“Meu corpo, minha propriedade”, “Aborto legal e seguro é um direito”, essas são frases que comumente vimos estampadas nas manifestações pró-aborto. Uma parcela de nossa sociedade feminina clama pelo empoderamento da mulher na decisão de interromper uma gravidez não desejada, o que é legítimo, sendo nosso país uma democracia, em que várias vozes podem e devem ser ouvidas, sentidas e reflexionadas.
No entanto, como todo processo de escolha por algo que define o indivíduo, como “ser ou não ser mãe”, e no caso do aborto algo muito mais sério, que é “deixar ou não nascer o seu próprio filho”, esta deveria ser uma escolha alicerçada em torno de informações biológicas, emocionais e psicológicas dessa decisão ao longo da vida.
As consequências psicológicas são as mais negligenciadas nos fóruns sobre aborto. Pesquisas científicas apontam para a síndrome pós-aborto (SPA), que reúne sintomas semelhantes em pacientes ligados a experiências abortivas e que tem sido observada por terapeutas em vários países, inclusive onde o aborto é legal.
Em países como a Holanda e Portugal, há a Associação para Mulheres Vitimadas pelo Aborto (Weba), que orienta mulheres que sofreram traumas emocionais decorrentes do aborto, a processar o Estado por não terem sido informadas sobre as consequências psicológicas em decorrência de tal ato.
O artigo “Aborto: Liberdade Feminina para Escolher a Própria Morte” (Jornal do Advogado, 2006) pontua que, “quando a gravidez é interrompida com o aborto, ocorre uma diminuição abrupta de neurotransmissores secretados pelas células nervosas, ocorrendo um desequilíbrio nos sinais celulares. É a depressão causada por motivos moleculares e, consequentemente, levando ao aumento da taxa de suicídio e infertilidade.”
Mesmo em caso de abortos legais, como no estupro, também existe pesquisa que revela as consequências emocionais. O estudo “A Origem da Vida do Ser Humano e o Aborto” cita a pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (2004), com mulheres estupradas que conceberam uma criança: “Não tem cabimento se propor outro ato de igual violência, como o aborto. Verificou-se que 80% das mulheres grávidas por estupro se recusaram a abortar e estão contentes com os filhos, enquanto as 20% que realizaram o aborto estão arrependidas”.
O aborto produz, ainda, um luto incluso em razão da negação da ocorrência de uma morte real, que é desconsiderada. No caso do aborto provocado, ele é considerado como um não evento, pois não aconteceu o nascimento e nem houve a morte convencional. A mulher, nessa situação, não pode vivenciar o seu luto, é um “luto não autorizado”, que se refere às perdas de “não poder ser abertamente apresentadas, socialmente validadas ou publicamente pranteadas”.
O aborto é um procedimento traumático, com repercussões negativas e que independe se é legal ou não, se há influências sociais, religiosas ou não. Tais influências colaboram para o processo emocional ser mais ou menos intenso.
O feto abortado estará presente nas lembranças de uma mulher, mesmo que de forma inconsciente, e de acordo com a maior ou menor suscetibilidade emocional da individualidade de cada mulher, haverá consequências emocionais de diferentes tipos e gravidades.
Toda a mulher que pensa em abortar deveria conhecer as consequências físicas e psicológicas da prática do aborto. Negar que elas existem é negligenciar a futura saúde mental da mulher, que já se encontra em vulnerabilidade emocional, diante de uma gravidez não desejada, em que comumente é pressionada ou abandonada pelo parceiro, não tem apoio familiar, social, estatal, ou é uma vítima de estupro.