Vivemos em um mundo tumultuado e desafiador. Muitas doutrinas, muitas crenças e religiões, muitos desafios para o ser humano se situar e se afirmar com alguma base filosófica ou teológica. Estamos em meio a crises de valores e de instituições.
Crer em quem? Crer em que? Afinal, sabemos que estamos vivos. Sabemos que possuímos princípios que sustentam nosso viver. E procuramos honestamente nos afirmar nesses princípios para que nossa consciência se sinta tranquila.
Sempre se encontram seres humanos que não se conformam com a realidade em que se encontram. Questionam tudo. Questionam a origem, questionam o ambiente e questionam a Deus por não ser compreensivo e solidário.
Querem um Deus que esteja pronto para atender quando for solicitado. Julgam que, pelo fato de viverem de acordo com os mandamentos, teriam o direito de ser atendidos em todos os seus anseios e em todas as suas necessidades.
Estaria faltando para essas pessoas uma visão mais clara do que seja viver a fé e a capacidade pessoal de realizar algo que demonstre seu compromisso com a dignidade a que todos somos chamados a construir.
Grande será a alegria de quem, ao se olhar no espelho de sua consciência, assumir a realidade de seu modo de encarar essa mesma realidade e traçar metas que sejam respostas de sua maneira de caminhar no caminho da fé. Então será alguém contente com o que possui e com o lugar onde se encontra.
Seria muito confortador se a realidade estivesse de acordo com os sonhos. Mas, como nem sempre as coisas são assim, feliz de quem se contentar com a realidade e tudo faz para construir sua vida da melhor maneira possível. E mesmo porque sabemos que para uma vida feliz é suficiente saber que o melhor e mais sagrado está naquilo que conseguirmos realizar apesar de nossas limitações.
Pode parecer humilhação aquilo que o Mestre dos mestres, em uma certa ocasião, declarou a seus seguidores, que o questionavam a respeito de alguma recompensa que mereceriam pelo fato de estarem a tanto tempo com ele. Afinal, eles o ajudavam nos afazeres diários, atendendo o povo, cuidando dos doentes e outros serviços.
Então o Mestre lhes diz: “Assim vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, digam: Somos servos inúteis. Fizemos o que devíamos ter feito” (Lc.17,10). Aqui, o Mestre revela algo muito sagrado. Mostra que tudo quanto conseguirmos realizar pelo bem do próximo não será mérito nosso. Será, isto sim, oportunidade que Deus oferece de realizar algo sagrado, algo que seja graça de Deus.
Se for de nosso modo de pensar, isso seria motivo de orgulho e de vaidade. Mas se nos colocarmos no pensar de Deus, veremos o quanto Deus é bom. Pois é ele quem proporciona momentos e fatos para exercitarmos nossa fé e nossa solidariedade.
E nossa fé se fortalece na medida em que nos empenharmos corajosamente em semear o amor entre as pessoas, no sentido de melhorar a convivência e gerar alegria e contentamento entre aqueles e aquelas que buscam a paz para sua consciência e um consolo para sua alma.