Artigos e Opinião

CENAS

Oswaldo Barbosa de Almeida: "A Exposição Campo-grandense"

Advogado e escritor

Redação

01/10/2015 - 00h00
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Já mencionei em outras oportunidades o meu primeiro emprego com carteira assinada, aos quinze anos de idade: foi na loja “A Exposição Campo-grandense”, localizada na Rua 14 de Julho, logo após a Avenida Afonso Pena, lado esquerdo.

Pertencia à sociedade “Coe­lho & Vidal, Ltda.”, formada pelas sócias Dra. Eclair Vidal, graduada em Odontologia (na época não mais exercia a profissão), e as irmãs Adelaide e Eudeter  Martins Coelho, filhas do grande proprietário rural Laucídio Coelho. 

Meu humilde trabalho consistia em realizar a limpeza da loja, interna e externamente, bem como fazer a entrega a domicílio de compras efetuadas na loja, utilizando, inicialmente, uma bicicleta. Dividia comigo essas tarefas um jovem de idade próxima da minha, que já trabalhava ali quando fui admitido e que fora meu colega no  quarto ano do curso primário, do então Grupo Escolar Vespasiano Martins. 

A doutora Eclair era proprietária de um carro Volkswagen sedan, ano 1953, importado, de cor preta, que era muito bem cuidado, sempre limpo e brilhante. Algum tempo depois de começar no emprego, fui solicitado a fazer a limpeza regular do xodó, mediante uma gratificação adicional, tarefa que cumpria com grande satisfação, quando admirava os detalhes daquela máquina que era um sonho para muita gente e um privilégio de poucos.

O carrinho tinha duas janelas traseiras quase ovais e a seta  indicadora de direção era realmente uma seta embutida em cada uma das colunas  laterais; quando acionada, acendia-se e saía de seu habitáculo apontando o rumo que o  veículo iria tomar. 

As outras duas sócias, as irmãs Coelho, não possuíam automóveis, não por falta de condições econômico-financeiras, é óbvio, mas, provavelmente, por desinteresse ou  desnecessidade, o que era muito comum naqueles tempos de vida tranquila, numa cidade ainda relativamente pacata. Como o abastecimento de energia elétrica em Campo Grande na época era tremendamente deficiente (já escrevi também aqui sobre esse problema), o  estabelecimento possuía um conjunto motor-gerador movido a óleo diesel, instalado numa edificação adequada, nos fundos da loja. 

Todas as vezes em que havia corte no  fornecimento de energia pela concessionária Cia. Mato-grossense de Eletricidade, o motor era acionado, suprindo as necessidades de iluminação da loja, com folga. O meu  colega era o encarregado de verificar regularmente as condições do motor, como os  níveis do óleo lubrificante e da água do radiador de temperatura, completando-os  quando necessário. Mais adiante essa tarefa passou igualmente para minha responsabilidade, também com o pagamento de uma gratificação a mais. 

No fundo do enorme terreno da loja, as sócias mandaram edificar uma grande residência para elas, um prédio de dois pavimentos, no qual adentrei apenas uma vez,  durante a fase final de construção. Depois que a “Exposição” teve suas atividades  encerradas, o prédio sediou outras casas comerciais, de diversos ramos. Não sei a quem  pertence a edificação atualmente.

 Advogado e escritor
([email protected])

Editorial

Onde está o Procon de Mato Grosso do Sul?

Eis o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos e isso já ocorreu um dia

10/06/2025 07h15

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Em tempos recentes, não era incomum ver equipes da Secretaria-Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor de Mato Grosso do Sul (Procon-MS) atuando nas ruas, acompanhando de perto a oscilação nos preços dos combustíveis e fiscalizando os postos. Era um trabalho visível, ativo e que representava um alento para os consumidores, historicamente vulneráveis diante de reajustes pouco transparentes e, por vezes, abusivos. 

A simples presença dos fiscais representava um freio à esperteza de quem tentava lucrar à custa do desrespeito ao direito do consumidor.

Mas esse tempo, infelizmente, parece ter ficado para trás. O que se observa hoje é a volta de uma rotina mais familiar à máquina pública brasileira: a lentidão, a morosidade e o desinteresse. A ausência do Procon-MS nas ruas é notável, e a sua omissão diante das recentes variações nos preços dos combustíveis levanta dúvidas legítimas sobre a continuidade e o comprometimento de sua atuação. A fiscalização sumiu, 
e com ela parte da confiança do cidadão.

Recentemente, conforme reportado nesta edição, houve duas reduções no preço da gasolina em nível nacional. No entanto, os consumidores sul-mato-grossenses não sentiram nenhum alívio no bolso – a queda não foi repassada às bombas. E o que é pior: tudo indica que o benefício da redução foi embolsado por distribuidoras e proprietários de postos. Trata-se de uma manobra silenciosa, mas escandalosa, que prejudica milhares de motoristas e trabalhadores diariamente.

Nesse cenário, resta ao cidadão a ingrata tarefa de se proteger como pode. Pesquisar preços, buscar o posto mais em conta, tentar fazer valer cada centavo gasto – essa é a única arma à disposição do consumidor comum. Embora importante, essa estratégia individual não substitui a ação do Estado, que tem instrumentos legais e institucionais para coibir abusos de forma estruturada e eficaz.

O que não se entende é por que essas ferramentas não estão sendo utilizadas. O Procon, órgão criado justamente para proteger o consumidor e fiscalizar o cumprimento das normas de defesa do consumidor, permanece inerte diante de uma situação que deveria mobilizá-lo com urgência. A omissão, nesse caso, tem consequências práticas e econômicas diretas na vida da população.

O Estado conta com meios de investigar margens de lucro, verificar notas fiscais, exigir transparência nas planilhas de custos e impor sanções quando necessário. E é esse o papel esperado de um Procon ativo: não apenas educar, mas também fiscalizar e punir quando houver abusos. Ignorar essa missão é abrir mão de proteger o cidadão em um dos setores mais sensíveis da economia.

Afinal, a pergunta que se impõe é simples e direta: onde está o Procon-MS? Diante de aumentos injustificados e reduções não repassadas, o silêncio do órgão não pode mais ser tolerado. A população merece respostas – e mais que isso, merece ação.

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ARTIGOS

Violência policial: a necessidade de desmilitarizar o discurso, e não a farda

06/06/2025 07h45

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Compreender a violência policial como fator intimamente ligado à militarização é, no mínimo, um equívoco teórico e um risco prático. A lógica que busca explicar a truculência de determinados (e poucos) agentes da segurança pública apenas pelo modelo organizacional das Polícias Militares (PMs) ignora variáveis mais complexas – e por isso mesmo mais relevantes – para se compreender o fenômeno.

A violência institucional, infelizmente, não é um monopólio de estruturas militares. Casos emblemáticos nos Estados Unidos, por exemplo, protagonizados por corporações civis uniformizadas, mas não militarizadas – como o Los Angeles Police Department (LAPD) –, evidenciam que o problema transcende o modelo. O episódio de Rodney King, em 1992, severamente agredido por policiais em LA, é ilustração contundente dessa constatação.

A meu ver, a raiz da violência policial pode ter múltiplos fatores: cultura institucional autoritária, falhas estruturais de formação, precarização das condições de trabalho e ausência de mecanismos eficientes de responsabilização. A hierarquia rígida da PM pode sim contribuir para a reprodução interna de abusos, mas fenômenos semelhantes também ocorrem em órgãos civis nos quais, não raramente, o assédio institucional se faz presente e, portanto, se reproduz para além do ambiente interno.

Não podemos nos esquecer que policiais no Brasil, de qualquer carreira (da Polícia Civil à Militar, da Federal à Rodoviária), enfrentam jornadas exaustivas, baixos salários (sobretudo em São Paulo, coincidentemente e curiosamente o estado mais rico do País), falta de equipamentos modernos e treinamento deficitário. Soma-se a isso uma formação, muitas vezes, voltada prioritariamente ao confronto, e não à mediação – o que amplifica o risco de condutas abusivas. Decidir não atirar, afinal, é tão desgastante e estrategicamente complexo do que optar em apertar o gatilho.

Soluções para isso tudo existem – e não são poucas. Contudo, passam longe da simplificação. Reestruturar a formação, valorizar os vencimentos e modernizar os currículos com foco em direitos humanos e na tutela coletiva eficaz dos interesses da sociedade, levando em consideração – de modo preponderante – o ser humano policial, podem ser algumas delas.

Ampliar o uso de tecnologias de controle (como as câmeras corporais) e garantir corregedorias fortalecidas e independentes também são medidas fundamentais para reduzir a violência estatal no País, sem que, para tanto, tenhamos que demonizar corporações inteiras em consequência apenas de sua gênese. Muito pelo contrário: é possível implementar políticas públicas de combate ao crime muito eficazes, tendo como premissa os sagrados valores da hierarquia e da disciplina, inerentes à instituição militar.

O debate sério sobre segurança pública no Brasil não se faz com slogans. É necessário abandonar o conforto das teses fáceis e enfrentar a complexidade dos fatos. Dessa forma, desmilitarizar o discurso é bem mais urgente, neste momento, do que desmilitarizar a farda. Não é o momento de adotarmos posturas simplistas e flagrantemente oportunistas.

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