Artigos e Opinião

Editorial

O caminho seguro da diversificação

Mato Grosso do Sul, historicamente dependente de poucas commodities, começa a dar sinais de maturidade econômica ao explorar novos caminhos

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Nesta edição, trazemos uma reportagem especial que aponta para uma importante virada no modelo de desenvolvimento do Estado: a diversificação da produção e a ocupação de novas fronteiras – não apenas agrícolas, mas também industriais. Em um cenário nacional e internacional instável, a capacidade de um estado de se adaptar, inovar e ampliar suas atividades produtivas é condição essencial para garantir crescimento sustentável. Mato Grosso do Sul, historicamente dependente de poucas commodities, começa a dar sinais de maturidade econômica ao explorar novos caminhos.

Um exemplo eloquente é o crescimento da cultura do eucalipto, que vem ganhando cada vez mais espaço entre produtores rurais sul-mato-grossenses. Conforme revelamos nesta edição, há quem diga que sua rentabilidade já rivaliza com a da soja, carro-chefe da produção agropecuária do Estado. Esse movimento é mais do que um bom sinal de negócio: é uma demonstração de que o campo também está atento às mudanças do mercado, disposto a inovar e a mitigar riscos.

Toda economia diversificada é, por definição, mais resiliente. Isso quer dizer que, diante de crises pontuais – sejam climáticas, geopolíticas ou de mercado – o impacto tende a ser menor e mais controlável. A diversificação reduz a dependência de ciclos específicos e confere ao Estado maior autonomia e segurança para planejar seu futuro. O eucalipto, por exemplo, abastece a indústria de papel e celulose, que pode alavancar cadeias produtivas inteiras com potencial de agregar valor e gerar empregos.

A boa notícia, portanto, extrapola os limites do agronegócio. Ela representa um ganho estratégico para MS como um todo. Um estado com bases produtivas mais amplas consegue sustentar boas perspectivas de crescimento no médio e longo prazo. Além disso, atrai investimentos, movimenta o mercado interno, fortalece os cofres públicos e, com isso, tem melhores condições de oferecer políticas públicas de qualidade.

No entanto, é preciso avançar também em outros setores. Esperamos que boas notícias como essa se repitam não apenas no campo, mas também nas áreas da indústria de transformação e dos serviços. MS precisa se industrializar mais, integrar melhor suas cadeias produtivas e investir em tecnologia, inovação e qualificação profissional. Há espaço, por exemplo, para crescer na área de produção de biocombustíveis, alimentos processados, vestuário e tecnologia da informação. O turismo, ainda tímido frente ao seu potencial, é outra fronteira promissora.

De nada adianta, contudo, crescimento econômico se ele não se traduzir em bem-estar. O que realmente importa é a população sul-mato-grossense encontrar meios de viver com dignidade: com acesso à educação de qualidade, a serviços públicos de saúde eficientes, à segurança, à cultura e a boas perspectivas de vida. A economia é, antes de tudo, um meio para se alcançar esse fim maior.

Nesse contexto, o papel do poder público é fundamental: garantir infraestrutura adequada, segurança jurídica, desburocratização e estímulos aos setores produtivos. Mas também cabe à sociedade, aos empresários e aos trabalhadores reconhecerem que o caminho da diversificação exige responsabilidade, visão de futuro e compromisso com o desenvolvimento coletivo. 

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Editorial

Onde está o Procon de Mato Grosso do Sul?

Eis o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos e isso já ocorreu um dia

10/06/2025 07h15

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Em tempos recentes, não era incomum ver equipes da Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul (Procon-MS) atuando nas ruas, acompanhando de perto a oscilação nos preços dos combustíveis e fiscalizando os postos. Era um trabalho visível, ativo e que representava um alento para os consumidores, historicamente vulneráveis diante de reajustes pouco transparentes e, por vezes, abusivos. 

A simples presença dos fiscais representava um freio à esperteza de quem tentava lucrar à custa do desrespeito ao direito do consumidor.

Mas esse tempo, infelizmente, parece ter ficado para trás. O que se observa hoje é a volta de uma rotina mais familiar à máquina pública brasileira: a lentidão, a morosidade e o desinteresse. A ausência do Procon-MS nas ruas é notável, e a sua omissão diante das recentes variações nos preços dos combustíveis levanta dúvidas legítimas sobre a continuidade e o comprometimento de sua atuação. A fiscalização sumiu, 
e com ela parte da confiança do cidadão.

Recentemente, conforme reportado nesta edição, houve duas reduções no preço da gasolina em nível nacional. No entanto, os consumidores sul-mato-grossenses não sentiram nenhum alívio no bolso – a queda não foi repassada às bombas. E o que é pior: tudo indica que o benefício da redução foi embolsado por distribuidoras e proprietários de postos. Trata-se de uma manobra silenciosa, mas escandalosa, que prejudica milhares de motoristas e trabalhadores diariamente.

Nesse cenário, resta ao cidadão a ingrata tarefa de se proteger como pode. Pesquisar preços, buscar o posto mais em conta, tentar fazer valer cada centavo gasto – essa é a única arma à disposição do consumidor comum. Embora importante, essa estratégia individual não substitui a ação do Estado, que tem instrumentos legais e institucionais para coibir abusos de forma estruturada e eficaz.

O que não se entende é por que essas ferramentas não estão sendo utilizadas. O Procon, órgão criado justamente para proteger o consumidor e fiscalizar o cumprimento das normas de defesa do consumidor, permanece inerte diante de uma situação que deveria mobilizá-lo com urgência. A omissão, nesse caso, tem consequências práticas e econômicas diretas na vida da população.

O Estado conta com meios de investigar margens de lucro, verificar notas fiscais, exigir transparência nas planilhas de custos e impor sanções quando necessário. E é esse o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos. Ignorar essa missão é abrir mão de proteger o cidadão em um dos setores mais sensíveis da economia.

Afinal, a pergunta que se impõe é simples e direta: onde está o Procon-MS? Diante de aumentos injustificados e reduções não repassadas, o silêncio do órgão não pode mais ser tolerado. A população merece respostas – e mais que isso, merece ação.

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ARTIGOS

Violência policial: a necessidade de desmilitarizar o discurso, e não a farda

06/06/2025 07h45

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Compreender a violência policial como fator intimamente ligado à militarização é, no mínimo, um equívoco teórico e um risco prático. A lógica que busca explicar a truculência de determinados (e poucos) agentes da segurança pública apenas pelo modelo organizacional das Polícias Militares (PMs) ignora variáveis mais complexas – e por isso mesmo mais relevantes – para se compreender o fenômeno.

A violência institucional, infelizmente, não é um monopólio de estruturas militares. Casos emblemáticos nos Estados Unidos, por exemplo, protagonizados por corporações civis uniformizadas, mas não militarizadas – como o Los Angeles Police Department (LAPD) –, evidenciam que o problema transcende o modelo. O episódio de Rodney King, em 1992, severamente agredido por policiais em LA, é ilustração contundente dessa constatação.

A meu ver, a raiz da violência policial pode ter múltiplos fatores: cultura institucional autoritária, falhas estruturais de formação, precarização das condições de trabalho e ausência de mecanismos eficientes de responsabilização. A hierarquia rígida da PM pode sim contribuir para a reprodução interna de abusos, mas fenômenos semelhantes também ocorrem em órgãos civis nos quais, não raramente, o assédio institucional se faz presente e, portanto, se reproduz para além do ambiente interno.

Não podemos nos esquecer que policiais no Brasil, de qualquer carreira (da Polícia Civil à Militar, da Federal à Rodoviária), enfrentam jornadas exaustivas, baixos salários (sobretudo em São Paulo, coincidentemente e curiosamente o estado mais rico do País), falta de equipamentos modernos e treinamento deficitário. Soma-se a isso uma formação, muitas vezes, voltada prioritariamente ao confronto, e não à mediação – o que amplifica o risco de condutas abusivas. Decidir não atirar, afinal, é tão desgastante e estrategicamente complexo do que optar em apertar o gatilho.

Soluções para isso tudo existem – e não são poucas. Contudo, passam longe da simplificação. Reestruturar a formação, valorizar os vencimentos e modernizar os currículos com foco em direitos humanos e na tutela coletiva eficaz dos interesses da sociedade, levando em consideração – de modo preponderante – o ser humano policial, podem ser algumas delas.

Ampliar o uso de tecnologias de controle (como as câmeras corporais) e garantir corregedorias fortalecidas e independentes também são medidas fundamentais para reduzir a violência estatal no País, sem que, para tanto, tenhamos que demonizar corporações inteiras em consequência apenas de sua gênese. Muito pelo contrário: é possível implementar políticas públicas de combate ao crime muito eficazes, tendo como premissa os sagrados valores da hierarquia e da disciplina, inerentes à instituição militar.

O debate sério sobre segurança pública no Brasil não se faz com slogans. É necessário abandonar o conforto das teses fáceis e enfrentar a complexidade dos fatos. Dessa forma, desmilitarizar o discurso é bem mais urgente, neste momento, do que desmilitarizar a farda. Não é o momento de adotarmos posturas simplistas e flagrantemente oportunistas.

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