Sem espaço em minha estante para novos livros, aderi a uma novidade que já não é tão nova assim: o livro eletrônico ou digital, através do aparelho conhecido como e-reader.
O modelo mais conhecido é o Kindle, da empresa estadunidense Amazon, já estabelecida no Brasil. Trata-se de um tablet projetado exclusivamente para aquisição e leitura de livros. Também existem modelos comercializados para leitura de revistas, jornais e outras publicações.
Segundo a empresa, esse modelo é capaz de armazenar mais de cinco mil livros. É um modo muito prático de leitura, pois o aparelho é muito leve (o meu pesa apenas 170 gramas) e pode ser sustentado por apenas uma das mãos. A tela é muito clara e não tem o brilho das telas de computadores. A página se apresenta como uma folha de papel.
Coincidentemente, na edição da revista Veja de 26 de agosto último, deparei-me com um artigo do economista e renomado educador Claudio de Moura Castro, com o título “Bibliotecas: metamorfose ou morte?”, no qual ele comenta a situação de decadência atual das bibliotecas em geral, que perdem público em ritmo acelerado, e aponta a tendência de transformação dessas instituições em diversas partes do mundo, dada a crescente digitalização das publicações.
Depois de perguntar “Para que bibliotecas? Periódicos científicos e muitas outras publicações migram para a sua versão digital,...”, diz ele que “Por 10 dólares ou um pouco mais, a versão digital de praticamente todos os livros em inglês pode ser comprada na Amazon. Um minuto depois de um só clique o livro está em nosso poder.”
É assim que funciona. Ao adquirir o meu aparelho, ganhei, como amostra, uma pequena obra contendo um resumo biográfico dos gênios Einstein e Galileu. Foi escolher, clicar e, em instantes, o livro estava no aparelho, pronto para ser lido.
Uma vantagem a mais: os livros digitais têm preços bem inferiores aos impressos.
Algum tempo depois fiz a primeira compra, pelo mesmo sistema (escolher, clicar e, em segundos, o livro está disponível): a última obra do italiano Umberto Eco, “O número zero”, publicado em 2015, que estou lendo agora.
A obra aborda a criação de um jornal na cidade de Milão, e narra, neste início, as inúmeras reuniões dos jornalistas que irão tocar o empreendimento para discutir como será a publicação, seu conteúdo, as seções fixas, etc. Durante as discussões é sempre mencionado o dono do futuro jornal, citado como O Comendador, que já se discute no mundo real tratar-se de uma alusão ao político caído em desgraça, o ex primeiro-ministro Silvio Berlusconi, dono de um império de comunicação na Itália.
Num dos trechos do romance, o chefe de redação, diante de uma sugestão de um dos jornalistas, retruca: “Não podemos tratar demais de cultura, os nossos leitores não leem livros, no máximo a Gazzeta dello Sport.”
Alguma semelhança com os costumes de um certo “país tropical, bonito por natureza”, onde já houve um presidente que fazia questão de externar sua aversão a livros, jornais e revistas?