Artigos e Opinião

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Rogério Fernandes Lemes: "Como as crianças chegaram ao poder"

Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores (UBE-MS)

Redação

31/07/2017 - 02h00
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Este artigo traz o título do livro do psiquiatra David Eberhard sobre a realidade da sociedade sueca décadas após proibir palmadas nas crianças. A discussão tem gerado muita polêmica e dividido opiniões.

Para alguns especialistas, as crianças suecas são as mais felizes do mundo. Outros afirmam serem elas as mais mimadas e sem educação. 

A Suécia inovou ao proibir castigos físicos na educação de crianças. Em 1979, o país incorporou em seu código penal tendo o Estado como proponente de outras formas de educação como, por exemplo, a colocação da criança no centro das preocupações sobre aquilo que for melhor para seu integral desenvolvimento. Ouvir as crianças apenas não basta.

O governo sueco desenvolveu um curso para os pais com dificuldades na criação dos filhos.

A dissolução afetiva entre pais e filhos, segundo o governo, é a grande responsável pela preferência aos castigos físicos que, a longo prazo, não significa garantia de adultos confiantes e autônomos.

Eberhard aponta as crianças suecas como extremamente mal-educadas. Elas decidem, por exemplo, o que assistir na TV; a hora de dormir; quais os alimentos comer; ou, a roupa que vestirão.

Depoimentos de educadores suecos reforçam a afirmação do psiquiatra. Um professor relatou que quando pediu para um aluno de cinco anos resolver um exercício em sala de aula, a criança respondeu-lhe: “Você acha que eu quero fazer isso?”

Ao longo de quatro décadas as ‘crianças no centro’ restringiram toda e qualquer forma de correção ou imposição de limites. 

No Brasil uma conversa entre duas mulheres vazou na internet e tem movimentado as redes sociais. Para algumas pessoas trata-se de uma “preocupante inversão de valores na educação infantil”.

A conversa chamou a atenção pelo fato de um menino ter reclamado para sua mãe que não o deixaram brincar com um brinquedo.

A mãe tirou satisfações através de mensagens no celular. Questionou o porquê da proibição? A mulher explicou que possui peças colecionáveis, que além de serem caríssimas, não estavam na área social de sua residência.

A mãe questiona a possibilidade de o filho ficar doente e chamou a mulher de egoísta. Ela reforça seu argumento de indignação pelo ‘não’ que o filho recebeu, alegando que ele é apenas “uma criança”. Afirma que irá levá-lo novamente à casa da mulher e que ele brincará, ‘sim’, com os brinquedos. 

Independente das culturas, a essência humana é a mesma. Isso não é um pensamento determinista. Isso é um fato biológico, psíquico e emocional. O ser humano, sem limites, é um aspirante a tirano.

Essa é a tese defendida por David Eberhard. Para ele, a Suécia criou uma geração de pequenos tiranos e talvez devesse se questionar se tal decisão não foi longe demais.

E no Brasil? Qual a melhor decisão a ser tomada? Certamente que as opiniões são as mais variadas, e isso é um bom sinal, pois a tão falada autonomia e autodeterminação dos povos confere ao indivíduo sua maneira subjetiva de entendimento sobre aquilo que é melhor para si. E isso bem que poderia ser respeitado.

Na esfera particular, todos os dias digo ao meu filho de três anos e meio que ele é forte, inteligente, um menino amado por seus pais e que, por tudo isso, deve retribuir os cuidados e o comportamento educado que recebe.

Quando cerceio suas vontades, a reação é imediata: “você é fustante papai; você não vai na minha festa hoje”. Ele diz que sou frustrante ao impedi-lo de fazer algo e, não satisfeito, ameaça de impedir minha participação na sua festinha de aniversário. 

Digo a ele que quero muito estar na sua festinha, mas que ele não fará aquilo que bem entender enquanto estiver sob meus cuidados e responsabilidades de pai. Ganho um abraço e um “eu ti amo papai; eu tô feliz com você hoje”.

ARTIGOS

Melhor idade: um convite para grandes aventuras

03/12/2024 07h45

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As pessoas necessitam de um período para reavaliar as escolhas, explorar novos interesses e adquirir experiências inovadoras. O termo sabático, oriundo do hebraico shabat, está relacionado à tradição judaica de descansar a terra a cada seis anos de cultivo ininterrupto. Na terceira idade, um momento de pausa pode ser especial. Não é uma decisão fácil ou imediata, mas sim fruto de um processo de autoconhecimento e de estar disposto a sair da zona de conforto (ou de desconforto), enfrentando medos e desafios. Para que o projeto se torne exitoso, há três palavras fundamentais: antecedência, organização e planejamento.

Compartilho aqui a experiência que tive com meu marido, Paulo, de nosso período de pausa, após eu pedir afastamento do cargo de gestão que exercia há mais de 10 anos. Apesar de gostar imensamente do que fazia, não desvinculava o cansaço e o estresse que sentia a esse trabalho. Essa constatação me fez refletir e ver que era hora de “passar o bastão”, não sem antes praticar o desapego. O que fazer? O mundo tinha aberto as portas e o céu seria o limite!

Quantas possibilidades! Depois de várias “tempestades de ideias”, decidimos viajar por aproximadamente seis meses para a Europa em 2018, guiados por interesses comuns em história, cultura e arte do Velho Mundo.

Iniciamos a jornada pela Inglaterra e tivemos a oportunidade de conhecer e de interagir com pessoas de várias partes do mundo. Todo o roteiro foi em função do desejo de conhecermos as grandes obras de arte, como as contidas no British Museum, na capital inglesa, no Museu do Prado, em Madri, e no Louvre, de Paris, além de patrimônios históricos e culturais da humanidade, em lugares como Portugal e Alemanha. As vivências espirituais foram outro ponto alto do passeio, em espaços como a Sacré-Coeur, de Paris, o Self Realization Fellowship, de Dublin, e o templo de Neasden, em Londres.

Ao término de nossa viagem, voltamos com uma bagagem extraordinária de vivências e de conhecimentos que gostaríamos de passar para outras pessoas. Descobri o prazer de escrever e publiquei dois livros sobre a experiência, e Paulo entrou para o ramo do turismo. Valeu a pena? Muito!

Essa decisão precisa ter uma razão e um propósito, um plano de ação muito bem estruturado, com definição do tempo da pausa, do destino, dos custos e da preparação para o retorno, garantindo que essa experiência se reverta em crescimento pessoal ou profissional. Desperte sua criatividade e explore potencialidades que talvez nunca tenha imaginado, permitindo-se um período de pausa transformador!

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ARTIGOS

Recomendações de Herman Benjamin para os juízes

03/12/2024 07h30

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Sempre tive uma vontade grande de conhecer pessoalmente o ministro presidente do STJ, Herman Benjamin, paraibano de Catolé do Rocha, e conversar com ele para beber seus vastos conhecimentos jurídicos, filosóficos, teológicos e humanitários tão importantes para sedimentar as suas sentenças e engalanar a cátedra onde sustenta com absoluta competência. Esse sempre foi um dos meus acalentados sonhos.

O ministro está tão próximo da minha cidade Ponta Porã e não pude concretizar essa aspiração em razão da fragilidade da minha saúde. Mas as oportunidades se renovam e quem sabe um pouco mais à frente poderei concretizar esse desiderato precioso. Mas é certo também, em outra vertente, que as suas decisões inseridas nos anais dos tribunais por onde peregrinou e ainda peregrina são sábias e pedagógicas e de valor inigualável. Não são conversas vazias e destituídas de fundamentos esse indicativo lançado pelo articulista. 

São provas robustas e insofismáveis emanadas daqueles que verdadeiramente amam o Direito e ainda consagram a sua vida inteira a serviço da Justiça como instrumento fomentador da paz social. Sim, porque o Direito, embora seja uma ciência abstrata, ele atrai, seduz e nunca chega a satisfazer a inteligência do seu estudioso diante da sua grandeza e do alcance dos seus propósitos.

Desde que nascemos, com o registro de nascimento, até quando morremos, com o atestado de óbito, tudo o que fazemos ou realizamos no curso da nossa peregrinação terrena está regulamentado por normas, regulamentos, portarias, decretos e leis que formam o nosso ordenamento jurídico. Base fundamental para referendar a justa distribuição da Justiça sempre que esse reclamo bater às portas dos juízos, instâncias ou tribunais.

Nessa linha de pensamento e de coexistência pacífica entre o Estado e a sociedade civil organizada surge o Judiciário como instrumento valioso para assentar a paz social, sobretudo quando foi esse o propósito do Estado para chamar para si a responsabilidade de distribuir a Justiça. Como o Estado se trata de um ente abstrato, ele mostra a sua face na pessoa física do juiz como responsável pela aplicação da Justiça. Não pode existir nada mais sublime do que isso. 

Consolidar a paz social com a aplicação da norma jurídica capaz de serenar os ânimos dos que buscam na Justiça o último guardião para a defesa dos seus direitos. E isso se torna mais evidente quando se constata a lisura dos nossos juízes, suas condutas morais, culturais, sociais, éticas e jurídicas no contexto da sociedade em que convive, como expressão maior para conquistar a respeitabilidade dos seus jurisdicionados.

Na primeira entrevista que concedeu, e que está estampada nas páginas amarelas da edição da Veja de setembro/24, disse a cada jovem magistrado com quem se encontra que a ambição da riqueza material ou quem sonha com um emprego glamouroso não deve ser juiz, estará na profissão errada. E sentenciou dizendo que o juiz no exercício da sua função judicante nunca será rico, e quem quer ser rico, não deve fazer concurso para juiz. 

Foi o desabafo diante de tantos tormentos que sacudiram os tribunais estaduais com os afastamentos de desembargadores de seu ofícios judicantes. Mas esse desejo enlouquecido que embrutece o ser humano não reside apenas nos limites do Judiciário. Outras tantas instituições sofrem com esse pesadelo. Nem o papa Francisco com o seu colégio de cardeais rebelde, e de outros tantos padres que se utilizam da sotaina para destruir sonhos justos e santos, vive momentos do seu pontificado sem tormentos. 

Em razão desses ditames, a nossa Carta Constitucional, para evitar essa vontade condenável, reservou aos integrantes do Judiciário as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos como instrumentos robustos para enfrentar os poderosos e vencer os desafios que todos os dias surgem na sua rotina de trabalho.

Parabéns ao nosso Estado, que recebe as mais altas autoridades do Judiciário brasileiro pelo colóquio. Parabéns a nossa sempre linda Campo Grande, terra de José Antônio Pereira, plantador de uma cidade de gente honesta, trabalhadora e que respeita a ordem, a lei e as autoridades constituídas. 

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