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Maria Mirault: "Causos na Cidade Morena - praga de madrinha ou presente dos deuses

Maria Angela Coelho Mirault é professora, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

Redação

13/07/2017 - 02h00
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Recém-chegada à quase recém-criada Capital do Estado de MS, nos anos 80,durante “os anos eram assim”, e, antes das “diretas já!”, teve de dar conta das demandas que lhe surgiram.  Migrante que era, veio com tudo. Uma escola já consolidada no mercado para empresariar, uma família para se adaptar e uma função pública inesperada eram seus desafios. A gestão iniciante era do recém-vitorioso PMDB. A função do cargo oferecido, de sua área de formação e atuação. Afinal, o bom, desafiador e prestigiado emprego no serviço público levaram-na ao staf de assessoria no segundo escalão.

Na mudança de governo (e, de partido), a equipe anterior esvaziara de fato todas as gavetas; tudo então teria de ser pesquisado e refeito. Dividida entre autoridades e compromissos empresariais, procurou dar conta de uma e de outra função. Buscando refazer toda a trilha para o setor, teve a iniciativa de empreender viagens de visitas de pesquisa, junto aos Cerimoniais e cerimonialistas dos Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais. Debruçou-se no estudo das leis protocolares e demais normatizações. Organizou o que pôde. Entre erros e acertos, reconstruiu a base de atuação protocolar. Sentia-se e sabia-se preparada.  

Cinco meses, como sói ser, inesperadamente, recebeu sua demissão: “alguém-amiga-de-amiga-muito-íntima-de-autoridade-de-primeiro-escalãozíssimo-queria-um- lugar no governo”; exatamente o Seu! Lá se foi sua dedicação aos projetos; o seu trabalho “primoroso” (rs...) e, sobretudo, sua digital na elaboração de texto-base, que intentava embasar o modelo de lei de Cerimonial Público para subsidiar a Assembleia Legislativa do Estado de MS; Rio, São Paulo, Minas Gerais, dentre outros, já tinham elaborado suas leis. Acreditou que pudesse; parecia-lhe possível.  O certo é que até hoje, o Estado de MS não tem a sua legislação a respeito. Praga de mãe, ou bênção dos deuses?  Com o episódio de “fracasso” aprendera que: 1) em terra de cego quem tem olho (mas, não tem padrinho bom) é pangaré; 2) quem não usa colírio, usa óculos escuros, e, cai do cavalo; 3) quem não tem padrinho – ou, padrinho fraco – morre pagão e nu com a mão no bolso. 

Na decisão do “fica-não-fica”, cuidar do seu empreendimento era a melhor opção. Primeira proposta de escola particular construtivista no Estado (afinal, antes da migração, preparara-se bem para isso, suado a camisa em um curso e estágio com o mais notável estudioso de Piaget, no Brasil; o saudoso professor cearense Lauro de Oliveira Lima. Aquela demissão poderia significar uma bênção do céu, pois, com sua dedicação integral, ao lado da sócia, a escola teria tudo para bombar.  

Bombou! Mil projetos, que deram muito certo; corpo docente preparado, proposta pedagógica séria, segura e inovadora - as crianças adoravam.  Porém, a crise dos anos 80 e o preço da gasolina derrubaram tudo. Dias antes de iniciar o período letivo, sua sócia decidiu encerrar as atividades da seleta escola. Tudo foi desmanchado,  doado... todo um projeto de alto nível em educação abandonado!  Em menos de um ano, na próspera cidade “para quem tivesse gosto pelo trabalho”, como diria um nativo da terra, tudo fora por água abaixo.

Na dúvida entre desistir e persistir, o trabalho voluntário já lhe havia assaltado o interesse: compartilhara de três iniciativas: 1) a belíssima criação e implantação da nascente Escola de Pais que, hoje, saudosa, muito contribuíra na orientação de pais em periferias; 2) a mundialmente renomada e recém-criada OMEP/MS – hoje, uma desolação de corrupção, e, 3) a criação do PMDB-mulher.

Entre o tempo de voltar ou ficar, pegou sem pestanejar um “adorável” emprego público federal (só que não). Era uma repartição que distribuía recursos da União às iniciativas governamentais do Centro-Oeste. Quando Collor - o salvador da pátria brasileira - chegou (não tendo os 5 anos para estabilizar-se), danou-se, outra vez! Rua! Praga de mãe, ou bênção do céu? Bênção do céu, já que estava quase zumbizando, naquele ambiente desolador. E a saga “Praga de mãe ou bênção do céu” teve outros episódios. Aguarde.

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Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

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As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

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Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

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Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

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