Alberto Santos Dumont estava meio século adiante do seu tempo. Previu um mundo novo, unido por rotas aéreas. Anteviu mesmo a possibilidade e as vantagens da guerra aérea. É de seu livro autobiográfico o seguinte tópico de luminosa visão, em que estão definidos pontos básicos da estratégia aérea: “Uma vantagem incomparável da aviação é tornar possível ao aviador avistar corpos movendo-se abaixo da superfície das águas. Nenhum submarino escapará à sua visão, ao passo que é invisível do convés dos navios e, enquanto o submarino é totalmente impotente, contra ele, ao contrário, o avião, tendo o duplo da sua velocidade, pode fazer serviço de patrulha contra submarinos e assinalar a posição destes aos navios que eles perseguem ou visam. Além disso, o avião pode ainda destruir o submarino atirando-lhe bombas de dinamite capaz de penetrar a grande profundidade coisa impossível à Artilharia dos navios”.
Inclinava-se Santos Dumont a acreditar que a verdadeira função dos elementos aéreos consistiriam no transporte rápido de passageiros, correspondência e cargas. Tentou levar o mundo a partilhar de suas idéias, mas os homens importantes não as aceitavam, e a imprensa noticiava seus desastres passando a apelidá-lo “Santos Desmonta”. O nosso herói não se perturbou com essa falta de apoio. Em 1902 recebeu, em seguida, as graças do Príncipe de Mônaco e com seu respaldo continuou trabalhando com afinco e determinação. Os dirigíveis estavam longe de serem perfeitos, bastando dizer que só podiam voar com tempo calmo. Deles, no entanto, para a máquina mais pesada que o ar ia, num só passo. Após muitas experiências com aparelhos que eram metade avião e metade balão, Santos Dumont galgou novos êxitos.
Em 1906 deu ao mundo a primeira demonstração pública do vôo de um aparelho mais “pesado que o ar”. (Os irmãos Wright só vieram a voar publicamente em 1908). Ele levantou vôo com o “Nº 14”, conduzindo uma aeronave nele amarrada para testar a aerodinâmica a qual nominou de “14 Bis”, e que iria passar a história da aviação como “o primeiro autopropulsado mais pesado que o ar”. Alberto Santos Dumont no dia 23 de outubro de 1906, foi o primeiro homem a pilotar uma aeronave sob os olhos e o testemunho de milhares de pessoas, com documentação fotográfica e cinematográfica. O “14 Bis”, numa pequena realização de pioneiro com seu vôo de Bagatelle, simboliza, essencialmente, tudo que se conseguiu até hoje em matéria de vôo. A partir de então para cá, o que se fez a respeito da resolução integral do vôo, não passa de aperfeiçoamentos, que cabe dentro das conquistas fundamentais do nosso grande Santos Dumont.
Daí as razões de defesa da prioridade brasileira: “O que o Brasil afirma é que Santos Dumont foi o primeiro homem que vôo no mais pesado que o ar, entendendo-se naturalmente como vôo, a decolagem, o deslocamento através do ar e o pouso, tudo evidentemente pelos próprios meios existentes do aparelho”. A falta de qualquer destas condições, importava em conservar o problema sem solução.
Em 1910 foi acometido de uma esclerose múltipla que lhe tirava as formas das mãos e dos braços. Quando irrompeu a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), manifestou-se em Santos Dumont grande depressão psíquica, ao ver o seu evento utilizado como arma aérea entre os seres humanos. Ele que sonhara no emprego dos aviões para unir os homens, ligar pessoas, povos e países teve que se internar em clinicas de repouso para vencer as angustias existenciais advindas em fazerem uso militar de seu invento. Em 1932 assistiu os aviões serem empenhados na “Revolução Constitucionalista de São Paulo”, metralhando e bombardeando cidades brasileiras levando a morte seus compatriotas.
No dia 23 de julho de 1932, Santos Dumont hospedado em hotel na cidade de Guarujá SP, ouviu o som de um bombardeiro, subiu até o quarto pelo elevador e enforcou-se com o pescoço atado a duas gravatas. O Governo brasileiro o homenageou com o titulo de “Marechal-do-Ar” e “Patrono da Aviação”. O coração de Alberto Santos Dumont está numa redoma de vidro no Museu da FAB, no Campo dos Afonsos, no RJ. E seu legado para a Humanidade permanece no “Panteão da Pátria” como um Herói Nacional que o Estado de Minas Gerais deu ao Brasil, e o Brasil deu ao Mundo.