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OPINIÃO

Paulo Resende: "Pedágio na recuperação de rodovias é evolução"

Ph.D. em Planejamento em Transporte e Logística

Redação

14/10/2015 - 00h00
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O recente início da cobrança de pedágio pela CCR MSVia na BR-163/MS reacendeu no Estado de Mato Grosso do Sul uma discussão acalorada a respeito dos possíveis efeitos das tarifas rodoviárias sobre o custo de vida dos sul-mato-grossenses. O principal argumento é que o pedágio vai encarecer os transportes e esse aumento será integralmente repassado para a população. A princípio, é natural que os usuários tenham essa ideia do encarecimento, mas a partir de algumas considerações, chega-se a uma diferente conclusão.

Os fretes pesam, em média, 3,2% no custo das mercadorias. Nesse custo, o pedágio participa em 8,6% do valor, o que equivale, na média, a 0,3% do valor da mercadoria. Os números são da Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo, onde a qualidade das rodovias melhorou consideravelmente depois das primeiras concessões privadas, em 1998. São Paulo tem hoje as dez melhores rodovias do País, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Acontece que nos 3,2% estão incluídos os custos da situação ruim das estradas, que já entra na conta do frete. Por isso, o não pagamento do pedágio está diretamente vinculado à baixa qualidade da rodovia. Estima-se que o tempo médio de viagem em estradas sem conservação pode até dobrar. Pior, o consumo de combustível cresce até 60% se o pavimento não permite o desenvolvimento de um bom ritmo de viagem. Isso sem contar os custos de manutenção, que chegam a aumentar até 35% no caso dos caminhões devido aos buracos na pista. 

Segundo estudos da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, entidade que congrega os mais importantes transportadores brasileiros, se todas as rodovias estivessem em ótimo estado, o transporte rodoviário de cargas poderia reduzir seus custos em 31,7%, economizando cerca de R$ 11,6 bilhões por ano. Dessa maneira, quando se coloca na mesma balança os custos com estradas ruins e o pagamento do pedágio, o usuário tem uma vantagem muito grande, só que, em geral, os custos com as estradas ruins não aparecem de forma tão clara como aparece o pagamento do pedágio. Por isso eles são chamados custos indiretos.

O pedágio viabiliza investimentos na rodovia que, de outra forma, continuariam limitados, dada a escassez de recursos do Poder Público. Segundo dados da CCR MSVia, em 16 meses, foram injetados mais de R$ 730 milhões em obras, equipamentos e custos operacionais na BR-163. Isso equivale a mais de R$ 45 milhões ao mês em investimento privado.

Além de melhorar as condições físicas da rodovia e oferecer atendimento ao usuário 24 horas por dia, o pedágio viabiliza um bem muito maior: a preservação de vidas. Reportagem da Folha de S.Paulo da última quarta-feira (7/10) aponta que as mortes por acidente na malha rodoviária concedida à iniciativa privada em São Paulo caíram 21% nos primeiros oito meses do ano. É a maior redução nas mortes desde que as rodovias passaram a ser pedagiadas, dez anos atrás. Pesquisas da Fundação Dom Cabral também apontam que em estradas pedagiadas o número de acidentes com vítimas fatais cai cerca de 50% em relação as não pedagiadas.

Além disso, o pedágio viabiliza o renascimento da rodovia sem onerar o Poder Público, que ainda ganha com impostos recolhidos. As cidades margeadas pela rodovia recebem, todo mês, 5% do que é arrecadado com pedágio por meio do ISSQN (Impostos Sobre Serviços de Qualquer Natureza). 

Portanto, a médio e longo prazos, os ganhos com redução de tempo de viagem, de custos de manutenção e ocorrência de acidentes violentos, serão revertidos em lucro para quem vive do transporte na BR-163. Isso vai representar mais empregos, mais distribuição de renda e mais desenvolvimento para o Estado.

Editorial

O uso de terrenos federais para moradia

Que a iniciativa prospere, mas que venha acompanhada de responsabilidade, planejamento e respeito às pessoas que aguardam há anos pela casa própria

23/06/2025 07h15

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Nesta edição, mostramos que o governo federal estuda a possibilidade de utilizar áreas pertencentes à antiga Rede Ferroviária Federal localizadas em zonas urbanas para a construção de casas populares. A iniciativa, que integra o esforço nacional para reduzir o deficit habitacional, surge em um momento oportuno, em que o País precisa ampliar a oferta de moradias e, ao mesmo tempo, estimular a economia.

O que se espera é que o processo seja conduzido com extrema eficiência e responsabilidade. O Brasil vive uma fase em que a construção de moradias não é apenas uma resposta social, mas uma estratégia essencial para o avanço da classe média e para a melhoria da qualidade de vida da população. Garantir o acesso à casa própria é um dos pilares para a inclusão social e econômica.

Mais do que atender à demanda habitacional, um programa como esse representa uma poderosa alavanca de desenvolvimento econômico. Sempre que o setor da construção civil é incentivado, a economia local sente os efeitos de forma positiva: surgem empregos diretos e indiretos, o comércio de materiais de construção se aquece, o consumo aumenta e os investimentos privados também tendem a crescer. Quem poderia reclamar de um ciclo virtuoso como esse? Mas aí reside o principal ponto de atenção: a eficiência na execução. Um programa mal planejado pode ter efeitos colaterais indesejados, como a pressão inflacionária sobre os preços de terrenos, materiais e mão de obra.

Além disso, é fundamental que o processo de seleção dos beneficiados pelas casas populares siga critérios justos, transparentes e orientados pelas reais necessidades da população.

Outro aspecto que não pode ser negligenciado é a necessidade de um bom planejamento urbano nas cidades que receberão os novos empreendimentos. Não basta apenas construir casas: é preciso garantir infraestrutura adequada, acesso a transporte público e serviços básicos, como saúde e educação, além de espaços de lazer e convivência comunitária. A integração dessas novas áreas ao tecido urbano existente deve ser pensada com cuidado.

A utilização dos terrenos da antiga rede ferroviária pode, sim, representar uma solução criativa e viável para enfrentar o problema da falta de moradias nas cidades brasileiras. Mas isso só será possível com uma gestão eficiente, transparente e com foco no desenvolvimento social e econômico sustentável.

Que a iniciativa prospere, mas que venha acompanhada de responsabilidade, planejamento e, acima de tudo, respeito às pessoas que aguardam há anos pela realização do sonho da casa própria. O Brasil precisa construir mais do que paredes e telhados: precisa construir cidadania e oportunidades.

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ARTIGOS

Quando a ausência custa caro ao SUS

17/06/2025 07h45

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O Sistema Único de Saúde (SUS) é, sem dúvida, uma das maiores conquistas da nossa democracia. Ele representa a promessa de um Brasil mais justo, em que a saúde deixa de ser um privilégio para se tornar um direito de todos, sem distinção de renda ou localização. No entanto, esse gigante que sustenta a saúde de milhões de brasileiros tropeça no vazio deixado por ausências. São consultas que não acontecem, exames perdidos, cadeiras vazias e horários que poderiam ser utilizados por outros pacientes. A cada falta, uma porta se fecha para quem aguarda do outro lado. O absenteísmo corrói o que há de mais valioso no SUS: a chance de salvar vidas. 

Uma simples falta, muitas vezes vista como algo inofensivo pelo usuário, desencadeia consequências profundas. Não se trata apenas de desperdício de tempo e recursos, mas de uma oportunidade perdida para atender outros que também esperam. Quando consultas e exames não são realizados, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são adiados, permitindo que doenças que poderiam ser evitadas ou controladas se agravem. Imagine uma paciente idosa que espera há meses por uma endoscopia essencial para diagnosticar um câncer de estômago, ainda desconhecido. Agora, visualize oito pacientes que, sem aviso, não compareceram ao exame agendado no mesmo dia, enquanto aquela paciente permanecia em casa à espera. O absenteísmo expõe esse descompasso: o silêncio de uns amplifica a angústia daqueles que contam os dias para serem atendidos. 

No Brasil, estima-se que o absenteísmo na saúde atinja cerca de 25%, tanto em consultas quanto na realização de exames pelo SUS. Esse índice não representa apenas a perda de oportunidade de tratamento para milhares de pessoas, mas também um custo financeiro considerável. Estudos indicam que o desperdício causado pelas ausências pode ultrapassar bilhões de reais anualmente, comprometendo o orçamento já limitado da saúde pública. Muitos veem o SUS como algo garantido, mas poucos percebem que faltar a uma consulta marcada é como comprometer uma engrenagem crucial para o funcionamento de todo o sistema. Cada agendamento, além de ser um compromisso pessoal, é uma peça essencial que, se negligenciada, priva outros cidadãos do atendimento que também merecem.

O absenteísmo no SUS é tanto um problema organizacional quanto uma questão cultural. A falta de conscientização sobre a importância de comparecer é intensificada pela ausência de punições. Ao contrário do setor privado, em que multas e cobranças desencorajam faltas, no SUS, não há custo direto para o paciente. No entanto, o impacto no sistema e nos outros usuários é imenso. Para enfrentar essa realidade, quem sabe o caminho seja implementar novas estratégias educativas e sistemas de comunicação mais ágeis. Ferramentas simples de cancelamento, que permitam ao usuário informar sua ausência de maneira rápida, podem ser um passo essencial. 

Mais que um obstáculo, as ausências são uma barreira que limita o alcance e a eficiência dos serviços destinados à população. Esse problema resulta no desperdício de recursos e em uma sobrecarga, dificultando a construção de um sistema de saúde verdadeiramente universal e igualitário. Em vez disso, essas faltas nos afastam desse objetivo, comprometendo a cobertura e criando um ciclo vicioso de ineficiência. Como uma corrente quebrada, o sistema perde a força necessária para seguir em frente, deixando de cumprir sua missão de cuidar de quem nele confia.

É urgente adotar uma nova perspectiva, em que cada agendamento seja encarado não apenas como uma responsabilidade individual, mas como um compromisso coletivo que impacta o bem-estar de todos. O absenteísmo não é um problema isolado, ele é um desafio que exige a união de gestores, profissionais de saúde e usuários para preservar a essência do SUS. Para isso, talvez seja preciso dar um passo atrás e fortalecer a saúde preventiva como base para um sistema sustentável e eficaz. O SUS, maior símbolo de inclusão e justiça social, não pode ser deixado à deriva por algo tão simples, mas tão devastador. Afinal, quando um falta, muitos pagam o preço da negligência. 

Cada ausência é uma lacuna que enfraquece o sistema, e cabe a todos nós preenchê-la para garantir que a saúde seja um direito acessível a todos.

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