava cada vez mais do contato com os livros, funcionários, colegas e alunos.
Um de meus maiores prazeres é ser reconhecida na rua por esses alunos, que vivem dentro de minhas lembranças como árvores que se alimentaram do saber e da confiança no viver.
Conheço muitas pessoas que se sentiram bem mudando de profissão. Isso não acontece comigo. Minha profissão é minha raiz de felicidade. Nunca pensei em mudar.
Bretch dizia: “Fui e sou um homem de teatro”. Afirmo: Fui e sou uma professora, as transformações que marcaram minha vida não foram suficientes para mudar minha vontade de ser apenas uma professora.