Artigos e Opinião

ARTIGO

Octávio Luiz Franco: "A revolução dos mini-órgãos sintéticos em chips"

Professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UCDB

Redação

01/09/2015 - 00h00
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Na última década um enorme debate sobre o uso de animais tem trespassado os limites da ciência e da sociedade. De um lado, os ativistas alegam a completa falta de necessidade de testes em animais, acusando os cientistas e indústrias farmacêuticas de crueldade vil e exacerbada. Do outro, os acusados, que alegam a extrema necessidade dos testes em modelos animais e declaram a falta de conhecimento técnico e profissional para a alegação dos ativistas. 

Embora ambos os lados apresentem suas respectivas razões e verdades, o que se sabe é que para que um fármaco possa chegar as prateleiras e salvar milhares de vidas, são necessários essencialmente múltiplos e severos testes, bem como um investimento bilionário. Basicamente nos dias de hoje não podemos tratar seres humanos sem longos estudos feitos em modelos in vivo. Entretanto, de uma forma geral, também não gostamos da ideia de sacrificar animais, fazendo esta equação de difícil solução.

Desta forma a ciência tem buscado alternativas ao uso de animais em testes farmacológicos. Dentre estas podemos descrever os enormes avanços nos chamados órgão-em-chips, do inglês organs-on-chips. Pesquisadores no mundo inteiro tem desenvolvido modelos em miniatura de órgãos humanos em chips plásticos como uma proposta mundial de substituição ao uso de animais para testes farmacológicos. Embora este objetivo ainda esteja um pouco distante, as grandes indústrias farmacêuticas começaram este ano a investir pesado na utilização destes mini-modelos in vitro, propondo uma maior acurácia e segurança em comparação aos testes convencionais. 

Em resumo, os criadores dos órgãos-em-chips sugerem que hoje estes artefatos consistem no mais realístico modelo de órgãos humanos. Neste caso, dizem os pesquisadores, não há o viés de usar outras espécies como ratos, camundongos, cães e macacos. São usadas células humanas reais que podem ser removidas inclusive do paciente em questão, tornando a medicina cada vez mais personalizada. Além disso estes órgãos são muito mais realistas do que células humanas testadas em monocamadas simples quando crescidas em placas de Petri. Alguns exemplos já desenvolvidos são extremamente fascinantes. 

O pulmão-em-chip consiste em um artefato plástico criado com uma impressora 3D e organizado com células humanas. Este pequeno pulmão tridimensional apresenta uma face que interage com um meio similar ao sangue e uma segunda superfície que interatua com o ar. Uma micromáquina comprime e relaxa o artefato mimetizando uma respiração real. Desta forma é possível medir como medicamentos afetam a respiração humana. 

Além dos pulmões, corações e rins em chips também sido produzidos demonstrando a versatilidade da tecnologia. Interessantes testes demonstraram que um coração-em-chip foi capaz de responder a adrenalina, aumentando a velocidade dos batimentos cardíacos como aconteceria em um coração comum. Além disso órgãos em miniaturas simulando doenças congênitas ou má-formação também tem sido criados afim de aumentar o conhecimento das doenças e simular melhor a atividade dos fármacos desejáveis para controle das mesmas. 

Adicionalmente a simulação de doenças, estes órgãos também podem auxiliar na definição da melhor concentração de fármacos desenvolvidos, categorizando inclusive possíveis efeitos tóxicos. Pesquisadores no mundo todo estão ansiosos por comparar os dados dos órgãos-em-chip e modelos animais. Esta comparação direta e pragmática possibilitará ou não a transição dos testes reduzindo o número de animais envolvidos. 

Entretanto o que se sabe hoje é que esta tecnologia é extremamente pungente e desejável, valendo cada centavo do investimento feito. Em breve poderemos ter reais alternativas para o uso de animais, aumentando a acurácia e diminuindo os efeitos deletérios causados aos mesmos. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

EDITORIAL

Mobilidade em risco no momento mais crítico

Em dezembro, quando a cidade deveria estar focada em avançar economicamente e aquecer o comércio, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho

06/12/2025 07h15

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A ameaça de paralisação do transporte coletivo em pleno fim de ano é tudo o que Campo Grande não precisava enfrentar. Em um período naturalmente sensível para a economia – com comércio aquecido, maior demanda por serviços e intensa circulação de pessoas –, qualquer instabilidade se transforma em prejuízo social e financeiro.

A cidade depende do funcionamento do sistema de ônibus para manter seu ritmo, e qualquer incerteza coloca em risco não apenas o deslocamento diário da população, mas também o desempenho econômico de diversos setores. A engrenagem urbana, especialmente em dezembro, não tolera paradas bruscas.

O Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo da Capital, afirma que enfrenta dificuldades financeiras severas e que não dispõe de recursos para pagar o 13º salário de motoristas e demais funcionários. Alega atrasos em repasses de subsídios públicos, que são parte importante da equação econômica do sistema.

Por trás da disputa técnica entre governo, prefeitura e consórcio, há um fato concreto: se os ônibus param, quem paga a conta é o cidadão – aquele que depende do transporte para trabalhar, estudar, acessar serviços de saúde ou simplesmente fazer suas compras de fim de ano.

É preciso compreender que a paralisação do transporte coletivo não afeta apenas quem usa o ônibus. O impacto econômico é profundo e imediato. Sem mobilidade, trabalhadores podem faltar, empresas reduzem fluxo, o comércio perde movimento e serviços deixam de ser prestados.

A suspensão da frota significa atrasos em entregas, queda no faturamento e um ciclo negativo que se espalha rapidamente pela economia local. Em um momento em que Campo Grande tenta equilibrar sua atividade econômica e superar dificuldades após a pandemia e a crise fiscal, o risco de colapso do transporte coletivo é preocupante.

No centro do impasse estão os repasses públicos – atrasados, segundo o consórcio – em um período crítico, tanto para o governo do Estado quanto para a prefeitura. O Estado enfrenta diminuição no ritmo da arrecadação, algo que afeta diretamente sua capacidade de ampliar aportes.

A prefeitura, por sua vez, vive um quadro de aperto financeiro evidente, inclusive com dificuldades para honrar seu próprio 13º salário. Não é a melhor combinação para um sistema que depende fortemente do equilíbrio entre tarifas e subsídios para funcionar.

O transporte coletivo, por sua natureza, exige previsibilidade. Quando esse elemento desaparece, todo o sistema fica vulnerável. A população, já acostumada a enfrentar ônibus lotados, longas esperas e limitações estruturais, não pode ser penalizada novamente por questões administrativas ou disputas financeiras.

É momento de responsabilidade de todas as partes: o consórcio precisa demonstrar transparência sobre suas contas; o poder público precisa oferecer clareza sobre repasses e obrigações; e ambos precisam agir com rapidez para evitar que a cidade pare.

Em dezembro, quando Campo Grande deveria estar focada em avançar economicamente, aquecer o comércio e garantir a normalidade da rotina urbana, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho.

Não se trata de um problema setorial, mas de uma ameaça ao funcionamento da cidade como um todo. A solução precisa ser imediata, dialogada e comprometida com a continuidade do serviço. A população não pode – e não deve – ser a parte mais prejudicada dessa equação.

ARTIGOS

Trump e Maduro: uma questão de legitimidade

O campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões

05/12/2025 07h45

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O tensionamento da relação entre Estados Unidos e Venezuela nos últimos tempos tem produzido uma série de reflexões sobre os motivos (reais ou alegados) acerca de tal panorama e o impacto que a disputa pode produzir no Brasil em termos geopolíticos, dado o posicionamento do governo federal atual sobre a situação e, especificamente, sobre os mandatários Donald Trump e Nicolás Maduro. Em última análise, a questão diz respeito ao conceito de legitimidade, ponto que merece alguma discussão.

A noção de que algo é legítimo se refere ao fato de que uma determinada situação está de acordo com o direito ou com a concepção social de justiça, ou seja, além da mera aferição formal de legalidade. Assim sendo, o campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões.

Primeiramente, há que se verificar a legitimidade do mandato presidencial de Maduro para, na sequência, refletir acerca da legitimidade da ação de Trump em relação à Venezuela. Ainda que sejam assuntos teoricamente independentes, parece difícil negar a vinculação existente entre os assuntos, com maior ou menor relevância, a depender da ótica do analista.

A eleição presidencial na Venezuela, ocorrida em 2024, colocou diante de Nicolás Maduro a oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer, sendo substituída por Edmundo González Urrutia como figura principal de contraponto ao presidente durante o pleito.

Sob acusação da oposição e de observadores internacionais de falta de clareza na contagem de votos, não houve o reconhecimento da vitória de Maduro, que está no cargo desde 2012, primeiro interinamente (em substituição a Hugo Chávez) e, depois, por meio de eleições, realizadas em 2013 e 2018, mas a última vitória também havia sido objeto de muita discussão em decorrência da suspeita de fraude.

Nos últimos meses, sob o argumento de combate ao tráfico de drogas na América Latina, o governo norte-americano tem aumentado a pressão sobre maduro, alegando que ele teria ligação com o Cartel de los Soles, inclusive estabelecendo uma recompensa de US$ 50 milhões por informações aptas a levar à captura do atual presidente venezuelano.

A chegada do gigantesco porta-aviões USS Gerald Ford à região do Mar do Caribe reforçou a tensão e a possibilidade de que uma atitude mais drástica possa ocorrer a qualquer momento. A caracterização de grupos criminosos ligados ao narcotráfico como terroristas, responsáveis por efeitos nocivos no território norte-americano, é utilizada como argumento por Trump para justificar a ação mais incisiva.

O Brasil, como principal potência regional da América do Sul, é claramente agente interessado no desenrolar dos fatos, pois o conflito envolve a nação mais forte militar, política, cultural e economicamente do mundo e um país fronteiriço.

A grande questão é que está se aproximando, cada vez mais, o momento em que o posicionamento brasileiro pode trazer consequências concretas mais efetivas ao País, do ponto de vista político e econômico, muito além da questão da ampliação das tarifas.

A legitimidade de Maduro e Trump com relação a suas ações é pressuposto inafastável para a consideração desse complexo contexto internacional. O Brasil não pode se furtar a tomar uma posição em relação a isso em algum momento, pois muitos dos agentes envolvidos têm ligação com o País, seja historicamente ou por meio de organismos internacionais.

Ainda que, algumas vezes, certas figuras influentes politicamente queiram passar a falsa impressão de que determinadas situações complexas possam ser resolvidas de modo simples, com uma conversa, é evidente que o caso envolvendo Trump e Maduro pode ter implicações muito sérias para a sociedade brasileira, dado o problema nacional envolvendo o narcotráfico.

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