Artigos e Opinião

OPINIÃO

Raiane Gomes e Vanessa Lourenço: "A infeliz realidade da convulsão migratória"

Acadêmica de Direito da UFMS e Professora de Direto da UFMS

Redação

03/10/2015 - 00h00
Continue lendo...

Qual o preço que os indivíduos estão dispostos a pagar para ter uma vida digna? O valor é a própria vida? Estes questionamentos têm tomado grande repercussão nas mídias em decorrência da crise migratória, que tem aumentado a quantidade de mortes de migrantes ao tentarem realizar uma passagem arriscada para um “lugar melhor”. 

Assim, os problemas que afetam refugiados desde primórdios da história da humanidade até a atualidade são, hoje, questões discutidas em praticamente todo o mundo, em especial o caso daqueles que, fugindo de guerras e de situações de falta, buscam regiões europeias. A busca de oferta de melhores condições de vida e da garantia de suprimentos básicos (como moradia, alimentação e educação), estimulada pela esperança de um futuro diferente e, consequentemente, uma mudança circunstancial, tem sido o alicerce que encoraja os indivíduos sem auxílio de sua própria nação a migrar. O país de origem não possui instrumentos ou infraestrutura para proporcionar uma vida digna, visto que o ambiente está marcado pela miséria, devastação, ausência de ajuda – e eles buscam “refúgio” no país de destino, na expectativa de uma vida confortável. Ao chegarem ao “outro lado” da fronteira – o que lhes dá a condição de refugiados, deslocando o sentido primeiro, positivo, bíblico, da palavra “refúgio” –, o que se lhes oferece tem sido, no entanto, alto risco de morte. 

Vale ressaltar que a designação “refugiados” já vem carregada de conotações negativas de vulnerabilidade e dependência (e outras), o que desencadeia (ou deveria desencadear) preocupações estatais, no sentido de como lidar com pessoas nessa situação e prestar-lhes serviços assistenciais.

Definem-se como “refugiados” indivíduos que saíram do país de origem e seguem em direção a outras regiões que lhes possam ofertar o mínimo de segurança, apoio ou amparo em momentos e condições específicos.

As grandes discussões são: Qual a maneira mais eficaz de acolher esses indivíduos? E seus direitos fundamentais? Como os países que recebem os refugiados devem ou deveriam agir com essa situação? Ajudá-los ou rejeitá-los?

Essas dúvidas têm sido o ponto-chave para os chefes de Estado e para a sociedade, pois o medo dos efeitos da liberação da entrada dos refugiados faz que os Estados ignorem essa crise e descumpram tanto suas leis internas quanto as externas, fixadas em tratados e protocolos internacionais. O que se tem visto é o não cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 

A partir desses dados, pergunta-se: Onde está o senso humanitário dos seres humanos? E o sentimento de acolhimento? Que motivo os leva a não pensar no próximo?

É desconfortável, agonizante, intolerante e egoísta esse modo de agir. Os refugiados buscam aquilo de que todos os indivíduos necessitam: ajuda ou algum auxílio para se manterem vivos. Neste momento e em conformidade com as declarações dadas pelos detentores de poder, vê-se a ausência de solidariedade (quiçá de alteridade) e o fechar de olhos, ouvidos e portas para uma situação tão preocupante.

Enquanto não há solução para essa crise, muitos indivíduos, na tentativa de chegar à Europa e aguardar uma aceitação de asilo no país em que pretendem permanecer, estão morrendo. Somente neste ano, estima-se que pelo menos 2.600 pessoas morreram tentando chegar à Europa pelo mar, segundo dados da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Em suma, a humanidade tem passado por um momento de clamor pela paz, pela vida e, sobretudo, por solidariedade, contudo as práticas sociais têm mostrado indivíduos mais preocupados com a concretização do seu próprio bem-estar, ignorando o naufrágio da humanidade que ocorre sob seus olhos a cada instante.

Editorial

Quando a esperança pede uma pausa

A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas

14/05/2025 07h15

Arquivo

Continue Lendo...

Em certos momentos, parar para ajustar a esperança não é desistir, mas uma escolha prudente diante da realidade. Refrear expectativas é um gesto de maturidade coletiva, sobretudo quando se trata de políticas públicas e infraestrutura. É dessa pausa que falamos quando olhamos para o caso da Malha Oeste, ferrovia que atravessa Mato Grosso do Sul de leste a oeste e que há décadas vive em estado de abandono, sob uma concessão que pouco contribuiu para o desenvolvimento que dela se esperava.

A Rumo, atual concessionária, praticamente sucateou a estrutura da Malha Oeste. A inércia foi tamanha que, agora, o governo tenta encaminhar a relicitação da ferrovia, na tentativa de atrair novos investimentos.

Porém, sejamos francos: o trem das grandes expectativas já passa e está passando. Depois que passar, talvez ele nem volte a apitar na mesma estação. O tempo perdido foi demais. As promessas vazias, numerosas. A hesitação custou caro.

Enquanto se aguardava um plano concreto de revitalização, as empresas que poderiam justificar economicamente a reativação da ferrovia seguiram outro rumo. Literalmente. Projetos logísticos começaram a ser traçados de forma independente, como o leitor verá em outras matérias desta edição. Essa movimentação revela que o setor produtivo já não deposita confiança no futuro da Malha Oeste.

Não se trata apenas de frustração com a concessionária. A situação se agrava porque a mesma empresa que negligenciou a Malha Oeste opera, com rentabilidade e eficiência, uma ferrovia no norte do Estado. E é justamente para essa rota que as gigantes da celulose começam a voltar seus esforços logísticos, seja por trilhos ou por rodovias. O efeito dominó é claro: a Malha Oeste vai ficando para trás, esquecida nas margens da história e da competitividade.

Essa tendência é reforçada por uma conjuntura nacional nada favorável. O investimento público em infraestrutura, que já foi motor de desenvolvimento, hoje é cada vez mais raro. Os recursos mínguam e o governo federal parece mais preocupado em alimentar uma máquina pesada e ineficiente. A prioridade, ao que tudo indica, são as emendas parlamentares paroquiais, moeda de troca política que pouco ou nada contribui para transformar realidades estruturais como a da ferrovia sul-mato-grossense.

É por isso que, ao falarmos da Malha Oeste, talvez o mais honesto seja, sim, pausar. Esperar menos para sofrer menos. Não se trata de desistir de lutar por desenvolvimento ou pela reativação dos trilhos, mas de entender que, sem mudanças estruturais, tanto na forma de concessionar quanto de investir, qualquer nova esperança poderá ser apenas mais um vagão vazio passando em vão.

Cabe à sociedade civil, aos empresários e aos líderes políticos pressionar por modelos viáveis e sustentáveis. A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas. Nesse momento, a pausa na esperança pode ser o primeiro passo para, quem sabe, reconstruí-la com mais responsabilidade e realismo.

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

Como a Selic a 14,75% afeta o seu bolso

13/05/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

O Banco Central (BC) apertou o freio na economia: elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, o maior nível em duas décadas. A medida é uma resposta direta à inflação que insiste em pesar no bolso do brasileiro, hoje em 5,48% – bem acima da meta oficial de 3% ao ano. Mas o que isso significa, na prática, para quem está longe dos gabinetes e mais perto do supermercado?

A lógica é simples. Quando os juros sobem, pegar dinheiro emprestado fica mais caro. Com isso, as pessoas compram menos e as empresas ficam com mais dificuldade para investir. A ideia é esfriar a economia e, assim, conter a alta dos preços. É um remédio amargo, mas, segundo a teoria, é necessário para manter a inflação sob controle e preservar o poder de compra.

Além disso, essa alta torna o Brasil mais atraente para investidores internacionais. Com juros mais altos, aplicações em reais se tornam mais lucrativas, o que ajuda a valorizar o real frente ao dólar – algo que também influencia no preço de produtos importados.

Apesar de a medida ser um esforço claro para conter a inflação, há uma pedra no caminho: os gastos do governo. Enquanto o BC tenta conter a circulação de dinheiro, políticas públicas que aumentam os gastos, como benefícios sociais ou estímulos ao consumo, podem ir na direção contrária, criando um conflito entre a política monetária (juros) e a política fiscal (gastos públicos).

Isso é chamado de paradoxo da política econômica. Traduzindo: é como tentar enxugar o chão com a torneira aberta. Se o governo gasta muito sem compensar esse aumento com receitas, a dívida pública cresce, o risco de descontrole fiscal aumenta e a inflação pode voltar com força. Nesse caso, o BC pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo – o que prolonga o aperto, ou a inviabilidade, para todos.

Nem todo mundo consegue “evitar dívidas” ou “planejar melhor”, como tanto se recomenda. Para milhões de brasileiros, o salário acaba antes do fim do mês e o cartão de crédito vira a única saída. Nesse cenário, o aumento da Selic é especialmente cruel.

Seguem dicas: o rotativo do cartão é uma das formas de crédito mais caras do mercado. Com juros altos, a dívida cresce em ritmo acelerado. Quem está no rotativo deve, se possível, buscar alternativas, como um empréstimo com taxas menores, por exemplo, o consignado. Fale com o seu gerente do banco para trocar dívida cara por dívida menos cara.

As compras parceladas aliviam o mês, mas podem virar armadilhas. Em tempos de Selic alta, o parcelamento costuma embutir juros cada vez mais altos. Vale fazer as contas antes de fechar a compra – e evitar parcelar bens de consumo não essenciais. Se a renda já está comprometida, negocie. Muitos bancos estão mais abertos à renegociação, especialmente diante de cenários tão desafiadores. Não hesite em buscar condições melhores para alongar ou reorganizar suas dívidas.

Sempre procure orientação. Há programas de educação financeira gratuitos que podem ajudar a organizar o orçamento e tomar decisões mais conscientes, como os oferecidos pelo BC, por cooperativas de crédito e até na internet, mas é preciso cautela com as ajudas buscadas na rede, já que aparecer pessoas que aproveitam dessa fragilidade para te vender soluções mágicas que, da noite para o dia, prometem “transformar a sua vida financeira”.

Para todos – mesmo quem não está endividado – a nova Selic tem efeitos imediatos:

  • Rotativo do cartão de crédito e cheque especial: os juros ficam ainda mais pesados. Pague o total da fatura. Nem que seja com um outro empréstimo, como disse anteriormente, “menos caro”;
  • Financiamentos e compras a prazo: o custo aumenta. Reavalie o momento e a prioridade;
  • Compras do dia a dia: a inflação ainda está presente. Vale comparar preços, trocar marcas e cortar excessos. Evite compras impulsivas;
  • Investimentos: o momento favorece aplicações conservadoras como Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária, que rendem mais com a Selic alta.

O Banco Central já deixou claro que, se a inflação não ceder, os juros podem subir mais. Mas manter a Selic nas alturas por muito tempo traz seus próprios riscos, como frear demais a economia e afetar o emprego.

O equilíbrio entre segurar os preços e cuidar das contas públicas é delicado – e fundamental para que a economia volte a crescer sem penalizar ainda mais quem já está no limite. Enquanto isso, o brasileiro segue entre o aperto e a esperança. Os pensamentos de ordem continuam sendo os mesmos: lucidez e decisões conscientes.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).