Seu nome é Sizenando, mas os amigos o apelidaram de Enciclopédia. Isso se deveu à sua mania de, em toda conversa ou discussão, citar frases de famosos, como artistas, escritores, políticos, etc.
Qualquer que fosse o tema, ele tinha uma frase, uma fábula ou expressão famosa para ilustrar sua fala ou reforçar seus argumentos.
Se a discussão fosse sobre política, lá vinha a frase atribuída a Otto Von Bismark, o “chanceler de ferro” da Alemanha: “Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis.”
Quando se abordava a situação do Brasil, o economista Roberto Campos era lembrado: “O Brasil tem tudo para estar no Jockey Clube, mas continua na gafieira”. Se o tema fosse futebol, citava o inesquecível Nelson Rodrigues: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” Sobre televisão, Chacrinha marcava presença: “Quem não se comunica se trumbica”. Sem se esquecer, é claro, do grande Machado de Assis, no “Dom Casmurro”: “A alma da gente, como sabes, é uma casa assim disposta, não raro com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro.”. E por aí afora.
Quando se questionava a origem de seus conhecimentos, afirmava que sua cultura era resultado de muita leitura. Até assegurava possuir uma grande biblioteca, e que algum dia faria uma festa para mostrar aos amigos o tesouro que tinha em casa. Tachava de ignorante quem duvidasse de sua sapiência.
Certo dia ele sofreu um acidente de trânsito de alguma gravidade e foi internado num hospital para o devido tratamento pelo SUS. Como tinha plano de saúde particular, estava lúcido e de posse do telefone celular, ligou para um de seus amigos, contou o ocorrido e pediu que fosse até o prédio onde morava sozinho, pegasse a chave do apartamento com o zelador e apanhasse o cartão do plano de saúde numa gaveta da mesa do computador e o levasse ao hospital.
O amigo atendeu ao pedido e, no apartamento, resolveu bisbilhotar a tal biblioteca, mas nada encontrou. Ao invés da falada biblioteca, encontrou sobre a mesa do computador um grosso caderno com uma inscrição na capa: “Minhas frases favoritas”. Abriu-o e viu transcritas com caprichada caligrafia dezenas, centenas de expressões selecionadas por autor, em ordem alfabética.
Na primeira página do caderno estavam anotados alguns sites de busca na internet, entre eles o “http:/quemdisse.com.br/frase.asp”.
No hospital o amigo entregou-lhe o cartão solicitado, mas nada disse a respeito do que descobrira. Porém, dali em diante, sempre que encontrava alguém da turma, o amigo contava a novidade, que se espalhou rapidamente. Alguns visitaram Sizenando no hospital, mas nada comentaram.
Algum tempo depois, já recuperado do trauma, voltou aos poucos às suas atividades normais. Depois disso, a cada vez que encontrava os amigos, era alvo de piadas e brincadeiras ridicularizando sua “biblioteca”. Aquilo foi aborrecendo-o de tal forma que, num belo dia, mudou-se da cidade sem avisar ninguém e nunca mais se teve notícias dele...