Artigos e Opinião

ARTIGO

Mauri Valentim Riciotti: "Sérgio Moro e banda"

Mauri éCorregedor-Geral do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul

Redação

23/08/2015 - 00h00
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A Operação Lava-Jato, além de mostrar aos cidadãos de bem que é possível combater a corrupção, também tem servido de lição àqueles que pertencem às instituições envolvidas na investigação e processos judiciais, que só o trabalho conjunto é que traz resultados positivos. Cabe tal reflexão, porque vez por outra, digladiam-se entre si, em lutas absolutamente corporativas, visando sobreporem-se uns sobre os outros, esquecendo-se que são “todos” servidores públicos, com um objetivo comum.  

Tem sido assim ao longo dos últimos anos com uma parcela do Judiciário, do Ministério Público e das Polícias. Essas divergências não fazem bem à sociedade, ao contrário, agrada aos malfeitores. 

As diversas fases dessa aplaudidíssima operação investigatória e seus desdobramentos em processos judiciais, tem sido como uma apresentação musical do gosto do grande público. Os integrantes da banda, afinadíssimos, de forma harmônica, no momento certo, revelam suas habilidades. Ora um, ora outro, tem oportunidade de mostrar seu talento. No palco iluminado, cada um, de posse de seu instrumento, sabe exatamente o seu momento. De olho na partitura, se apresentam, contribuindo para que a música deleite a plateia, conscientes de que a banda existe para ela e que sucesso de cada um depende dessa afinação.

O público não aceita mais a velha música clássica, que teve seu apogeu, mas hoje só agrada aos senhores adeptos da opulência, praticantes de desmandos e exploradores dos cidadãos de bem. As velhas composições, de intrincados acordes, não tem mais espaço nesse novo mundo tão complexo, democrático e popular.

Integrantes desse mesmo grupo de profissionais que hoje fazem tanto sucesso, se olhassem com mais atenção para essa operação, lembrando que a boa bilheteria é mantida pelo grande público pagante, esquecendo-se dos interesses – meramente classistas -, compreenderiam que não é a atuação isolada que vai resultar na boa música. São os instrumentistas em união, partitura à frente, depois de muito ensaio, em completa harmonia, dando o melhor de cada um, é que atingirão esse objetivo.  É necessário que tenham consciência de que fazem parte de um grupo e que, isoladamente, não têm chance de deslanchar suas carreiras.

É interessante notar que na Operação Lava-Jato, com a atuação irrepreensível da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário e outros órgãos incumbidos de alguma espécie de fiscalização, coube ao juiz Sérgio Moro, sem qualquer imposição de sua parte, o papel de “líder da banda”, assim reconhecido pelo público.

No palco, um ladeando o outro, de posse de seus instrumentos, seguem rigorosamente o que está escrito na papeleta à sua frente, que nada mais é do que a Constituição Federal e as leis infraconstitucionais, que dispõem qual é a parte de cada um na execução da música, apenas acrescentando novos acordes, mais contemporâneos,  “sem rasgar a partitura”, como alguns amantes da velha escola clássica alardeiam. O grande maestro é o povo brasileiro, que ao romper com um período ditatorial, fez esse arranjo em 1988.

Essa figura metafórica demonstra com exatidão aos órgãos de fiscalização e investigação, bem como ao Poder Judiciário, que só existe um meio para se vencer o crime organizado: o esforço conjunto de cada um dos agentes públicos que têm essa missão! Não há espaço para a mesquinhez da luta pela supremacia de uma instituição sobre outra. Esta, aliás, é um passo para a falência de todas! É esse o debate que precisa ser enfrentado pelas lideranças de cada uma dessas instituições. À sociedade, que paga a conta, só interessa o combate eficaz contra essa sórdida corrupção que solapa a esperança do nosso povo. A ele não importa quem é o protagonista. Nesse palco não há espaço para carreira solo.

EDITORIAL

Mobilidade em risco no momento mais crítico

Em dezembro, quando a cidade deveria estar focada em avançar economicamente e aquecer o comércio, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho

06/12/2025 07h15

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A ameaça de paralisação do transporte coletivo em pleno fim de ano é tudo o que Campo Grande não precisava enfrentar. Em um período naturalmente sensível para a economia – com comércio aquecido, maior demanda por serviços e intensa circulação de pessoas –, qualquer instabilidade se transforma em prejuízo social e financeiro.

A cidade depende do funcionamento do sistema de ônibus para manter seu ritmo, e qualquer incerteza coloca em risco não apenas o deslocamento diário da população, mas também o desempenho econômico de diversos setores. A engrenagem urbana, especialmente em dezembro, não tolera paradas bruscas.

O Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo da Capital, afirma que enfrenta dificuldades financeiras severas e que não dispõe de recursos para pagar o 13º salário de motoristas e demais funcionários. Alega atrasos em repasses de subsídios públicos, que são parte importante da equação econômica do sistema.

Por trás da disputa técnica entre governo, prefeitura e consórcio, há um fato concreto: se os ônibus param, quem paga a conta é o cidadão – aquele que depende do transporte para trabalhar, estudar, acessar serviços de saúde ou simplesmente fazer suas compras de fim de ano.

É preciso compreender que a paralisação do transporte coletivo não afeta apenas quem usa o ônibus. O impacto econômico é profundo e imediato. Sem mobilidade, trabalhadores podem faltar, empresas reduzem fluxo, o comércio perde movimento e serviços deixam de ser prestados.

A suspensão da frota significa atrasos em entregas, queda no faturamento e um ciclo negativo que se espalha rapidamente pela economia local. Em um momento em que Campo Grande tenta equilibrar sua atividade econômica e superar dificuldades após a pandemia e a crise fiscal, o risco de colapso do transporte coletivo é preocupante.

No centro do impasse estão os repasses públicos – atrasados, segundo o consórcio – em um período crítico, tanto para o governo do Estado quanto para a prefeitura. O Estado enfrenta diminuição no ritmo da arrecadação, algo que afeta diretamente sua capacidade de ampliar aportes.

A prefeitura, por sua vez, vive um quadro de aperto financeiro evidente, inclusive com dificuldades para honrar seu próprio 13º salário. Não é a melhor combinação para um sistema que depende fortemente do equilíbrio entre tarifas e subsídios para funcionar.

O transporte coletivo, por sua natureza, exige previsibilidade. Quando esse elemento desaparece, todo o sistema fica vulnerável. A população, já acostumada a enfrentar ônibus lotados, longas esperas e limitações estruturais, não pode ser penalizada novamente por questões administrativas ou disputas financeiras.

É momento de responsabilidade de todas as partes: o consórcio precisa demonstrar transparência sobre suas contas; o poder público precisa oferecer clareza sobre repasses e obrigações; e ambos precisam agir com rapidez para evitar que a cidade pare.

Em dezembro, quando Campo Grande deveria estar focada em avançar economicamente, aquecer o comércio e garantir a normalidade da rotina urbana, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho.

Não se trata de um problema setorial, mas de uma ameaça ao funcionamento da cidade como um todo. A solução precisa ser imediata, dialogada e comprometida com a continuidade do serviço. A população não pode – e não deve – ser a parte mais prejudicada dessa equação.

ARTIGOS

Trump e Maduro: uma questão de legitimidade

O campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões

05/12/2025 07h45

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O tensionamento da relação entre Estados Unidos e Venezuela nos últimos tempos tem produzido uma série de reflexões sobre os motivos (reais ou alegados) acerca de tal panorama e o impacto que a disputa pode produzir no Brasil em termos geopolíticos, dado o posicionamento do governo federal atual sobre a situação e, especificamente, sobre os mandatários Donald Trump e Nicolás Maduro. Em última análise, a questão diz respeito ao conceito de legitimidade, ponto que merece alguma discussão.

A noção de que algo é legítimo se refere ao fato de que uma determinada situação está de acordo com o direito ou com a concepção social de justiça, ou seja, além da mera aferição formal de legalidade. Assim sendo, o campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões.

Primeiramente, há que se verificar a legitimidade do mandato presidencial de Maduro para, na sequência, refletir acerca da legitimidade da ação de Trump em relação à Venezuela. Ainda que sejam assuntos teoricamente independentes, parece difícil negar a vinculação existente entre os assuntos, com maior ou menor relevância, a depender da ótica do analista.

A eleição presidencial na Venezuela, ocorrida em 2024, colocou diante de Nicolás Maduro a oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer, sendo substituída por Edmundo González Urrutia como figura principal de contraponto ao presidente durante o pleito.

Sob acusação da oposição e de observadores internacionais de falta de clareza na contagem de votos, não houve o reconhecimento da vitória de Maduro, que está no cargo desde 2012, primeiro interinamente (em substituição a Hugo Chávez) e, depois, por meio de eleições, realizadas em 2013 e 2018, mas a última vitória também havia sido objeto de muita discussão em decorrência da suspeita de fraude.

Nos últimos meses, sob o argumento de combate ao tráfico de drogas na América Latina, o governo norte-americano tem aumentado a pressão sobre maduro, alegando que ele teria ligação com o Cartel de los Soles, inclusive estabelecendo uma recompensa de US$ 50 milhões por informações aptas a levar à captura do atual presidente venezuelano.

A chegada do gigantesco porta-aviões USS Gerald Ford à região do Mar do Caribe reforçou a tensão e a possibilidade de que uma atitude mais drástica possa ocorrer a qualquer momento. A caracterização de grupos criminosos ligados ao narcotráfico como terroristas, responsáveis por efeitos nocivos no território norte-americano, é utilizada como argumento por Trump para justificar a ação mais incisiva.

O Brasil, como principal potência regional da América do Sul, é claramente agente interessado no desenrolar dos fatos, pois o conflito envolve a nação mais forte militar, política, cultural e economicamente do mundo e um país fronteiriço.

A grande questão é que está se aproximando, cada vez mais, o momento em que o posicionamento brasileiro pode trazer consequências concretas mais efetivas ao País, do ponto de vista político e econômico, muito além da questão da ampliação das tarifas.

A legitimidade de Maduro e Trump com relação a suas ações é pressuposto inafastável para a consideração desse complexo contexto internacional. O Brasil não pode se furtar a tomar uma posição em relação a isso em algum momento, pois muitos dos agentes envolvidos têm ligação com o País, seja historicamente ou por meio de organismos internacionais.

Ainda que, algumas vezes, certas figuras influentes politicamente queiram passar a falsa impressão de que determinadas situações complexas possam ser resolvidas de modo simples, com uma conversa, é evidente que o caso envolvendo Trump e Maduro pode ter implicações muito sérias para a sociedade brasileira, dado o problema nacional envolvendo o narcotráfico.

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