Artigos e Opinião

CENAS

Oswaldo Barbosa de Almeida: "Modernidade"

Advogado e escritor ([email protected])

Redação

03/09/2015 - 00h00
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Sem espaço em minha estante para novos livros, aderi a uma novidade que já não é tão nova assim: o livro eletrônico ou digital, através do aparelho conhecido como e-reader. 

O modelo mais conhecido é o Kindle, da empresa estadunidense Amazon, já estabelecida no Brasil. Trata-se de um tablet projetado exclusivamente para aquisição e leitura de livros. Também existem modelos comercializados para leitura de  revistas, jornais e outras publicações. 

Segundo a empresa, esse modelo é capaz de armazenar mais de cinco mil livros. É um modo muito prático de leitura, pois o aparelho é muito leve (o meu pesa apenas 170 gramas) e pode ser sustentado por apenas uma das  mãos. A tela é muito clara e não tem o brilho das telas de computadores. A página se apresenta como uma folha de papel. 

Coincidentemente, na edição da revista Veja de 26 de agosto último, deparei-me  com um artigo do economista e renomado educador Claudio de Moura Castro, com o  título “Bibliotecas: metamorfose ou morte?”, no qual ele comenta a situação de decadência atual das bibliotecas em geral, que perdem público em ritmo acelerado, e aponta a tendência de transformação dessas instituições em diversas partes do mundo, dada a crescente digitalização das publicações.

Depois de perguntar “Para que bibliotecas? Periódicos científicos e muitas outras publicações migram para a sua versão  digital,...”, diz ele que “Por 10 dólares ou um pouco mais, a versão digital de praticamente todos os livros em inglês pode ser comprada na Amazon. Um minuto depois de um só clique o livro está em nosso poder.” 

É assim que funciona. Ao adquirir o meu aparelho, ganhei, como amostra, uma pequena obra contendo um resumo biográfico dos gênios Einstein e Galileu. Foi  escolher, clicar e, em instantes, o livro estava no aparelho, pronto para ser lido.

Uma vantagem a mais: os livros digitais têm preços bem inferiores aos impressos. 

Algum tempo depois fiz a primeira compra, pelo mesmo sistema (escolher,  clicar e, em segundos, o livro está disponível): a última obra do italiano Umberto Eco, “O número zero”, publicado em 2015, que estou lendo agora.

A obra aborda a criação  de um jornal na cidade de Milão, e narra, neste início, as inúmeras reuniões dos jornalistas que irão tocar o empreendimento para discutir como será a publicação, seu  conteúdo, as seções fixas, etc. Durante as discussões é sempre mencionado o dono do  futuro jornal, citado como O Comendador, que já se discute no mundo real tratar-se de uma alusão ao político caído em desgraça, o ex primeiro-ministro Silvio Berlusconi,  dono de um império de comunicação na Itália. 

Num dos trechos do romance, o chefe de redação, diante de uma sugestão de um dos jornalistas, retruca: “Não podemos tratar demais de cultura, os nossos leitores não leem livros, no máximo a Gazzeta dello Sport.” 

Alguma semelhança com os costumes de um certo “país tropical, bonito por natureza”, onde já houve um presidente que fazia  questão de externar sua aversão a livros, jornais e revistas?

Editorial

As propriedades estão mais produtivas

O campo não é mais o mesmo, e os discursos sobre ele também precisam evoluir: o País mudou, e a política de acesso à terra precisa acompanhar essa mudança

20/05/2025 07h15

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Nas últimas décadas, o Brasil rural passou por uma revolução silenciosa, mas de impacto gigantesco: a produtividade no campo atingiu patamares históricos. Tecnologias de ponta, mecanização intensiva, biotecnologia e novas cadeias de produção tornaram obsoletos alguns dos argumentos mais repetidos por movimentos sociais, como o dos sem-terra, na década de 1990. Naquela época, a improdutividade era o principal combustível para as ocupações de fazendas. Propriedades que estavam “paradas” eram alvos legítimos – pelo menos no discurso – para fazer pressão por reforma agrária.

Hoje, o cenário é outro. As propriedades que não produzem são exceções. Com a valorização das commodities agrícolas e o crescimento da demanda mundial por alimentos, praticamente qualquer hectare de terra fértil se tornou economicamente viável. Não só para plantar soja ou criar gado, como no passado. Há uma nova geografia agrícola que inclui culturas como trigo, sorgo, eucalipto e mandioca e atividades como a suinocultura e a avicultura industrial. O campo virou negócio – e um bom negócio.

Essa transformação reduziu drasticamente a margem para que movimentos sociais reivindiquem terras sob o argumento de que estão ociosas ou improdutivas. Mesmo a retenção de grandes áreas para especulação imobiliária, que já foi um problema relevante, praticamente desapareceu. Quem tem terra, explora. E quem explora, gera emprego, paga impostos e movimenta a economia, além de, em muitos casos, estabelecer parcerias com a comunidade local e contribuir com infraestrutura e serviços.

Reportagem desta edição mostra um exemplo claro dessa nova realidade: uma fazenda extremamente produtiva, com papel fundamental na recuperação judicial de uma grande empresa, que, ainda assim, entrou na mira do movimento dos sem-terra. Trata-se de uma propriedade que cumpre sua função social com excelência, mas que, paradoxalmente, está sendo tratada como se fosse uma terra abandonada ou sem utilidade social. Isso revela um descompasso entre a retórica de alguns movimentos e a realidade do campo brasileiro.

Não se trata aqui de negar a importância histórica da reforma agrária ou o direito de grupos sociais de reivindicar melhores condições de vida. Mas é preciso reconhecer que o País mudou e que a política de acesso à terra precisa acompanhar essa mudança. Se o governo federal ainda pretende investir em reforma agrária, esse projeto precisa ser repensado, ganhar nova roupagem. É hora de se falar em uma “reforma agrária 2.0”.

Esse novo modelo não pode se basear apenas na distribuição de terras, mas deve envolver acesso a crédito, assistência técnica, logística, mercado e, acima de tudo, integração com a economia moderna do agronegócio. Não faz sentido redistribuir terras se os beneficiários não tiverem condições reais de transformá-las em unidades produtivas e sustentáveis. O fracasso de muitos assentamentos passados prova isso.

Por fim, é preciso retomar o verdadeiro significado do termo “função social”. Produzir alimentos, empregar pessoas, cuidar do meio ambiente e investir na comunidade também são atos sociais. A palavra “social” não pode ser sequestrada por discursos ideológicos. O campo brasileiro não é mais o mesmo, e os discursos sobre ele também precisam evoluir.

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ARTIGOS

Hábito de leitura no Brasil: como mudar o panorama atual?

17/05/2025 07h45

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A criação do hábito de leitura é um dos pilares essenciais para o desenvolvimento humano, especialmente durante a infância, já que estimula a imaginação, a empatia e o pensamento crítico. No entanto, com o avanço da tecnologia, essa prática tão importante vem sendo cada vez mais negligenciada, especialmente no Brasil.

De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, 53% dos brasileiros não leram livros em 2024, o que representa uma queda de quase 7 milhões de leitores em relação a 2019. Além disso, 73% da população não completou sequer uma leitura no mesmo ano.

Esses dados alarmantes reforçam uma urgência: o incentivo à formação de leitores desde a primeira infância, pois estamos perdendo leitores para as telas antes mesmo de se consolidar o processo de alfabetização. E essa responsabilidade deve ser compartilhada pelas escolas, pelas famílias e por toda a sociedade. Isso porque, o contato com a leitura é fundamental para o desenvolvimento social, emocional e pedagógico das crianças.

De concentração a percepção de si mesmo: crianças que têm contato frequente com os livros desenvolvem maior capacidade de concentração e foco. A leitura contínua estimula ainda o cérebro a manter a atenção por períodos mais longos, favorecendo também a memória de trabalho e a autorregulação, uma habilidade essencial para lidar com emoções como estresse e ansiedade.

Além disso, o envolvimento com diferentes tipos de texto fortalece habilidades cognitivas como observação, análise, síntese e interpretação. Crianças leitoras geralmente demonstram maior sensibilidade aos detalhes, melhor compreensão de contextos e mais agilidade na construção de inferências, competências fundamentais para a resolução de problemas e tomada de decisões ao longo da vida.

Já do ponto de vista emocional e social, a leitura também contribui significativamente para o desenvolvimento da empatia, da criatividade e da linguagem oral e escrita. Ao mergulhar em histórias, é possível se colocar no lugar do outro, ampliar o repertório cultural e construir sentidos sobre o mundo e sobre si mesmos. Por isso, o hábito de leitura deve ser cultivado não apenas como uma estratégia pedagógica, mas como um direito fundamental da infância.

Os desafios do mundo moderno: a presença constante da tecnologia incentivou o uso excessivo de telas, muitas vezes em detrimento de interações presenciais e experiências sensoriais. Essa exposição prolongada a dispositivos eletrônicos pode comprometer o desenvolvimento da atenção, da linguagem e da imaginação, todas capacidades essenciais para a formação de leitores.

Diante desse cenário, fomentar o gosto pela leitura torna-se ainda mais crucial. Promover uma relação afetiva e significativa com os livros ajuda a equilibrar os estímulos imediatos das telas com a profundidade e a concentração que a leitura exige e proporciona, sendo essa uma missão para as escolas e também para as famílias.

Inspiração e exemplo: os educadores devem atuar como mediadores e inspiradores, proporcionando ambientes acolhedores que incentivem a leitura por prazer. Isso pode se dar por meio de atividades como rodas de leitura, compartilhamento de histórias e projetos literários interdisciplinares. Já os familiares, precisam reservar um tempo para ler em voz alta, demonstrar interesse pelas histórias e limitar o uso de telas, especialmente antes de dormir.

Em suma, a formação de leitores e o cultivo do hábito de leitura são fundamentais para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens. Afinal, esse é o caminho mais promissor para formar cidadãos críticos, sensíveis e preparados para transformar o mundo com ética, imaginação e esperança.

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