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OPINIÃO

"Rússia e USA: uma nova crise geopolítica? o que o futebol tem a ver com isso?"

Administrador e Professor da UFAL – Campus de Arapiraca/AL

Redação

22/08/2015 - 00h00
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No final do mês de maio, o mundo do futebol foi surpreendido com uma grande “bomba”. Dessa vez, a manchete que causou alvoroço não tem nada a ver com escândalos sexuais envolvendo ex-atletas ou com valores exorbitantes pagos na contratação de um novo “superastro”. A bola da vez foi a prisão, realizada pelo FBI, de sete dirigentes da FIFA e cinco executivos ligados ao futebol. As acusações? Lavagem de dinheiro, corrupção, extorsão e outros delitos considerados crimes graves em quase todas as nações democráticas do mundo. A notícia foi comemorada pelos defensores da moralidade no futebol e por todos aqueles que anseiam por justiça num mundo cada vez mais injusto. E não poderia ser diferente; afinal, é o mínimo que se espera dos órgãos judiciais – investigar, apurar, prender e julgar. É admirável, no entanto, o fato de poucos questionarem a intervenção de uma agência norte-americana sobre uma entidade que não tem sede no seu país. Causa espanto também poucos terem-se dado conta da dimensão política e econômica por trás dessas doze prisões.

Vamos aos fatos. Como todo mundo sabe, Estados Unidos e Rússia não são os melhores amigos do mundo. Mesmo findada a Guerra Fria, as tensões envolvendo as duas nações são motivos de preocupação em todo o globo. Afinal, trata-se de duas potências militares que exercem influência política e econômica em todos os continentes. E é este exatamente o ponto: desestabilizar econômica e politicamente o seu adversário é um dos grandes trunfos desde as mais primitivas guerras. E, para isso, todas as armas devem ser usadas; até o futebol...

A próxima Copa do Mundo, em 2018, será realizada na Rússia. Faltando ainda três anos para o início da competição, a Rússia já entregou parte dos 12 estádios e vem investindo incessantemente em obras de infraestrutura. Com um orçamento total de US$ 20 bilhões (60% maior que o montante investido pelo Brasil), o país vê no evento a oportunidade de amenizar a crise financeira que vem atingindo o planeta. Como grande parte dos recursos já foi comprometida, não há como devolver o que foi gasto. Assim, não é preciso ser um matemático para ter noção do impacto de um prejuízo de US$ 20 bilhões para uma nação em crise. Os responsáveis pelo FBI – que também não são matemáticos – sabem disso.

De acordo com a agência americana, a FIFA vem agindo de maneira corrupta há pelo menos 24 anos. Ora, se é sabido que uma instituição de amplitude internacional vem desviando dinheiro e vendendo sedes de competições há mais de duas décadas, por que tal fato só veio à tona agora? Se a corrupção nessa entidade é algo que remonta ao início da década de 1990, isso quer dizer que as copas realizadas desde então estão sob suspeita – inclusive a Copa dos EUA. Assim, caso seja identificada alguma irregularidade na escolha dos EUA para sediar o mundial de 1994, os responsáveis serão punidos? Teremos que devolver a taça? Dificilmente.

Os boicotes aos jogos na Rússia, anunciados pela Europa, nada têm a ver com a crise humanitária na Ucrânia. No mundo interino, existem centenas de outros conflitos que exterminam, numa só semana, mais vidas que todas as batalhas no território ucraniano desde o início dos confrontos. Por serem travados em territórios pobres e sem importância política (como em boa parte da África), não há, todavia, qualquer interesse da Europa ou EUA em realizar algum tipo de intervenção.

De acordo com o advogado norte-americano John Shulman, a mobilização internacional encabeçada pelo FBI não teve qualquer relação com fraudes envolvendo empresas ou entidades ligadas ao futebol – a ação da agência teve motivação geopolítica e de dominação. Para ele, o objetivo não é apenas pressionar a Rússia, mas também dar um recado ao Qatar (sede da Copa de 2022). Além disso, o americano questiona o aparato empregado na operação na Europa – com alto custo para os cofres públicos – enquanto existem centenas de empresas nos EUA notoriamente mais corruptas que a FIFA, mas que não recebem a mesma “atenção”. 

Bem, nesse jogo desigual é como se, antes mesmo de iniciar a partida, o juiz já tivesse dado cartão vermelho à metade do time adversário. Resta agora saber se o time do Tio Sam terá condições de manter o WO até o fim da competição e continuar no topo da tabela.

Artigos

Cop 30, a hora da verdade

Escrito pela presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva

06/11/2025 03h00

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Divulgação

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Começa hoje, na Amazônia brasileira, a Cúpula de Belém, que antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Convoquei os líderes de todo o mundo para essa reunião, dias antes da abertura da COP, para que todos assumam o compromisso multilateral de agir com a urgência que a crise climática exige.

Se não atuarmos de maneira efetiva, para além dos discursos, nossas sociedades perderão a crença nas COPs, no multilateralismo e na política internacional de maneira mais ampla. É por isso que convoquei os líderes globais para a Amazônia e conto com o empenho de todos eles para que essa seja a COP da verdade, o momento em que provaremos a seriedade de nosso compromisso com todo o planeta.

Ações coletivas baseadas na ciência provam nossa capacidade de enfrentar e vencer grandes desafios. Fomos capazes de proteger a camada de ozônio. A resposta global à pandemia da Covid-19 provou que o mundo dispõe de meios para agir, sempre que há coragem e vontade política.

O Brasil foi sede da Cúpula da Terra em 1992. Aprovamos as convenções do Clima, da Biodiversidade e da Desertificação e os princípios que estabeleceram um novo paradigma e rumo para preservarmos o planeta e a humanidade. Nesses 33 anos, os encontros resultaram em acordos e metas importantes para a redução dos gases de efeito estufa (zerar o desmatamento até 2030, triplicar o uso de energia renovável, etc.).

Mais de três décadas depois, o mundo volta para o Brasil para discutir o enfrentamento à mudança do clima. Não é à toa que a COP30 aconteça no coração da floresta amazônica. É uma oportunidade para que políticos, diplomatas, cientistas, ativistas e jornalistas conheçam a realidade da Amazônia.

Queremos que o mundo veja a real situação das florestas, da maior bacia hidrográfica do planeta e dos milhões de habitantes da região. As COPs não podem ser apenas uma feira de boas ideias, nem uma viagem anual dos negociadores. Elas devem ser o momento de contato com a realidade e de ação efetiva no enfrentamento à mudança do clima.

Para combater, juntos, a crise climática precisamos de recursos. E reconhecer que o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, continua sendo a base inegociável de qualquer pacto climático.

Por essa razão, o Sul Global exige maior acesso a recursos. Não por uma questão de caridade, mas de justiça. Os países ricos foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono. Precisam, portanto, estar à altura de suas responsabilidades. Não apenas assumir compromissos, mas honrar suas dívidas.

O Brasil está fazendo sua parte. Em apenas dois anos, já reduzimos pela metade a área desmatada na Amazônia, mostrando que é possível agir concretamente pelo clima.

Lançaremos em Belém uma iniciativa inovadora para preservar as florestas: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). É inovador por ser um fundo de investimento, e não de doação. O TFFF remunerará quem mantiver suas florestas em pé e também quem investir no fundo. Uma lógica de ganha-ganha no enfrentamento à mudança do clima. Liderando pelo exemplo, o Brasil anunciou investimento de US$ 1 bilhão no TFFF e esperamos anúncios igualmente ambiciosos de outros países.

Também demos o exemplo ao nos tornarmos o segundo país a apresentar sua nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59 e 67% suas emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

É nesse sentido que convocamos todos os países a apresentarem NDCs igualmente ambiciosas e as implementarem efetivamente.

A transição energética é fundamental para o cumprimento da NDC brasileira. Nossa matriz energética é uma das mais limpas do mundo, com 88% da eletricidade vinda de fontes renováveis. Somos líderes em biocombustíveis e avançamos na energia eólica, solar e hidrogênio verde.

Direcionar recursos da exploração do petróleo para financiar a transição energética justa, ordenada e equitativa será fundamental. As empresas petroleiras do mundo, como a brasileira Petrobras, com o tempo se transformarão em empresas de energia, porque é impossível seguir indefinidamente com um modelo de crescimento baseado nos combustíveis fósseis.

As pessoas devem estar no centro das decisões políticas sobre o clima e a transição energética. Precisamos reconhecer que os setores mais vulneráveis da nossa sociedade são os mais afetados pelos efeitos da mudança climática, por isso, os planos de transição justa e adaptação precisam ter como objetivo o combate às desigualdades.

Não podemos esquecer que 2 bilhões de pessoas não têm acesso à tecnologia e combustíveis limpos para cozinhar. 673 milhões de pessoas ainda vivem com fome no mundo. Em resposta a isso, lançaremos, em Belém, uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima. É essencial que o compromisso da luta contra o aquecimento global esteja diretamente relacionado ao combate à fome.

Também é fundamental que avancemos com a reforma da governança global. Hoje o multilateralismo sofre com a paralisia do Conselho de Segurança da ONU. Criado para preservar a paz, não consegue impedir as guerras. É nossa obrigação, portanto, lutar pela reforma dessa instituição.

Na COP30, defenderemos a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU, vinculado à Assembleia Geral. Uma nova estrutura de governança, com força e legitimidade para garantir que os países cumpram o que prometeram. Um passo efetivo para reverter a atual paralisia do sistema multilateral.

A cada Conferência do Clima, ouvimos muitas promessas, mas poucos compromissos efetivos. A época das cartas de boas intenções se esgotou: é chegada a hora dos planos de ação. Por isso, começamos hoje a “COP da verdade”.

* Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil

 

ARTIGOS

Donald Trump e a perigosa escalada nuclear no mundo

Em troca da redução das tarifas impostas a Pequim, Washington busca recuperar espaço na venda de soja e no acesso aos minerais de terras raras do país asiático

05/11/2025 07h45

Arquivo

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O governo de Donald J. Trump firmou um acordo relevante com a China, voltado à melhoria das relações comerciais entre os dois países.

Em troca da redução das tarifas impostas a Pequim, Washington busca recuperar espaço na venda de soja e no acesso aos minerais de terras raras do país asiático – elementos estratégicos para diversas indústrias de alta tecnologia.

Trata-se de uma negociação crucial para a frágil estabilidade do comércio global, marcada por tensões e dificuldades de consenso entre as grandes potências.

Entretanto, no mesmo dia em que anunciou o entendimento com a China, Trump declarou a intenção de retomar os testes nucleares, prática abandonada desde o fim do século 20.

Diante das incertezas geradas pela guerra entre Ucrânia e Rússia, pelos avanços tecnológicos de Pequim e pelas pesquisas nucleares iranianas, os Estados Unidos preparam-se novamente para a hipótese de uma guerra total no século 21.

Único país a lançar bombas atômicas contra outro, Washington conhece bem os dilemas éticos, políticos e estratégicos que esse tipo de decisão acarreta à complexa arena geopolítica internacional.

O cenário poderia ser amenizado com novos tratados que visassem restringir o uso e os testes de armas nucleares. Contudo, tais iniciativas parecem inviáveis enquanto as três maiores potências militares – Estados Unidos, Rússia e China – mantiverem-se em estado de tensão ou conflito iminente.

Assim, enquanto Moscou se sentir ameaçada pela expansão da Otan e Pequim interpretar o apoio norte-americano a Taiwan como provocação direta, a dissuasão nuclear continuará a ser um pilar estratégico na manutenção do equilíbrio global.

Na pior hipótese, porém, esse mesmo equilíbrio pode se transformar em um gatilho para uma catástrofe de proporções apocalípticas.

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