Nas últimas semanas, Campo Grande foi assolada por uma forte onda de calor, oscilando temperaturas em mais de 15 graus em um único dia. Embora esta ocorrência não seja novidade, o que pode ser observado é que estas tais ondas de calor têm sido ampliadas e também têm se apresentado em períodos diferentes dos convencionais. Desta forma, aparentemente, já estamos sofrendo os efeitos diretos do aquecimento global em nossa cidade.
Este problema, infelizmente, não é exclusividade de Campo Grande, já ocorrendo em muitas grandes cidades de todos o mundo. Desde o início do século 21 tem-se observado um aumento sistemático de temperatura em inúmeros países. Alguns exemplos mais proeminentes foram registrados em detalhes, como a onda de calor que atingiu a Europa em 2003. Neste período, observou-se temperaturas elevadas que quebraram recordes dos últimos 500 anos. Em Paris registrou-se temperaturas de até 40º C. Desta forma, medidas de prevenção são essenciais e se não houverem intervenções, até 2050, teremos o que chamamos de inúmeras ilhas de calor por todo o mundo.
Entretanto, diferentes e criativas soluções têm sido buscadas em inúmeros países onde já se sente um aumento médio de até 4º C. Uma das saídas testadas nos últimos anos foram os conhecidos tetos verdes ou green roofs. Em cidades onde a densidade populacional é alta e a selva de pedra já substituiu as florestas verdes, tem-se proposto o cultivo de plantas em todos os tetos de prédios e casas. Tetos verdes podem refletir melhor a luz do que telhados convencionais, mas sua capacidade de resfriar o ambiente advém diretamente da relação planta-solo. Além disso a água das plantas e do solo evaporam, reduzindo a temperatura do ar neste microambiente especifico. Assim os tetos verdes reduzem a temperatura em um nível local, mas não são capazes de reduzir a temperatura de uma cidade completa. Inúmeros testes e análises monitoradas por 270 diferentes sensores desenvolvidos na Universidade de Toronto, Canadá, que se localiza na cidade com a maior quantidade de tetos verdes no mundo, demonstraram que embora estes jardins elevados tragam claros benefícios, infelizmente foram incapazes de reduzir a temperatura em toda cidade.
Assim, dada a ineficiência dos tetos verdes em nível global, novas propostas também têm sido criadas, como os tetos frescos ou cool roofs. Os tetos frescos, feitos de matérias mais reflexivos, têm sido capazes de reduzir com muito mais eficiência as temperaturas de cidades. Mesmos eles ainda não foram capazes de fazer uma contribuição significativa à redução de temperatura, que só ocorre com maior eficiência quando associada ao plantio de árvores nas ruas e a conversão de áreas pavimentadas à gramados. Entretanto, os tetos frescos também podem causar efeitos negativos. Dada a variação de temperatura, ele pode inibir os ventos por modificar a direção de massas de ar e em alguns casos pode também alterar os níveis de precipitação pluviométrica, ou seja, a quantidade de chuvas, em determinadas regiões como observado na Flórida (EUA).
Desta forma, no momento, temos apenas duas certezas. A primeira é que ainda não temos estratégias eficientes para todos os casos e que muito ainda há de ser feito. A segunda é de que as grandes cidades não estão se mobilizando suficientemente para evitar os problemas que virão com o aumento de temperatura.
A hora de nos mobilizarmos é agora e este aviso também se encaixa perfeitamente a cidade morena. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.