Já mencionei em outras oportunidades o meu primeiro emprego com carteira assinada, aos quinze anos de idade: foi na loja “A Exposição Campo-grandense”, localizada na Rua 14 de Julho, logo após a Avenida Afonso Pena, lado esquerdo.
Pertencia à sociedade “Coelho & Vidal, Ltda.”, formada pelas sócias Dra. Eclair Vidal, graduada em Odontologia (na época não mais exercia a profissão), e as irmãs Adelaide e Eudeter Martins Coelho, filhas do grande proprietário rural Laucídio Coelho.
Meu humilde trabalho consistia em realizar a limpeza da loja, interna e externamente, bem como fazer a entrega a domicílio de compras efetuadas na loja, utilizando, inicialmente, uma bicicleta. Dividia comigo essas tarefas um jovem de idade próxima da minha, que já trabalhava ali quando fui admitido e que fora meu colega no quarto ano do curso primário, do então Grupo Escolar Vespasiano Martins.
A doutora Eclair era proprietária de um carro Volkswagen sedan, ano 1953, importado, de cor preta, que era muito bem cuidado, sempre limpo e brilhante. Algum tempo depois de começar no emprego, fui solicitado a fazer a limpeza regular do xodó, mediante uma gratificação adicional, tarefa que cumpria com grande satisfação, quando admirava os detalhes daquela máquina que era um sonho para muita gente e um privilégio de poucos.
O carrinho tinha duas janelas traseiras quase ovais e a seta indicadora de direção era realmente uma seta embutida em cada uma das colunas laterais; quando acionada, acendia-se e saía de seu habitáculo apontando o rumo que o veículo iria tomar.
As outras duas sócias, as irmãs Coelho, não possuíam automóveis, não por falta de condições econômico-financeiras, é óbvio, mas, provavelmente, por desinteresse ou desnecessidade, o que era muito comum naqueles tempos de vida tranquila, numa cidade ainda relativamente pacata. Como o abastecimento de energia elétrica em Campo Grande na época era tremendamente deficiente (já escrevi também aqui sobre esse problema), o estabelecimento possuía um conjunto motor-gerador movido a óleo diesel, instalado numa edificação adequada, nos fundos da loja.
Todas as vezes em que havia corte no fornecimento de energia pela concessionária Cia. Mato-grossense de Eletricidade, o motor era acionado, suprindo as necessidades de iluminação da loja, com folga. O meu colega era o encarregado de verificar regularmente as condições do motor, como os níveis do óleo lubrificante e da água do radiador de temperatura, completando-os quando necessário. Mais adiante essa tarefa passou igualmente para minha responsabilidade, também com o pagamento de uma gratificação a mais.
No fundo do enorme terreno da loja, as sócias mandaram edificar uma grande residência para elas, um prédio de dois pavimentos, no qual adentrei apenas uma vez, durante a fase final de construção. Depois que a “Exposição” teve suas atividades encerradas, o prédio sediou outras casas comerciais, de diversos ramos. Não sei a quem pertence a edificação atualmente.
Advogado e escritor
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