O poder público brasileiro, nos três níveis de governo, vive um momento de séria restrição financeira. A capacidade de investir está comprimida por um conjunto de fatores estruturais que há anos consome a maior parte das receitas.
Uma fatia significativa do Orçamento da União está ancorada em despesas financeiras, especialmente no serviço da dívida.
Nos estados e nos municípios, o cenário não é muito diferente: os recursos ficam cada vez mais engessados por vinculações obrigatórias, como as destinadas à Saúde e à Educação – áreas essenciais, mas que, apesar dos altos valores destinados, nem sempre devolvem à sociedade os resultados minimamente esperados.
Soma-se a isso o peso crescente das folhas de pagamento, que absorvem uma parcela cada vez maior da arrecadação.
O serviço público é essencial para a vida em sociedade e sua atuação qualificada é indispensável para garantir direitos e promover desenvolvimento. No entanto, é igualmente notório que se gasta muito com a estrutura estatal. Em alguns níveis de governo, o peso da máquina é maior, em outros, um pouco menor.
Ainda assim, o padrão se repete: é possível, e necessário, gastar menos com custeio e pessoal e investir mais em obras estruturantes e políticas públicas que mudem a realidade da população.
Nesta edição, por exemplo, mostramos que Campo Grande não tem perspectiva, no médio prazo, de solucionar seus problemas de drenagem. A capital sul-mato-grossense não está entre as cidades onde mais chove no Brasil, tampouco entre as mais secas, mas certamente figura entre as mais vulneráveis às precipitações.
Basta uma chuva um pouco mais forte para que ruas se transformem em rios e bairros inteiros fiquem expostos aos prejuízos da enxurrada. Isso exige um olhar rigoroso sobre as causas e as consequências dessa vulnerabilidade: rever o modo como a cidade cresce, ordenar melhor o uso do solo e investir em projetos capazes de amenizar a força da água.
O problema, porém, é conhecido: falta dinheiro. Falta no Município, falta no Estado e falta na União. A escassez de recursos trava iniciativas importantes, prolonga soluções e posterga investimentos que deveriam ser permanentes e estratégicos.
Por isso, é urgente recuperar a capacidade de investimento do serviço público. Governos precisam voltar a ter margem para planejar, executar e entregar obras e serviços que façam a diferença no cotidiano da população.
A presença do Estado não pode ser apenas administrativa ou normativa, ela precisa ser material, concreta, percebida nas ruas, nos bairros e na qualidade de vida das pessoas.
Somente com finanças públicas mais leves e melhor equilibradas será possível atender aos anseios da sociedade e construir um futuro mais seguro, mais estável e mais justo.


