Na biologia, a metamorfose é uma mudança na forma e na estrutura do corpo. É um processo vivido por muitos insetos e anfíbios, e tem como propósito o crescimento ou mesmo a transformação da juventude em fase adulta.
Para cada um, a metamorfose tem um tamanho: alguns insetos nascem com as características quase iguais às de um adulto, e a metamorfose consiste no surgimento das asas. Outros passam pela transformação completa: ovo, lagarta, crisálida e vida adulta, como é o caso da borboleta.
Na ficção, o tema fez sucesso com Franz Kafka, que criou, no livro “Metamorfose”, um homem que se transforma num inseto gigante. Com isso, o escritor fazia uma crítica às imposições da sociedade: ele comparava a prisão de um homem dentro do corpo de um inseto à prisão que trabalhos burocráticos cotidianos impunham à sua criatividade.
Mesmo saindo da biologia e da ficção, e entrando na vida prática, ninguém se encontra livre de processos de metamorfose. Pode-se até tentar passar uma vida inteira na mesmice, mas não é um desejo normal. Já viu borboleta querer ser lagarta para sempre? No caso de humanos, simples e mortais, incapazes de transformar-se em insetos – ainda que se sintam verdadeiros insetos em alguns momentos de sua existência –, a metamorfose desejada é aquela pensada por povos arcaicos.
Eles acreditavam na metamorfose como sinônimo do processo de evolução durante uma vida. “Naturalmente, pertencia ao livre-arbítrio de cada um a decisão de evoluir nesta vida ou nada fazer, ou mesmo regredir. Para o pensamento arcaico, o homem tinha uma responsabilidade inalienável com o que fizesse nesta existência”, conta o especialista em mitologia grega Viktor Salis, no livro “Ócio Criador”.
Nos insetos, o nascer de asas não ocorre em qualquer momento, mas num bem determinado grau de desenvolvimento.
Não basta ter a estrutura de inseto para voar, é preciso desenvolver as asas. Essa poderia ser uma comparação com o que fala o escritor Abdruschin: “Não basta, portanto, trazer dentro de si o espírito para ser um ser humano, mas sim uma criatura só se torna ser humano, quando deixa atuar dentro de si o espírito como tal!”.
A metamorfose entra, então, aqui como uma ideia de transformação interior, de alimento para a alma, de cultivo do que é virtude, do desenvolvimento de condições ou tecidos para a formação das asas.
Para a efetivação de uma grande metamorfose, pode existir o tempo de preparação como crisálida ou um esforço de libertação, como o da cigarra rompendo a casca. Libertar-se da casca pode não ser fácil, mas qual o preço de ganhar as asas?
* Jornalista, pós-graduada em Jornalismo Literário, colaboradora do blog www.literaturadograal.blogspot.com.br