Muito se tem escrito sobre a inspiração. As ideias surgem às vezes provenientes de detalhes às vezes quase imperceptíveis que levam o pesquisador para um nível de descoberta acima do comum. Estes níveis, por conseguinte, podem mudar o mundo onde vivemos, transformando conceitos nunca antes imaginados, alterando a vida cotidiana e se tornando extremamente comuns. Na década de 70, vídeoconferências eram simplesmente um conceito imaginado em contos de ficção científica em um mundo que se comunicava através de cabines telefônicas e orelhões propulsionados a fichas ou moedas.
Há apenas 30 anos a internet era apenas um embrião do organismo multitentacular que penetra profundamente em nossas vidas, nos tornando aptos a resolver inúmeras coisas com apenas um comando, que ainda pode ser de voz, em nossos aparelhos de telefonia celular. Entretanto, a nossa imaginação às vezes pode ser limitada e retornamos novamente à busca de novas ideias e novas inspirações em objetos ou organismos já existentes. A natureza sempre foi e sempre será uma fonte riquíssima de inspiração para produtos de todos os tipos.
Reza a lenda de que o velcro basicamente foi inspirado em plantas que agarravam nas calças como os famigerados picões. Analisando a estrutura molecular dos mesmos, imitações foram sendo desenvolvidas criando um sistema simplório e eficiente de conexão entre dois materiais. Entretanto, hoje o que chamamos de bioinspiração tem sido mais do que levado a sério em inúmeros países do mundo.
Em alguns casos em que encontramos uma limitação de imaginação do pesquisador e também uma restrição para o uso de produtos naturais, a bioinspiração tem sido uma excelente solução. Como exemplo podemos citar a problemática encontrada por grupos de pesquisa em todo o mundo que encontram comumente possíveis produtos farmacológicos em plantas nativas.
Milhares de trabalhos anualmente são publicados por possíveis curas de doenças tecnicamente incuráveis em flores da Amazônia, folhas de plantas do Pantanal ou de alguma semente rara encontrada no deserto do Saara. Entretanto, poucos fármacos realmente ativos chegam ao mercado e a maioria das doenças continuam fazendo vítimas fatais, apesar das milagrosas descobertas. Isto acontece devido a uma enorme dificuldade em mimetizar os compostos destas plantas e transformá-los em um fármaco comercial estável, barato e reprodutível.
Afinal, ninguém quer comprar um remédio que tem 50% de chance de funcionar. Neste ponto, entram os estudiosos em bioinpiração. Estes pesquisadores, em um primeiro passo, desvendam as peculiaridades dentro das moléculas de um organismo vivo, entendendo os pontos que podem ser relacionados a uma determinada atividade farmacológica. A partir daí o cientista começa a criar novas moléculas que contenham esta informação, mas que sejam mais baratas, estáveis e confiáveis.
Assim, cria-se um produto sintético baseado em um conhecimento natural. Basicamente uma molécula inovadora capaz de ser produzida em laboratório pode ser criada, mas com as propriedades que a natureza levou milhares de anos para criar. Neste sentido antibióticos, compostos ativos contra Alzheimer e outras doenças neurodegenrativas têm sido criados. Além disso nanoestruturas capazes de regenerar pele, órgãos e tecidos também têm sido recriados a partir de produtos naturais.
Desta forma podemos dizer que conhecimento é tudo. Juntar a sabedoria da natureza com conhecimento da humanidade tem sido uma arma potente contra males que afetam a humanidade. A ciência está vigilante ao nosso lado, atuando sabiamente para solucionar os problemas de nossa sociedade.