Nesta edição, mostramos que a distribuidora estadual de gás natural anunciou um novo reajuste nas tarifas do produto em Mato Grosso do Sul e em outros estados.
O aumento ocorre justamente quando o mercado internacional entra na fase de elevação sazonal de preços, impulsionada pela chegada do inverno no Hemisfério Norte, período em que a demanda global por gás natural cresce de forma acelerada.
Esse contexto externo ajuda a explicar parte do movimento, mas não esgota o debate, especialmente porque o comportamento dos combustíveis no Brasil segue trajetória diferente.
Nos últimos meses, após a Petrobras promover ajustes que alinharam o valor do gás ao mercado internacional, os preços internos haviam se estabilizado.
Agora, o novo aumento surge em um momento no qual o petróleo e seus derivados vêm registrando queda, o que reforça a contradição percebida pelo consumidor e exige uma análise mais cuidadosa sobre os fundamentos dessa decisão.
O gás natural, diferentemente de outros combustíveis, ainda depende fortemente da estrutura centralizada de produção e importação da Petrobras. Isso faz com que oscilações cambiais e pressões contratuais impactem o mercado interno de forma direta, mesmo quando o cenário doméstico não justificaria um repasse tão imediato.
Em Mato Grosso do Sul, onde a distribuidora é estatal, essa dinâmica se torna ainda mais sensível, pois qualquer mudança se reflete diretamente nas tarifas pagas por residências, comércios, motoristas e indústrias.
O impacto tende a ser maior porque o gás natural conquistou espaço significativo no Estado. Seu uso residencial cresce à medida que novas redes de distribuição avançam pelos bairros, o gás natural veicular volta a atrair motoristas em busca de economia e o setor industrial utiliza o insumo como alternativa mais limpa e eficiente.
Quando o preço sobe, a inflação se espalha, afetando desde o custo logístico até a competitividade de setores inteiros.
É importante lembrar que o gás natural foi um dos pilares do desenvolvimento de Mato Grosso do Sul nos últimos 20 anos. A chegada do gasoduto Bolívia-Brasil ampliou a oferta energética, atraiu indústrias e garantiu uma fonte relevante de arrecadação, por meio do ICMS.
Hoje essa receita é menor, o que torna o Estado ainda mais sensível às oscilações do setor.
Por isso, mais do que avaliar apenas o reajuste, é essencial discutir o papel estratégico do gás na economia local. O Estado precisa observar de perto os movimentos do mercado e definir políticas que protejam o consumidor sem comprometer a sustentabilidade do setor.
Afinal, o gás natural já não é um coadjuvante: tornou-se peça estruturante da economia sul-mato-grossense e qualquer mudança no seu preço tem efeitos profundos e duradouros.


