Ainda são momentos de apreensão, decepção, jamais de desespero e de desilusão. Nesta minha longa caminhada que Deus me tem permitido, já presenciei momentos difíceis de serem transpostos pelas instituições nacionais. Recordo-me de pelo menos nove a partir de 1945, há setenta e dois anos: a queda de Getúlio Vargas, o suicídio de Getúlio; as quedas de Carlos Luz e João Café Filho; a renúncia de Jânio Quadros – vergonhosa; a queda de João Goulart; a suspensão de Arthur da Costa e Silva; o impedimento de Fernando Collor de Mello, como também de Dilma Roussef.
Em todos esses lamentáveis episódios que convulsionaram a nação brasileira, alguns com derramamento de sangue de irmãos que prostraram em holocausto aos ideais que defendiam, prevaleceram os sentimentos de brasilidade ditados nos estamentos da Lei Maior. Não se inquira quais os responsáveis por aquelas hecatombes e quais as suas causas. Pode-se com segurança dizer, como historicamente afirmara Lênin e recentemente repetida pelo cientista político Bolívar Lamounier: “o drama da mediocridade consiste em ver árvores e não perceber a floresta”.
A decepção que se apossa de imensa maioria de nosso povo está justamente na atuação medíocre dos que eventualmente ocupam a direção da coisa pública em suas diferentes esferas e como prelecionou Lênin se preocuparam com a árvore, o bem menor, esquecendo-se do imensurável valor da floresta, sem dúvida a comunidade nacional.
Durante três dias a nação teve sua atenção voltada para Alta Corte da Justiça Eleitoral levada a decidir sobre uma “picuinha” armada confessadamente pelo perdedor o pleito eleitoral pela Presidência da República. A brincadeira de péssimo mau gosto empolgou gregos e troianos deixando a nu o que já previra desde a mais de dois mil anos quando Pilatos deixara de reconhecer a Luz. Nada obstante cruzamos uma vez mais o Rubicon. A Constituição assegurou o norte a ser percorrido. Os poderes da República, embora chamusqueados, não se intimidaram diante das vocações empedernidas de setores radicais que tentam a todo instante abalar sua estrutura férrea.
Eis que novas denúncias surgem, algumas com objetivos ultraconhecidos e, pior, com acentuadas marcas de vindictas tanto quanto verrinosas. A intenção é desestruturar as vigas mestras dos Poderes, pois nessa campanha fratricida e extremamente preocupante todos saem desguaritados. Ainda agora surge sugestão estapafúrdia – aliás incompreensível porque parte de uma personalidade que notabilizou sua vida pública pela defesa da Lei Maior e em qualquer circunstância – ao chamar a consciência do atual primeiro mandatário do País para numa atitude de grandeza renuncie o alto cargo, antes convocando eleições gerais com a consequente reforma do texto constitucional para tal permitir. Além do tempo ser curto para uma decisão congressual, é sabido que no atual Congresso a ideia não vicejará. Até parece uma sugestão de neófito em política, sobretudo de nossa caseira!
Considero que o povo brasileiro, após atravessar tantas vicissitudes – e as que estão se renovando a cada instante - tem a consciência consolidada, forte como jacarandá e inamovível como a montanha, de que pode enfrentar outras tantas como certa vez afirmara Ortega y Gasset, em “Rebelião das Massas”, os plebiscitos do dia a dia.