Lembro FHC que foi presidente da República e ainda hoje diante do que tem ocorrido com os que os sucederam ainda é considerado como referência: “a medida que vamos ficando mais velhos, convivemos cada vez mais com a memória”.
Nestes anos tão obumbrados na política nacional, onde até os carneiros se estranham, que dizer dos lobos esganados a tripa forra nas burras do tesouro público.
Numa espécie de consolo tenho com frequência voltado a memória para o passado, dos bons tempos da juventude quando mais inflamados eram os desejos de um dia participar ativamente das peleias públicas.
Lembro-me, já universitário na busca das fontes limpas da doutrina política frequentado os palácios Tiradentes e Monroe (respectivamente antigas sedes da Câmara dosa Deputados e do Senado Federal).
Assistindo às sessões muito aprendi nos discursos de eminentes parlamentares fluentes em suas mensagens de saber e erudição política. Ouvia-os com atenção e profundo respeito.
Na época despontavam-se grandes oradores. Lembro-me de alguns como Afonso Arinos de Melo Franco, Alberto Deodato, Aliomar Baleeiro - estes também meus mestres na faculdade de direito da UDF ( o tradicional casarão do catete) - Gustavo Capanema, Vieira de Melo, este digladiando com as mesmas armas da oratória com o carbonário Carlos Lacerda; Flores da Cunha com suas tiradas gauchescas ( quem come carne que roa o osso).
Daqui da terra, as oratórias flamantes de José Fragelli, e Argemiro Fialho, as ponderações de Dolor de Andrade e João Ponce de Arruda. Deles todos hauri conhecimentos pelas suas trajetórias de extrema inteligência e diligência política.
Até quando assumi a cadeira de deputado federal no final da década de 70, fazendo parte da primeira representação de nosso novel estado, convivi com alguns daqueles expoentes oriundos de uma constelação de homens públicos que estava rareando na arena da política nacional e que deixaram seus rastros que jamais serão esquecidos pelo saber, inteligência e de cidadania prestantes à pátria.
Eram raríssimos os escândalos partidos da classe política. Me recordo apenas do fantasmagórico deputado Barreto Pinto defenestrado por acinte ao decoro parlamentar. No executivo sim, e guardadas as proporções e os limites do tempo, tenho que foram minúsculos diante da farra escandalosa encontrada nos propinodutos da era lulopetista, desnudada pela Operação Lava-Jato de repercussão internacional.
Parafraseando Plínio, o antigo, lendário da república romana, sou a cada dia que passa mais saudoso do passado. Sem ambição política e consciente de minhas limitações, pisando em terras sáfaras (pedregosas) sou teimoso ainda na perseguição dos ideais que veem da já longínqua mocidade.
PS . Registro com profundo pesar o falecimento de dois proeminentes cidadãos que tiveram marcante atuação na vida pública de Mato Grosso uno: O professor Aecim Tocantins e o advogado Walter Faustino Dias.
Aecim fechou os olhos para sempre aos 94 anos em Cuiabá, sua terra natal, onde exerceu missões importantes, tais como prefeito, secretário de estado, chefe da casa civil do governo José Fragelli, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e também foi titular da Comissão Especial do governo do presidente Geisel quando dos estudos para a divisão territorial do Estado de Mato Grosso, de 1975 a 1977, quando pela Lei Complementar nº 31 foi criado Mato Grosso do Sul. Na vida privada teve destacada atuação como contabilista emérito.
Já o dr. Walter Faustino Dias, filho ilustre de tradicional família de Santana do Paranaíba, histórica cidade e ponto de entrada para a colonização da região sul do antigo Mato Grosso, faleceu com vetusta idade.
Teve realce como um dos autênticos líderes da região do bolsão, divisionista de primeira hora ainda em vida viu vitoriosa a sua luta pela criação do novo estado – Mato Grosso do Sul. Foi deputado estadual quando da elaboração da primeira carta constitucional do estado, após a queda do Estado Novo do ditador Getulio Vargas; foi procurador chefe do Ministério Público Estadual no governo de José Garcia Neto.
Voltando a residir em sua terra natal, Paranaíba, manteve acesa a sua preocupação com os destinos de nosso estado e do Brasil, pela respeitabilidade de sua vida digna sempre teve merecida a sua opinião.
Fui amigo, admirador e companheiro dos dois, Aecim Tocantins e Walter Faustino, irmanados pelos mesmos ideais em memoráveis pugnas eleitorais e políticas. Descansem em paz, com a consagração dos que os conheceram.