A crise do lixo, em Campo Grande, a par de instigar reflexões de ordem ambiental, pois é impossível deixar de pensar no quanto de lixo produzimos, impõe refletirmos sobre aspectos políticos inerentes a ela.
De princípio, cabe indagar se a privatização de serviços essenciais, como o da coleta de lixo, deve continuar; se cabe terceirizar para empresas atividade de tamanha importância para a coletividade. É fato que há uma agência reguladora, incumbida de avaliar o serviço prestado pelas concessionárias e acompanhar a execução dos contratos de concessão. Entretanto, parece que nem existe, um problema dessa extensão e temos o silêncio de seus integrantes, pagos com o dinheiro público, ou seja, com o dinheiro de todos nós; nenhuma satisfação à sociedade.
Talvez, fosse o caso de ser repensado também o papel, as atribuições, a atuação da dita agência, de modo a torná-la eficiente e eficaz, pronta para responder sobre os objetos de sua competência.
Outra questão que não se pode ignorar é a leniência com que a sociedade campograndense se postou diante do duvidoso contrato firmado com a Solurb. As recentes investigações das operações Lama Asfáltica e Coffee-Break não deixam dúvida quanto à promiscuidade das relações políticas, familiares e empresariais do grupo. Desde o princípio, era nítida a “fumaça do mal direito”; houve questionamentos, porém, o contrato se celebrou e a empresa abocanhou uma atividade extremamente rentável, aliás, de difícil mensuração.
Por fim, o movimento de paralisação dos trabalhadores parece revestido de inúmeras características do “lockout”, uma suposta greve que interessa particularmente aos patrões. A cantilena jogada na mídia era a de que a Prefeitura estaria inadimplente, razão pela qual se atrasaram os salários dos trabalhadores. Até as pedras da rua sabem que não há verdade nisso.
Por que só depois da mudança do prefeito anunciaram os problemas? Por que antes, mesmo sem receber as faturas, não se deixou de pagar os garis?
Está patente que a empresa concessionária, ligada ao grupo político derrotado nas últimas eleições municipais, tem todo o interesse em desestabilizar a atual gestão, já que a decisão judicial que reconduziu Bernal é provisória. Nessa lógica, a “greve” dos trabalhadores foi providencial para a Solurb, tanto que ela apresentou argumentos insustentáveis ao Ministério Público do Trabalho para manter a paralisação, alegando a necessidade de 11 milhões e, logo em seguida de 7 milhões para a compra de diesel, escondendo os 11 mil litros de combustível de seu depósito.
Ao emporcalhar Campo Grande [em todos os sentidos], tenta dar as cartas desse jogo político. Afinal, a ela incumbe um serviço essencial, daí seu poder de pressão. A Justiça já se pronunciou com clareza, mas, as multas aplicadas são irrisórias para quem se locupletou das burras municipais por tanto tempo. A população foi exposta a sérios riscos, cada campograndense tornou-se vítima potencial dessa insidiosa manobra. Somos uma cidade refém da Solurb. É preciso dar um basta.