Artigos e Opinião

EDITORIAL

Segurança pública sem atalhos eleitorais

Debater segurança pública é fundamental, mas é preciso fazê-lo com seriedade, responsabilidade e foco no resultado, não no palanque

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A segurança pública caminha para ser o tema central das próximas eleições, segundo indicam as pesquisas de opinião. Não é difícil entender por que: trata-se de um assunto que impacta diretamente o cotidiano das pessoas, seja na porta de casa, no transporte público, no comércio ou simplesmente no uso do celular na rua.

Mas, ao mesmo tempo em que o interesse do eleitorado sobre o tema é saudável, há nuances e preocupações que precisam ser observadas antes que o debate eleitoral transforme um problema complexo em slogans simplistas.

É positivo que a segurança pública ocupe espaço nas discussões políticas. O Brasil precisa falar mais sobre isso – e com profundidade. O risco, porém, é o debate ser capturado pelo marketing pré-eleitoral, de um lado ou de outro, e reduzido a frases de impacto, promessas imediatistas e propostas que servem mais para construir palanques do que para enfrentar as causas da violência.

Quando a discussão se torna enviesada, quem perde é o cidadão, que precisa de soluções reais, e não de disputas para ver quem “aparece na foto” por ter feito algo pela segurança.

Exemplo recente disso é a corrida pela aprovação de leis mais duras contra facções criminosas. É inegável que o País demorou a adotar mecanismos mais firmes para punir lideranças e integrantes dessas organizações.

No entanto, aprovar medidas em regime de urgência para atender ao calendário político é motivo de alerta. Projetos importantes, especialmente aqueles que alteram o sistema penal, não podem ser tratados como troféus de campanha.

Há consenso de que penas mais rígidas, ampliação do regime fechado e regras mais severas de cumprimento podem ajudar. A questão é outra: existe infraestrutura no sistema prisional para absorver essas mudanças? Estados e União têm condições de implementar as novas exigências?

A realidade das prisões brasileiras – superlotadas, sem controle efetivo e muitas vezes dominadas pelas próprias facções – deixa clara a dimensão do desafio. Endurecer a lei sem reformar o sistema pode significar apenas transferir o problema de um papel para outro.

Outro ponto sensível diz respeito à polêmica sobre o fim dos bloqueios de bens de integrantes de organizações criminosas. Estudos mostram que sufocar financeiramente as facções é uma das estratégias mais eficazes para desmontar suas operações.

Por isso, é legítima a pergunta: a quem interessa flexibilizar ou enfraquecer esse instrumento? Sem rastrear e impedir o fluxo de dinheiro, qualquer política de enfrentamento perde força.

Também é preciso reconhecer que segurança pública envolve percepção e varia de acordo com cada realidade.

O Brasil é um país de contrastes: há estados onde a população circula com relativa tranquilidade e outros em que portar um celular pode representar risco. Ignorar essas diferenças produz políticas genéricas, incapazes de responder às necessidades locais.

Debater segurança pública é fundamental. Mas é preciso fazê-lo com seriedade, responsabilidade e foco no resultado, não no palanque.

O País precisa de um combate efetivo às organizações criminosas, e não de leis apressadas que criem zonas de insegurança jurídica ou, pior, acabem fortalecendo o crime que pretendem combater. O tema é urgente demais para ser tratado como ferramenta de campanha.

EDITORIAL

Mobilidade em risco no momento mais crítico

Em dezembro, quando a cidade deveria estar focada em avançar economicamente e aquecer o comércio, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho

06/12/2025 07h15

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A ameaça de paralisação do transporte coletivo em pleno fim de ano é tudo o que Campo Grande não precisava enfrentar. Em um período naturalmente sensível para a economia – com comércio aquecido, maior demanda por serviços e intensa circulação de pessoas –, qualquer instabilidade se transforma em prejuízo social e financeiro.

A cidade depende do funcionamento do sistema de ônibus para manter seu ritmo, e qualquer incerteza coloca em risco não apenas o deslocamento diário da população, mas também o desempenho econômico de diversos setores. A engrenagem urbana, especialmente em dezembro, não tolera paradas bruscas.

O Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo da Capital, afirma que enfrenta dificuldades financeiras severas e que não dispõe de recursos para pagar o 13º salário de motoristas e demais funcionários. Alega atrasos em repasses de subsídios públicos, que são parte importante da equação econômica do sistema.

Por trás da disputa técnica entre governo, prefeitura e consórcio, há um fato concreto: se os ônibus param, quem paga a conta é o cidadão – aquele que depende do transporte para trabalhar, estudar, acessar serviços de saúde ou simplesmente fazer suas compras de fim de ano.

É preciso compreender que a paralisação do transporte coletivo não afeta apenas quem usa o ônibus. O impacto econômico é profundo e imediato. Sem mobilidade, trabalhadores podem faltar, empresas reduzem fluxo, o comércio perde movimento e serviços deixam de ser prestados.

A suspensão da frota significa atrasos em entregas, queda no faturamento e um ciclo negativo que se espalha rapidamente pela economia local. Em um momento em que Campo Grande tenta equilibrar sua atividade econômica e superar dificuldades após a pandemia e a crise fiscal, o risco de colapso do transporte coletivo é preocupante.

No centro do impasse estão os repasses públicos – atrasados, segundo o consórcio – em um período crítico, tanto para o governo do Estado quanto para a prefeitura. O Estado enfrenta diminuição no ritmo da arrecadação, algo que afeta diretamente sua capacidade de ampliar aportes.

A prefeitura, por sua vez, vive um quadro de aperto financeiro evidente, inclusive com dificuldades para honrar seu próprio 13º salário. Não é a melhor combinação para um sistema que depende fortemente do equilíbrio entre tarifas e subsídios para funcionar.

O transporte coletivo, por sua natureza, exige previsibilidade. Quando esse elemento desaparece, todo o sistema fica vulnerável. A população, já acostumada a enfrentar ônibus lotados, longas esperas e limitações estruturais, não pode ser penalizada novamente por questões administrativas ou disputas financeiras.

É momento de responsabilidade de todas as partes: o consórcio precisa demonstrar transparência sobre suas contas; o poder público precisa oferecer clareza sobre repasses e obrigações; e ambos precisam agir com rapidez para evitar que a cidade pare.

Em dezembro, quando Campo Grande deveria estar focada em avançar economicamente, aquecer o comércio e garantir a normalidade da rotina urbana, o risco de paralisação do transporte coletivo soa como um alerta vermelho.

Não se trata de um problema setorial, mas de uma ameaça ao funcionamento da cidade como um todo. A solução precisa ser imediata, dialogada e comprometida com a continuidade do serviço. A população não pode – e não deve – ser a parte mais prejudicada dessa equação.

ARTIGOS

Trump e Maduro: uma questão de legitimidade

O campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões

05/12/2025 07h45

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O tensionamento da relação entre Estados Unidos e Venezuela nos últimos tempos tem produzido uma série de reflexões sobre os motivos (reais ou alegados) acerca de tal panorama e o impacto que a disputa pode produzir no Brasil em termos geopolíticos, dado o posicionamento do governo federal atual sobre a situação e, especificamente, sobre os mandatários Donald Trump e Nicolás Maduro. Em última análise, a questão diz respeito ao conceito de legitimidade, ponto que merece alguma discussão.

A noção de que algo é legítimo se refere ao fato de que uma determinada situação está de acordo com o direito ou com a concepção social de justiça, ou seja, além da mera aferição formal de legalidade. Assim sendo, o campo para debate a respeito da conduta das duas figuras políticas é fértil e tende a ativar muitas paixões.

Primeiramente, há que se verificar a legitimidade do mandato presidencial de Maduro para, na sequência, refletir acerca da legitimidade da ação de Trump em relação à Venezuela. Ainda que sejam assuntos teoricamente independentes, parece difícil negar a vinculação existente entre os assuntos, com maior ou menor relevância, a depender da ótica do analista.

A eleição presidencial na Venezuela, ocorrida em 2024, colocou diante de Nicolás Maduro a oposicionista María Corina Machado, que foi impedida de concorrer, sendo substituída por Edmundo González Urrutia como figura principal de contraponto ao presidente durante o pleito.

Sob acusação da oposição e de observadores internacionais de falta de clareza na contagem de votos, não houve o reconhecimento da vitória de Maduro, que está no cargo desde 2012, primeiro interinamente (em substituição a Hugo Chávez) e, depois, por meio de eleições, realizadas em 2013 e 2018, mas a última vitória também havia sido objeto de muita discussão em decorrência da suspeita de fraude.

Nos últimos meses, sob o argumento de combate ao tráfico de drogas na América Latina, o governo norte-americano tem aumentado a pressão sobre maduro, alegando que ele teria ligação com o Cartel de los Soles, inclusive estabelecendo uma recompensa de US$ 50 milhões por informações aptas a levar à captura do atual presidente venezuelano.

A chegada do gigantesco porta-aviões USS Gerald Ford à região do Mar do Caribe reforçou a tensão e a possibilidade de que uma atitude mais drástica possa ocorrer a qualquer momento. A caracterização de grupos criminosos ligados ao narcotráfico como terroristas, responsáveis por efeitos nocivos no território norte-americano, é utilizada como argumento por Trump para justificar a ação mais incisiva.

O Brasil, como principal potência regional da América do Sul, é claramente agente interessado no desenrolar dos fatos, pois o conflito envolve a nação mais forte militar, política, cultural e economicamente do mundo e um país fronteiriço.

A grande questão é que está se aproximando, cada vez mais, o momento em que o posicionamento brasileiro pode trazer consequências concretas mais efetivas ao País, do ponto de vista político e econômico, muito além da questão da ampliação das tarifas.

A legitimidade de Maduro e Trump com relação a suas ações é pressuposto inafastável para a consideração desse complexo contexto internacional. O Brasil não pode se furtar a tomar uma posição em relação a isso em algum momento, pois muitos dos agentes envolvidos têm ligação com o País, seja historicamente ou por meio de organismos internacionais.

Ainda que, algumas vezes, certas figuras influentes politicamente queiram passar a falsa impressão de que determinadas situações complexas possam ser resolvidas de modo simples, com uma conversa, é evidente que o caso envolvendo Trump e Maduro pode ter implicações muito sérias para a sociedade brasileira, dado o problema nacional envolvendo o narcotráfico.

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