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Uma discussão sobre a proteção dos aplicadores de defensivos agrícolas

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Quando surgiu a necessidade de se proteger os trabalhadores que aplicavam defensivos agrícolas, não havia equipamentos específicos desenvolvidos para essa atividade.

Assim, de início, foram recomendadas roupas impermeáveis de PVC (cloreto de polivinila), luvas, respiradores (máscaras), etc., de uso na indústria e no trabalho urbano, portanto impróprios para a atividade agrícola.

Ainda na década de 1980, a empresa Shell, à época produtora de defensivos agrícolas, introduziu no mercado três conjuntos (kits) de EPI, fabricados em TNT (polipropileno) pela primeira vez, introduzindo o conceito de proteção específica para cada tipo de exposição (kits diferentes para preparo de calda, aplicação costal e aplicação com trator).

O TNT, o Tyvek® (microfibra de polietileno) e o PVC se mostraram inadequados para esse tipo de uso.

Surgiram, então, as vestes de algodão com tratamento hidrorepelente (fluorcarbono), que passaram a garantir proteção e maior conforto térmico à medida que permitiam a transpiração.

Vale lembrar que a legislação obriga que o trabalhador use equipamentos de proteção.

Agora fazendo uma análise mais detalhada da atividade que envolve a aplicação de defensivos no campo, nota-se que há várias situações diferentes de exposição em função de variáveis, a saber: a) diferentes equipamentos de aplicação (costal, costal motorizado, trator com barra traseira, turbo aplicador, pulverizador autopropelido, avião agrícola, drone, etc.); b) culturas de porte baixo (alface, morango); porte médio (café, tomate), porte alto (cana-de-açúcar, abacate e citrus); c) diferentes tipos de formulação (iscas peletizadas, formulações líquidas, em pó, fumigação, gases (fosfina), etc.; d) aplicação em ambiente aberto (no campo) e fechado (casas de vegetação e cultivo protegido).

Considerando essas variáveis e, ainda, os estudos de exposição efetuados para diferentes culturas e situações de trabalho, é fácil constatar que não faz sentido recomendarmos uma proteção total e única para todas as situações de trabalho durante a aplicação dos defensivos agrícolas.

Exemplificando, a proteção de quem aplica uma isca peletizada não será a mesma de quem aplica um produto líquido com equipamento costal, a proteção de quem aplica com um equipamento autopropelido não será a mesma daquele que efetua um expurgo com o gás fosfina, a exposição de quem pulveriza um pé de alface será diferente da exposição de quem pulveriza um pé de laranja.

O piloto de um avião agrícola, que é o aplicador, deverá ter uma proteção de acordo com esse tipo de trabalho e exposição e assim por diante.

Considerando tudo isso, a indústria de EPI para a aplicação de defensivos agrícolas tem hoje à disposição conjuntos de proteção específicos para diferentes culturas (tomate, cana-de-açúcar, abacaxi, etc.).

Dessa maneira, hoje é possível garantir que, em função do uso de produtos menos tóxicos, do desenvolvimento de equipamentos de aplicação mais eficientes e da evolução do conceito de proteção do trabalhador com EPI específico para cada situação de trabalho, os trabalhadores do campo podem contar com mais segurança e conforto em suas atividades. 

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Editorial

Crédito: oportunidade ou armadilha silenciosa

O crédito é uma porta. Pode ser a entrada para um ciclo virtuoso de crescimento e estabilidade ou o início de uma descida difícil de controlar

10/07/2025 07h15

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Os números do crédito consignado com carteira assinada em Mato Grosso do Sul chamam atenção. Mais de R$ 300 milhões foram emprestados nos últimos meses. É um dado robusto, que permite múltiplas leituras – do otimismo à cautela.

O primeiro impulso é enxergar o lado positivo: são mais de R$ 300 milhões injetados diretamente na economia sul-mato-grossense. Esse volume representa mais dinheiro circulando, o que, por sua vez, estimula o comércio, eleva o consumo, impulsiona a geração de renda e, potencialmente, cria novos empregos. Para uma economia que depende em parte do dinamismo interno, esse movimento é bem-vindo.

Por outro lado, precisamos fazer uma pausa para pensar na qualidade desse gasto. Crédito, mesmo o microcrédito, é uma ferramenta poderosa de alavancagem econômica – mas só quando bem utilizado. O simples ato de tomar dinheiro emprestado não garante prosperidade, ao contrário, pode ser um sinal de aperto financeiro e, em casos extremos, de desespero.

Na esfera da vida privada, cada indivíduo tem o direito de escolher como usar o crédito. Essa liberdade é um dos pilares da vida econômica moderna. Ainda assim, é fundamental reforçar a cultura do uso consciente: a finalidade do crédito deveria, sempre que possível, ser o investimento – mesmo que seja na capacitação pessoal, na quitação de dívidas mais caras ou em algo que melhore as finanças no médio e no longo prazo.

Nesse ponto, o crédito consignado para trabalhadores da CLT tem uma vantagem estrutural: os juros são consideravelmente mais baixos do que os de outras modalidades. Isso, por si só, já representa um alívio em tempos de aperto. Reduzir o peso dos juros em um país onde o crédito rotativo beira a usura é um ganho que deve ser reconhecido.

No entanto, é necessário frisar: o acesso a crédito mais barato deve ser encarado com responsabilidade. Se a facilidade de contratar consignado leva à tomada de empréstimos sucessivos para cobrir gastos cotidianos ou desejos momentâneos, o efeito colateral pode ser a armadilha do endividamento crônico.

O crédito é uma porta. Pode ser a entrada para um ciclo virtuoso de crescimento e estabilidade ou o início de uma descida difícil de controlar. Que os bons números do consignado em Mato Grosso do Sul sejam, sobretudo, um convite à educação financeira – para que o impulso da economia não se transforme, mais adiante, em fardo.

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Suíça x Brasil: as diferenças que nos impedem de funcionar como eles

09/07/2025 07h45

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A Suíça segue como um dos destinos mais atraentes do mundo, com crescimento populacional impulsionado pela imigração e um setor de turismo aquecido. Segundo dados do Trading Economics, a previsão é de que a população suíça alcance 8,91 milhões em 2025, reflexo desse fluxo migratório constante. O turismo também segue em alta, com um aumento expressivo no número de pernoites de brasileiros em 2024 e um desempenho positivo do setor como um todo.

Durante minha passagem pelo país, deparei-me com uma realidade muito diferente da nossa aqui no Brasil. A Suíça impressiona, sem dúvida, mas será que estamos realmente preparados para viver como eles vivem? Porque não se trata apenas de organização ou limpeza, mas de uma cultura inteira fundamentada em responsabilidade, regras, silêncio, pontualidade e, principalmente, na aceitação de que se deve contribuir mais para o bem coletivo.

Por lá, paga-se imposto até pelo cachorro e, em muitas cidades, as crianças vão sozinhas para a escola desde pequenas. Fazer barulho depois de certo horário pode render advertência ou multa. Pode parecer extremo para os nossos padrões, mas essa é uma sociedade que prioriza o bem-estar comum, mesmo que isso signifique abrir mão de certas liberdades individuais.

Outro dado curioso e difícil de imaginar no Brasil é que a maioria dos políticos suíços não vive da política. Eles mantêm seus empregos: são médicos, professores, agricultores, empresários e atuam como parlamentares de forma paralela. Esse modelo, conhecido como “sistema de milícia cívica”, evita que a política se torne uma carreira isolada e, com isso, mantém os representantes conectados à realidade e aos desafios da população. É como se o parlamento fosse formado por cidadãos comuns, que, por um período, se dispõem a colaborar com o país.

E é aqui que cabe uma reflexão: será que queremos mesmo o padrão europeu ou queremos apenas os benefícios de um país de primeiro mundo sem abrir mão de nada? Na Suíça, por exemplo, existe um imposto anual sobre grandes fortunas. Recentemente, o país começou a debater um referendo para taxar em 50% as heranças bilionárias. Isso mostra uma mentalidade coletiva diferente: quem tem mais, colabora mais. Uma lógica que contrasta com o velho ditado brasileiro de que “quem pode mais, chora menos”.

Essa diferença de mentalidade ajuda a explicar por que as coisas funcionam tão bem por lá. Não é só sobre dinheiro ou impostos. É sobre comportamento e valores. É sobre gente que espera o sinal abrir para atravessar a rua, mesmo quando não há nenhum carro à vista. Sobre uma sociedade que não precisa de catracas nas estações de trem e que entende que pagar pelo sistema – mesmo que não o use diariamente – é o que garante sua existência para todos. Não estou dizendo que a Suíça é perfeita, mas talvez seja hora de deixarmos de apenas admirar esses países e começarmos a refletir sobre o que podemos aprender com eles.

Acho que a pergunta mais honesta que podemos nos fazer é: queremos viver como na Suíça ou queremos apenas colher os frutos de um país desenvolvido sem mudar nosso jeito de ser? Como alguém que trabalha com turismo há mais de 20 anos, viaja com grupos, apresenta um programa de viagens na TV e estuda diferentes culturas, posso afirmar: viajar ensina muito mais do que apreciar belas paisagens. Viajar faz a gente pensar. Faz a gente se questionar sobre o que estamos construindo no nosso próprio país. E, às vezes, nos mostra que o “jeitinho brasileiro” pode ser, justamente, o que está nos impedindo de crescer.

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