O que antes era uma tendência agora está confirmado pelos números. Assim como o Correio do Estado antecipou em reportagem publicada no mês passado, a guerra comercial entre China e Estados Unidos está beneficiando diretamente Mato Grosso do Sul. Dados de junho mostram que o Estado começa a colher frutos da tensão entre as duas maiores economias do mundo, especialmente no setor do agronegócio.
A lógica é clara. Com o recrudescimento das tarifas comerciais impostas pelos dois países, os chineses têm substituído importações norte-americanas por produtos brasileiros – entre eles, a soja e a carne sul-mato-grossenses. A China, historicamente uma das maiores compradoras da soja dos Estados Unidos, aumentou significativamente suas compras do Brasil em junho, redirecionando parte dessa demanda para Mato Grosso do Sul.
O movimento se deu em paralelo a um aumento das exportações brasileiras, sobretudo de produtos que antes tinham como destino prioritário o mercado norte-americano. Mas o efeito também ocorreu no sentido inverso: nos meses de março e abril, justamente o período que antecedeu e inaugurou o chamado “tarifaço” de Donald Trump, os Estados Unidos também ampliaram significativamente as importações de carne e de celulose produzidas aqui.
Essa dinâmica de substituição e reacomodação de mercados favorece quem consegue manter a produção em alta e os preços competitivos. Mato Grosso do Sul, com seu agronegócio consolidado, aparece nesse cenário como fornecedor confiável e pronto para suprir a nova demanda internacional. É um momento estratégico que exige cautela e visão de longo prazo por parte do setor produtivo e dos gestores públicos.
Analistas ouvidos pelo jornal foram enfáticos em um ponto: quando se trata de agronegócio, não se pode exportar uma fazenda. Fábricas podem fechar em um país e abrir em outro, mas a produção de alimentos depende de clima, do solo, da tradição e do conhecimento. Isso dá ao Brasil e ao nosso estado uma vantagem natural nesse cenário de tensão comercial global. A produção agropecuária brasileira, nesse sentido, é um ativo estratégico.
Por outro lado, não podemos nos acomodar. A oportunidade é real, mas não será eterna. É preciso avançar em produtividade, em tecnologia e em infraestrutura. Se queremos ser protagonistas no comércio global, precisamos investir em qualificação, em logística e em estabilidade regulatória. O mundo está olhando para o Brasil com outros olhos e Mato Grosso do Sul precisa estar à altura dessa nova vitrine.
O Estado está em posição vantajosa nesse jogo de gigantes. Cabe agora consolidar essa posição com responsabilidade, equilíbrio e planejamento. O agronegócio é a base, mas o crescimento sustentável depende da diversificação econômica, da inclusão social e de políticas públicas bem estruturadas. O momento exige competência – e visão estratégica.