Tudo na vida é uma questão de perspectiva. Se nosso olhar mudar o ângulo, tudo vai mudar. Das coisas mais prosaicas, aos questionamentos morais e filosóficos, até chegar ao cerne de tudo: o significado da nossa existência.
Com um pouco de curiosidade, abertura intelectual, até mesmo os céticos e empedernidos podem se render ao fato. Comigo não precisou de muito. Faz tempo que aprendi – por vias tortas, devo confessar – que o mundo não é apenas esta terra em que pisamos.
Tampouco o universo limita-se a um céu que vemos com sol e lua e algumas estrelas. Sempre imaginei que existissem mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia imagina.
Depois de assistir ao documentário da BBC, na Netflix, chamado “Which Universe Are We In?”, descobri que minha imaginação tinha algo de real. No filme, cientistas de renomadas universidades, de várias partes do mundo, discutem os novos indícios a favor da teoria de que nosso universo é composto de infinitos mundos, um multiverso em expansão, como designam.
Ou seja, não sabemos nem onde estamos de verdade, tantas são as possibilidades no cosmos (outro documentário interessante). Durante um dos retiros de meditação, meu guru, Sri Prem Baba, indicou que vivemos numa espécie de Matrix. Ou seja, nada é o que parece. E de nada adianta nos apegarmos às situações, porque elas simplesmente não estão no presente. Ou estão no passado ou no futuro.
Um dos maiores pensadores de todos os tempos, o armênio Gurdjieff já disse que ninguém atravessa o mesmo rio duas vezes. Porque ele, o rio, não será mais o mesmo. Ou seja, pode ser que eu nem esteja mais escrevendo. Nem você lendo.
Para quem conseguiu chegar até este ponto do texto, isto pode parecer exótico demais. Talvez semelhante à sensação das pessoas quando Copérnico começou a dizer que a Terra não era o centro do mundo. As ideias inovadoras e os gênios sempre parecem loucos na sua época. Não por acaso, Giordano Bruno foi queimado vivo numa fogueira. Mas, na época, as pessoas não dispunham da tecnologia que temos hoje.
Era difícil acreditar em algo que não podia se ver apenas com os olhos. No documentário “Which Universe Are We In?”, os cientistas afirmam que somos uma partícula ínfima no cosmos. Teorias combinadas com a descoberta do que ocorre em níveis microscopicamente quânticos dão a eles a certeza de que esta possibilidade é uma revolução no campo da Ciência e, claro, uma revolução para o ser humano.
De repente, toda a minha vida parece fazer sentido. E foi preciso apenas conhecer o outro lado dos fatos – junto, claro, à minha disposição para absorver novos conhecimentos. Eu, você e todo mundo não passamos de poeira cósmica. Mas, via de regra, nós nos comportamos como reis da cocada. Acreditamos que somos o umbigo do mundo. Ao contrário daqueles que acreditaram que tudo girava em torno da Terra, nós acreditamos que tudo gira ao nosso redor.
Por isto reclamamos de tudo e de todos, durante todo o tempo. Porque acreditamos que todos são responsáveis pelo nosso mal-estar. E pior, acreditamos que tudo é verdade. Acreditamos em tudo que vemos e sentimos. Não reconhecemos dentro de nós a sombra (the dark side) que, volta e meia, nos aterroriza e nos acusa. Aceitar que somos minúsculos, microscópicos, pode nos dar a exata dimensão do que estamos fazendo com a vida que temos agora. Ou seja, nada. Ou quase nada. Se a gente apenas respirar, de forma consciente, e olhar o silêncio, pode ser que as coisas mudem, que o nosso mundo mude. Mesmo que isto não faça a menor diferença no universo. Continuamos.