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Um certo amanhã

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Parece nome de filme de Hollywood, do tipo “The Day After”, mas o clima hoje permite refletir sobre o que poderá ser um amanhã para todos nós terráqueos – sem parecer delirante. Há quase dez anos, quando comecei a escrever sobre mudanças climáticas, alguns amigos não levaram a sério. Acho que a colocavam no mesmo pacote da chamada teoria da conspiração.

As consequências, sob o nome e a forma de desastres naturais, parecem inadequadas. Foi a ação humana que detonou esse processo climática fora da medida. E isso, esse modelo civilizatório tem que assumir.

Depois do mea-culpa, hora de mudar hábitos e formas de pensar. Assim fazemos quando queremos salvar um casamento. De todos os tipos. Nesse caso, o do homem com seu próprio habitat. Há um divórcio em andamento. Grana e poder não fará muita diferença. Gestos e atitudes sim.

O porém da história é que estamos chegando em um momento de falta de controle sobre a crise climática. O controle sempre foi o método filosófico da ciência positivista.

O conhecimento admitido é aquele que ela pode ter controle de variáveis. Agora, diante da instabilidade crescente dos fenômenos climáticos, ciência e recursos financeiros pouco podem fazer para alterar o andamento da instabilidade dos ventos, das chuvas e da baixa umidade relativa do ar.

Enquanto isso, nações não se relacionam para buscar consensos, mas para troca de interesses e necessidades comuns. E o momento delicado pede atenção para a gradual ruptura dos laços amigáveis e fraternos.

Empurrado pelas consequências das mudanças climáticas, manter os padrões do charme capitalista só vai acentuar o fosso entre pobres e ricos. O substrato psicológico disso está embutido no lucro. Virou mania global. Até para relaxar você encontra a ideia de empreendedorismo. Tudo virou negócio. Até os inocentes animais silvestres entraram na mira insaciável dos empreendedores. É o lema sedento do “lucre com tudo e com todos”.

Confusão e radicalismos marcam cabeças e debates sobre os destinos da organização social. A homeóstase da terra está se perdendo. Esse termo significa busca de equilíbrio, de compatibilidade. Para alcançar um nível de relação equilibrada, a espécie humana precisou, entre ameaças à sua sobrevivência, de milhares de anos. Eis que a homeóstase ou o Elo da boa convivência terrena até aqui está para perder sua importância. Não estamos mais conseguindo o reequilíbrio das coisas.

A hegemonia antropocêntrica, iniciada com a Revolução Industrial, criou uma ameaça à homeóstase biológica, com a proliferação de vírus e bactérias cada vez mais resistentes, com o ressurgimento de moléstias antes sob controle. Também a homeóstase climática, que antes tinha o formato das quatro estações bem delineadas. Vemos essa ordem se subverter hoje para desespero dos produtores de alimentos. Não inclui os processados. Entre as nações com poder econômico e militar, as posturas vacilam entre territorialismos e hegemonia global. Melhor indagar sobre os efeitos disso tudo sobre a saúde humana?

De acordo com o SEEG Municípios 2022, o setor da agropecuária é o principal responsável pela maioria das emissões de gases de efeito estufa no País (metano e CO2). Entre as cidades brasileiras, 3.731 têm o setor como principal emissor – o que representa 67% do total dos municípios do País. Fazer o quê diante do peso no PIB? Na última eleição presidencial, essa foi a ideologia embutida no jogo de interesses. 

Você sabia que apenas no ato de respirar cada humano joga na atmosfera mais de 1 kg de CO2 por dia? Então melhor fazer as contas e começar a pensar que é hora de rever a matriz do pensamento. Aquela em que o lucro sobre tudo se tornou o combustível das vidas humanas. Assim sendo, diante da realidade colocada, resta-nos sonhar com um certo amanhã radical na bondade, na ética, no afeto, na solidariedade e na amizade sincera entre os povos ricos e pobres.

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De ilusão também se vive

05/09/2024 07h45

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O Dia da Independência do Brasil é celebrado em 7 de setembro, data em que, em 1822, Dom Pedro acabou com a dependência política do Brasil em relação a Portugal. Nessa data histórica, Dom Pedro gritou “independência ou morte” às margens do Rio Ipiranga, motivo pelo qual o famoso grito ficou conhecido como o “grito do Ipiranga”.

Maria Leopoldina foi a primeira mulher a governar o Brasil, embora por poucos dias. Durante a viagem do príncipe regente, seu marido, a São Paulo, a princesa permaneceu no palácio como regente do País. Nessa condição, no dia 2 – e não no dia 7 – de setembro, ela – e não D. Pedro – assinou o Decreto da

Independência. Assim sendo, de fato, foi D. Pedro quem proclamou, bradou “independência ou morte”, mas quem de direito assinou o termo foi sua esposa Leopoldina. E não foi no dia 7, como consagrou a história, mas no dia 2 de setembro!

Em razão de tudo isso, o amor ao Brasil, as alegrias e os festejos do dia Sete de Setembro não pertence a nenhum governante desse País. Pertence, sim, ao povo brasileiro.

O homem se acha mais forte que a mulher. Jamais será. Nós estamos sob a égide da mulher (sob o seu domínio) desde a criação do mundo. Deus criou Adão e Eva.

Quem primeiro comeu do fruto proibido? Eva. Ao perceber que foi enganada pela serpente, tratou de puxar para o inferno o seu homem, Adão, que não teve forças para dizer não.

O homem tem a capacidade de carregar no seu ventre um ser humano a ser gerado? Não. Diriam “é a função da mulher”. Bela desculpa para enganar a subserviência ao império feminino.

Quantas mulheres foram capazes de enfrentar tiranos para conseguir a liberdade? Quem está lutando contra a ditadura de Maduro na Venezuela? Maria Corina Machado. 

Lembram da marcha das mulheres no Brasil? Pois é! Naquele instante, foi algo de grande valia para a democracia brasileira. Mas não devemos nos iludir, pois não brotará do Senado (com Pacheco), não será por intermédio da Câmara dos Deputados (com Lira), não serão protestos cívicos no Sete de Setembro, não serão multidões nas ruas que farão Alexandre de Moraes desistir de sua intenção de ser o dono do Brasil.

Nada será capaz de fazer o ministro ser útil e dar sentido a existência contribuindo para um país melhor. Ele não abre mão de sua vaidade, seu individualismo e, sobretudo, da sua prepotência e maldades.

Não socorrerá familiares de prisioneiro que morreu nas prisões arbitrárias, pois recebe o beneplácito de seus pares da Corte.

O céu e o inferno estão presentes em nossas vidas. Parece que o ministro não escolheu o céu. Nada, do jeito que estamos fazendo, derrubará Alexandre de Moares.

Ele só sucumbirá quando as mulheres desse País se propuserem ir para as ruas pedindo o impeachment desse senhor que parece não ter coração. Seus atos ditatoriais batem de frente com os princípios da Carta Magna brasileira. Assim, estamos vivendo momentos de incerteza. E não é demasiado dizer: de ilusão também se vive.

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Supremo versus Musk: não confundamos alhos com bugalhos

05/09/2024 07h30

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Novamente o Supremo Tribunal Federal (STF) se tornou o centro das discussões no Brasil. Outra vez por conta de uma decisão proferida pelo ministro Alexandre de Moraes, que foi acompanhado à unanimidade pelos integrantes da Primeira Turma, a qual determinou a suspensão das atividades da plataforma X Brasil, do bilionário Elon Musk, por descumprimento reiterado de ordens emanadas pela Corte.

O estopim para a suspensão foi o descumprimento das leis brasileiras que exigem que empresas estrangeiras tenham representante legal no País. Musk, recentemente, decidiu que o X não teria mais representantes no Brasil, o que afronta, entre outras normas, os artigos 977, inciso VI, e 1138, ambos do Código Civil brasileiro. 

O empresário decidiu não cumprir as leis do Brasil para que suas empresas, em especial a plataforma X, pudessem atuar regularmente no País. Vamos lá tentar desenrolar esse novelo. 

Consoante se extrai do artigo 997, inciso VI, do Código Civil, que a sociedade se constitui mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará “as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições”.

Por outro lado, o artigo 1138 estabelece que a “sociedade estrangeira autorizada a funcionar é obrigada a ter, permanentemente, representante no Brasil, com poderes para resolver quaisquer questões e receber citação judicial pela sociedade”.

Com efeito, não há dúvida que a lei brasileira exige que uma sociedade estrangeira mantenha um representante no Brasil com poderes para resolver quaisquer questões, inclusive receber citações. No entanto, Musk deu de ombros para a legislação brasileira e para a ordem judicial do STF. 

Qual seria a intenção de Musk em não ter mais representante legal no Brasil? Obviamente, ele objetiva não cumprir as regras previstas na Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), que foi editada pelo Congresso, com escopo de estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.

Como se sabe, o artigo 19 do referido Marco Civil da Internet estabelece a responsabilidade civil do provedor, quando instado judicialmente, para coibir crimes praticados por terceiros e não toma medida nenhuma para impedir ações ilícitas. 

A decisão do STF determinou, com base no artigo 171, parágrafo 1º, da Lei nº 9.472/1997, a suspensão da atividade da Starlink, empresa da qual Musk é um dos acionistas, que comercializa acesso à internet por satélite.

O referido artigo estabelece que: “O emprego de satélite estrangeiro somente será admitido quando sua contratação for feita com empresa constituída segundo as leis brasileiras e com sede e administração no País, na condição de representante legal do operador estrangeiro”.

O empresário, de fato, deixou de cumprir inúmeras determinações judiciais para retirar da sua plataforma páginas de usuários que faziam apologia ao golpe de estado no Brasil.

Objetivando permanecer sem cumprir as ordens judiciais, o empresário usou do subterfúgio rasteiro de retirar o representante legal do País.

O que Musk está a fazer é se colocar acima das leis do Brasil, em inequívoca afronta à soberania nacional. Não se pode confundir ofensa à liberdade de expressão ou censura com descumprimento das leis internas do país para regular atuação no Brasil. 

Muitos desavisados, que ignoram as leis do País, bradam aos quatro cantos que o Supremo Tribunal Federal (STF) está a ofender a liberdade de expressão.

Na verdade, o empresário bilionário, que também gosta dos holofotes da mídia mundial, quer liberdade para propalar desinformações, inverdades, sem correr risco de sofrer as devidas consequências.

No entanto, em que pese a correção da decisão do STF em sua essência, a extensão dos efeitos sancionatórios aos terceiros que acessarem a plataforma X afigura-se exagerada. Punir os usuários pelo mero acesso com a imposição de multa de R$ 50 mil é um prato cheio para que os opositores da Corte digam que há censura e ofensa à liberdade de expressão. 

Embora esse equívoco da decisão, que já foi alvo de recurso manejado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), não há como afastar a adequação da decisão do Supremo Tribunal Federal, uma vez que qualquer empresa que queira atuar no Brasil tem que seguir as leis do país. Nenhuma empresa está acima da soberania nacional. Não confundamos alhos com bugalhos.

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