Artigos e Opinião

ARTIGO

Octávio Luiz Franco: Altas temperatura em Campo Grande

Professor do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia-UCDB

Redação

30/09/2015 - 00h00
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Nas últimas semanas, Campo Grande foi assolada por uma forte onda de calor, oscilando temperaturas em mais de 15 graus em um único dia. Embora esta ocorrência não seja novidade, o que pode ser observado é que estas tais ondas de calor têm sido ampliadas e também têm se apresentado em períodos diferentes dos convencionais. Desta forma, aparentemente, já estamos sofrendo os efeitos diretos do aquecimento global em nossa cidade. 

Este problema, infelizmente, não é exclusividade de Campo Grande, já ocorrendo em muitas grandes cidades de todos o mundo. Desde o início do século 21 tem-se observado um aumento sistemático de temperatura em inúmeros países. Alguns exemplos mais proeminentes foram registrados em detalhes, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2003. Neste período, observou-se temperaturas elevadas que quebraram recordes dos últimos 500 anos. Em Paris registrou-se temperaturas de até 40º C. Desta forma, medidas de prevenção são essenciais e se não houverem intervenções, até 2050, teremos o que chamamos de inúmeras ilhas de calor por todo o mundo.  

Entretanto, diferentes e criativas soluções têm sido buscadas em inúmeros países onde já se sente um aumento médio de até 4º C. Uma das saídas testadas nos últimos anos foram os conhecidos tetos verdes ou green roofs. Em cidades onde a densidade populacional é alta e a selva de pedra já substituiu as florestas verdes, tem-se proposto o cultivo de plantas em todos os tetos de prédios e casas. Tetos verdes podem refletir melhor a luz do que telhados convencionais, mas sua capacidade de resfriar o ambiente advém diretamente da relação planta-solo. Além disso a água das plantas e do solo evaporam, reduzindo a temperatura do ar neste microambiente especifico. Assim os tetos verdes reduzem a temperatura em um nível local, mas não são capazes de reduzir a temperatura de uma cidade completa. Inúmeros testes e análises monitoradas por 270 diferentes sensores desenvolvidos na Universidade de Toronto, Canadá, que se localiza na cidade com a maior quantidade de tetos verdes no mundo, demonstraram que embora estes jardins elevados tragam claros benefícios, infelizmente foram incapazes de reduzir a temperatura em toda cidade. 

Assim, dada a ineficiência dos tetos verdes em nível global, novas propostas também têm sido criadas, como os tetos frescos ou cool roofs. Os tetos frescos, feitos de matérias mais reflexivos, têm sido capazes de reduzir com muito mais eficiência as temperaturas de cidades. Mesmos eles ainda não foram capazes de fazer uma contribuição significativa à redução de temperatura, que só ocorre com maior eficiência quando associada ao plantio de árvores nas ruas e a conversão de áreas pavimentadas à gramados. Entretanto, os tetos frescos também podem causar efeitos negativos. Dada a variação de temperatura, ele pode inibir os ventos por modificar a direção de massas de ar e em alguns casos pode também alterar os níveis de precipitação pluviométrica, ou seja, a quantidade de chuvas, em determinadas regiões como observado na Flórida (EUA). 

Desta forma, no momento, temos apenas duas certezas. A primeira é que ainda não temos estratégias eficientes para todos os casos e que muito ainda há de ser feito. A segunda é de que as grandes cidades não estão se mobilizando suficientemente para evitar os problemas que virão com o aumento de temperatura. 

A hora de nos mobilizarmos é agora e este aviso também se encaixa perfeitamente a cidade morena. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.

Editorial

Onde está o Procon de Mato Grosso do Sul?

Eis o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos e isso já ocorreu um dia

10/06/2025 07h15

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Em tempos recentes, não era incomum ver equipes da Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul (Procon-MS) atuando nas ruas, acompanhando de perto a oscilação nos preços dos combustíveis e fiscalizando os postos. Era um trabalho visível, ativo e que representava um alento para os consumidores, historicamente vulneráveis diante de reajustes pouco transparentes e, por vezes, abusivos. 

A simples presença dos fiscais representava um freio à esperteza de quem tentava lucrar à custa do desrespeito ao direito do consumidor.

Mas esse tempo, infelizmente, parece ter ficado para trás. O que se observa hoje é a volta de uma rotina mais familiar à máquina pública brasileira: a lentidão, a morosidade e o desinteresse. A ausência do Procon-MS nas ruas é notável, e a sua omissão diante das recentes variações nos preços dos combustíveis levanta dúvidas legítimas sobre a continuidade e o comprometimento de sua atuação. A fiscalização sumiu, 
e com ela parte da confiança do cidadão.

Recentemente, conforme reportado nesta edição, houve duas reduções no preço da gasolina em nível nacional. No entanto, os consumidores sul-mato-grossenses não sentiram nenhum alívio no bolso – a queda não foi repassada às bombas. E o que é pior: tudo indica que o benefício da redução foi embolsado por distribuidoras e proprietários de postos. Trata-se de uma manobra silenciosa, mas escandalosa, que prejudica milhares de motoristas e trabalhadores diariamente.

Nesse cenário, resta ao cidadão a ingrata tarefa de se proteger como pode. Pesquisar preços, buscar o posto mais em conta, tentar fazer valer cada centavo gasto – essa é a única arma à disposição do consumidor comum. Embora importante, essa estratégia individual não substitui a ação do Estado, que tem instrumentos legais e institucionais para coibir abusos de forma estruturada e eficaz.

O que não se entende é por que essas ferramentas não estão sendo utilizadas. O Procon, órgão criado justamente para proteger o consumidor e fiscalizar o cumprimento das normas de defesa do consumidor, permanece inerte diante de uma situação que deveria mobilizá-lo com urgência. A omissão, nesse caso, tem consequências práticas e econômicas diretas na vida da população.

O Estado conta com meios de investigar margens de lucro, verificar notas fiscais, exigir transparência nas planilhas de custos e impor sanções quando necessário. E é esse o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos. Ignorar essa missão é abrir mão de proteger o cidadão em um dos setores mais sensíveis da economia.

Afinal, a pergunta que se impõe é simples e direta: onde está o Procon-MS? Diante de aumentos injustificados e reduções não repassadas, o silêncio do órgão não pode mais ser tolerado. A população merece respostas – e mais que isso, merece ação.

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ARTIGOS

Violência policial: a necessidade de desmilitarizar o discurso, e não a farda

06/06/2025 07h45

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Compreender a violência policial como fator intimamente ligado à militarização é, no mínimo, um equívoco teórico e um risco prático. A lógica que busca explicar a truculência de determinados (e poucos) agentes da segurança pública apenas pelo modelo organizacional das Polícias Militares (PMs) ignora variáveis mais complexas – e por isso mesmo mais relevantes – para se compreender o fenômeno.

A violência institucional, infelizmente, não é um monopólio de estruturas militares. Casos emblemáticos nos Estados Unidos, por exemplo, protagonizados por corporações civis uniformizadas, mas não militarizadas – como o Los Angeles Police Department (LAPD) –, evidenciam que o problema transcende o modelo. O episódio de Rodney King, em 1992, severamente agredido por policiais em LA, é ilustração contundente dessa constatação.

A meu ver, a raiz da violência policial pode ter múltiplos fatores: cultura institucional autoritária, falhas estruturais de formação, precarização das condições de trabalho e ausência de mecanismos eficientes de responsabilização. A hierarquia rígida da PM pode sim contribuir para a reprodução interna de abusos, mas fenômenos semelhantes também ocorrem em órgãos civis nos quais, não raramente, o assédio institucional se faz presente e, portanto, se reproduz para além do ambiente interno.

Não podemos nos esquecer que policiais no Brasil, de qualquer carreira (da Polícia Civil à Militar, da Federal à Rodoviária), enfrentam jornadas exaustivas, baixos salários (sobretudo em São Paulo, coincidentemente e curiosamente o estado mais rico do País), falta de equipamentos modernos e treinamento deficitário. Soma-se a isso uma formação, muitas vezes, voltada prioritariamente ao confronto, e não à mediação – o que amplifica o risco de condutas abusivas. Decidir não atirar, afinal, é tão desgastante e estrategicamente complexo do que optar em apertar o gatilho.

Soluções para isso tudo existem – e não são poucas. Contudo, passam longe da simplificação. Reestruturar a formação, valorizar os vencimentos e modernizar os currículos com foco em direitos humanos e na tutela coletiva eficaz dos interesses da sociedade, levando em consideração – de modo preponderante – o ser humano policial, podem ser algumas delas.

Ampliar o uso de tecnologias de controle (como as câmeras corporais) e garantir corregedorias fortalecidas e independentes também são medidas fundamentais para reduzir a violência estatal no País, sem que, para tanto, tenhamos que demonizar corporações inteiras em consequência apenas de sua gênese. Muito pelo contrário: é possível implementar políticas públicas de combate ao crime muito eficazes, tendo como premissa os sagrados valores da hierarquia e da disciplina, inerentes à instituição militar.

O debate sério sobre segurança pública no Brasil não se faz com slogans. É necessário abandonar o conforto das teses fáceis e enfrentar a complexidade dos fatos. Dessa forma, desmilitarizar o discurso é bem mais urgente, neste momento, do que desmilitarizar a farda. Não é o momento de adotarmos posturas simplistas e flagrantemente oportunistas.

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