O progresso é dadivoso, irreversível e, não raro, apocalíptico. Ele, sem dúvida, nos deu, por exemplo, a crise hídrica em que estamos mergulhados. É bom abordar este tema aqui. Leitores há, e não são poucos, que são testemunhas do que ora relato, passado na nossa Campo Grande. Lotfi (José Lotfi Correia), hoje famoso advogado, Governador do Rotary (Distrito 4470) 2014, se não me engano no ano, batíamos alegre papo quando lembramos nosso tempo de pré-adolescente (ele bem mais jovem) e nadamos na Cachoeira do Revellion (eu matando aula) que era bem ali, no exato piso do Supermercados Extra da Maracaju. Muitos do de nossa época iam até lá motivados pela informação (que eu confirmei) que “alguém” trajava “topless” por lá. A cachoeira era de lindas águas, creiam. Lindas águas também se via no Córrego Prosa, ali nos fundos do hoje Quartel da PE (Polícia do Exército) e também logo acima da ponte (Rua Joaquim Murtinho), onde pesquei. Meu especial amigo João Pereira da Rosa, um dos fundadores e primeiro reitor da U.F.MS, fiel herdeiro do nobre Nestor Pereira, seu pai e também meu amigo, se manteve preservador da mata ciliar do Córrego Lageado, de suave deslizar junto à então Escola Tia Olívia, de brilhante ação educativa preservacionista, alertando para o não poluir curso d”água, em especial.
Pesquei ali também, ainda criança. Não muito distante dos nossos dias, em 1960, vi uma “subida de cascudos” no Prosa. A Cachoeira do Revellion foi sepultada sob um supermercado. O Prosa é um canal concretado e o que nele corre não se pode chamar de água. Da mata ciliar do Lageado restam poucos metros e sua água (pouca) potável não é mais. Fauna aquática nos cursos d’água citados, só na lembrança de quem tem a felicidade de tê-la. Pior ainda estão os de minha idade, ou mais, que nasceram junto ao Rio Tietê.
Saudade, é sentimento que arrisca à melancolia e, o que mais grave, à depressão. Esperança é vacina contra este e quaisquer outros males. Ela é suporte da fé. O homem, o único animal que modifica o meio, para sua proteção, conforto, economia de esforço e ampliação da comunicação. Porém, ao fazê-lo, ele cria quadros como o antes apontado, ameaçando sua própria existência.
Mas, exatamente a ele, é dado o poder de criar e também o de transformar. Ao constatar que ação sua o ameaça, como os polímeros (plásticos), por exemplo, substitui-lo-á por biodegradável, enquanto recicla ciclicamente o que já está aí. Toma os detritos resultantes de sua existência e os torna aproveitáveis (adubo). O homem continuará existindo, ainda que não se multiplique como o faz hoje. Viverá mais do que vive hoje, retirará o que de mal já colocou na água, no ar e na terra.
Chamará de volta o que extinguiu e lhe faz falta. Evitará a extinção do que ele próprio colocou em tal risco. Resgatará a água sepultada, a fará deslizar entre florestas e, de novo, abrigar vida. Basta que se lembre que foi feito à imagem e semelhança de DEUS.