A primeira coisa que faço, logo quando me levanto da cama, é colocar o chapéu. Se ele não está ao alcance, pego o primeiro pano que vejo e amarro na cabeça. Só depois disto, deste gesto aparentemente tresloucado, é que enfrento o espelho e faço minha higiene matinal.
Tudo isto porque vivo momento de muito desassossego com meus cabelos. Tudo bem, eu admito: eles nunca me deram sossego. Ou sou eu que nunca dei sossego aos meus cabelos.
Não por acaso são sempre tema das minhas crônicas. Agora mesmo, enquanto tento escrever alguma coisa, não consigo deixar de perceber as dezenas de grampos que tenho na cabeça. Que, claro, incomodam um pouco. Mas foi a única maneira que encontrei de me concentrar.
Hoje, quando saí para a rua, amarrei um lenço. Minha amiga achou que era charme, mas não era. O artifício que usei foi apenas para encobrir minha vergonha.
Não é a primeira vez que isto acontece, mas nunca foi tão difícil. Acho que o universo está me dizendo para ter cuidado com os desejos. Sim, porque volta e meia ficava pensando em ter cabelos curtíssimos, daqueles de nuca batida, algo que nunca tive. Então fiz assim: fui cortando devagarzinho. Até que em pouco mais de um mês, num acesso de desatino, tosei minhas madeixas quatro vezes. Ou mais, se contar os picotes que dei com minha tesoura de unha, sempre que percebia ponta sobrando. Cortei a primeira vez e ficou lindo. Assim me disseram, e eu acreditei. Uma semana depois, voltei ao salão por conta da tal tesourinha de unha.
Um mês depois achei que era hora de colocar o corte em dia. Curto tem este pequeno inconveniente. Meio tímida, com receio de pagar mico, mostrei a foto da Glória Pires e insinuei: gosto deste corte. A cabeleireira fez ouvidos moucos. E quando percebi, tinha uma máquina fazendo barulho na minha nuca. Quase desmaiei. Mas ficou bonito, pensei.
No dia seguinte, me vi com uma cachopinha. Cismada com formas redondas, achei o corte com jeito de capacete. Fui trabalhar com um monte de grampos e gel. Mas como o diabo mora nos detalhes, passei o dia pensando em mudar. Dar uma repicada, uma leveza, qualquer coisa pra tirar aquele capacete da minha cabeça.
Gosto de formas retangulares. Redondas, nunca! E como se estivesse no piloto automático, sentei-me na cadeira e pedi: conserta. Ele cortou e na hora ficou bonito. No dia seguinte, me recusei a olhar no espelho. Fiquei sem cabelo, sem brio, sem vergonha, sem personalidade e com frio na barriga que dói pra caramba cada vez que olho a foto da semana passada.
Justo aquela que bombou no Facebook. Chorei, gritei, dei dois tabefes na minha cara de idiota e a raiva não passou. Fui para a internet ver produtos para crescer mais rápido e me deparei com xampu pra cavalo. Pensei, sou burra, pra mim não serve. Mas comprei vitaminas, óleo de jojoba, que de acordo com uma blogueira faz crescer.
Também olhei site de perucas e apliques e pensei na possibilidade de um mega-hair, mas desisti por conta do preço.
Então consultei minha guru para assuntos aleatórios e questionei o ponto da futilidade. De que adianta meditar se não resisto a um corte de cabelo? Ela, muito zen, me aconselhou a raspar a cabeça, adotar o monastério e o nome de Padme Hilcar. Recusei gentilmente a sugestão, mas voltei a sorrir, abandonei o chapéu e fui meditar. Não sem antes tomar minhas pílulas milagrosas, que, segundo a propaganda, são uma bomba que faz crescer cabelo rapidinho.
Sansão também perdeu a força quando lhe tosaram as madeixas. Vai ver é isto. Minha força está no cabelo, ou talvez minha fraqueza.