Há expressões que caem como uma luva de pelica na personalidade de certas pessoas, em especial nas que desfilam na arena política. Aqui destaco duas delas: a milenar que vem da mitologia greco-romana, quando Júpiter, na sua magnificência, não suportava ser contrariado. Irritado, foi advertido por outro deus: “Júpiter, se tu te irritas, logo não tens razão!”. A outra tem raízes num diálogo entre o patrão metido a hábil caçador e o empregado de origem paraguaia. A cena se deu quando o patrão contava numa roda de amigos vantagens de uma caçada que fizera, ao matar um veado certeiramente nas duas patas dianteiras com um só tiro, como previra, e virou-se para o empregado exigindo a confirmação da bazófia, sob estupefação de todos. Deixando o local, o paraguaio humilde virou-se e disse: “Patron, da próxima vez minta menos ‘desparramado’, porque esta foi difícil de juntar!”.
Pois bem, ouvimos e muitos presenciaram ao vivo as declarações de dois ministros de estado ao cometerem deslizes declaratórios que podem ser encaixados no bojo daquelas duas expressões, tais: em “visita de passeio” pela capital do estado, pois sem resultado prático, eis que decepcionara índios e produtores rurais, o ministro em certo momento, de maneira tão grosseira e quase apoplética retrucou as palavras de uma produtora rural que teve as suas terras invadidas, apossadas, por indígenas. Pior, prevaleceu de sua momentânea autoridade para fazer ameaças.
Sobre esse destempero do ministro, permitam-me recordar que numa audiência pública realizada em comissão temática do Senado para debater a polêmica questão da gleba Buriti, em Sidrolândia, sua excelência ouviu – e calado – duras críticas da senadora Kátia Abreu, também presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Ouviu cordeirinho e agora em contra ponto tornou-se um leão dirigindo-se a humilde produtora rural.
A outra expressão, a do patrão e o empregado, comporta-se bem ao estilo de outro ministro ao tentar justificar a posição do Governo Federal diante da nota desclassificatória editada pela Agência Standard & Pool’s considerando o Brasil como um país de risco para investimentos financeiros internacionais. Foi além ao, numa postura professoral, ensimesmado pela condição de intérprete do Palácio do Planalto, minimizou os efeitos danosos à política econômica brasileira, sendo enfático ao afirmar que o Brasil cumpre rigorosamente seus compromissos externos e que nada deve atrasado. Porém, peca ele pela ausência de verdade. Exemplo. Todos os dias a imprensa publica que nosso País está há tempos inadimplente com organismos da ONU em milhões de dólares. Nossas representações, embaixadas, consulados, devem alugueres e são até ameaçados de despejo para o constrangimento dos diplomatas que lá servem.
Esse quadro desolador e vexatório que se tem das autoridades da Esplanada dos Ministérios, salvo dignas exceções. Pelo que aconteceu, são uns cara de pau. Não há outro adjetivo.