Artigos e Opinião

ARTIGO

Venildo Trevizan: "Palavra viva"

Frei

Redação

26/09/2015 - 00h00
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Dia da Bíblia. Muitas comemorações, manifestando admiração e louvor por esse livro sagrado para os cristãos, acontecem em muitos lugares. Esse é o livro de conforto para muitos, e para outros, de questionamento. É um livro que fala de Deus e para Deus. Fala do homem e para o homem. Fala mensagens para todas as circunstâncias e todas as situações em que possa se encontrar o ser humano. 

A palavra Bíblia lembra biblioteca, pois é composta de setenta e três livros: quarenta e seis do Antigo Testamento e vinte e sete do Novo Testamento. Não caiu do céu pronta. Não foi Deus quem a escreveu. Foram homens e mulheres, que, sob a luz divina, escreveram essas mensagens e ensinamentos tão sábios.

A Bíblia é fruto da partilha de experiências vividas em comunidade. São ensinamentos que passam de pai para filho, de geração para geração. Não há intenção de ensinar história ou geografia. A intenção única e verdadeira é a de revelar o amor do criador para suas criaturas e o amor das criaturas para seu criador.

A partir dessa palavra, tudo foi criado, tudo recebeu vida e significado. Tudo o que contém é verdadeiro, pois é iluminado por Deus. É revelação fidedigna da sabedoria e da graça de Deus. Fala de Deus em busca do povo e do povo em busca de Deus. E quando acontecer o encontro, acontecerá a comunhão de vidas e de valores.

O apóstolo Paulo escreve a Timóteo alertando-o a respeito dos maus exemplos que aconteciam na comunidade, por não observarem e viverem de acordo com o que constava nas Escrituras Sagradas. Alertava sobre os maus exemplos que partiam de pessoas muito egoístas, gananciosas, soberbas, rebeldes e inimigas do bem e da verdade.

Pedia para se afastar dessas pessoas e organizar uma comunidade que partilhasse tão somente aquilo que fosse agradável a Deus.

E escreveu: “Quanto a você, permaneça firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo. Desde a infância você conhece a Sagrada Escritura. Ela tem o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra (II Tim.3,14-17).

Nesse sentido, esse livro sagrado comunica ao mundo mensagens para todas as situações em que o ser humano possa se encontrar. Tanto para os momentos alegres, quanto tristes; tanto na celebração de uma conquista, quanto nos momentos de derrota; tanto na hora de pedir, quanto na hora de agradecer.

Para cada situação, nela encontramos conteúdos ricos e confortadores. Não podemos aventurar abrir esse livro sagrado aleatoriamente, para constatar o que precisamos ou o que devemos. Não podemos tentar ao Senhor, Deus da verdade.

Para cada situação, é preciso prudentemente buscar uma palavra que alivie, que alimente, que conforte e que fortaleça. Sempre deveremos estar com a mente e o coração abertos para as bênçãos divinas.    

editorial

Violência contra a mulher e ações efetivas

Setores nostálgicos da sociedade ainda pregam o retorno a um modelo em que a mulher era silenciada, confinada ao lar e privada de voz pública

13/06/2025 07h00

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O mais recente Mapa da Segurança Pública, divulgado nesta semana pelo Ministério da Justiça, trouxe novamente um dado alarmante: o Estado de Mato Grosso do Sul continua figurando entre os líderes do ranking nacional quando o tema é violência contra a mulher. Trata-se de uma repetição trágica que vem se confirmando ano após ano, sem que haja sinais de uma reversão estrutural. Os números são um reflexo doloroso de uma realidade que exige, com urgência, uma abordagem séria, objetiva e comprometida por parte das autoridades.

O enfrentamento da violência contra a mulher exige mais do que discursos bem-intencionados. Ele exige dados, precisão nas políticas públicas e, sobretudo, vontade política. A primeira e mais óbvia necessidade é garantir que os agressores sejam punidos com rigor. Não por desejo de vingança, mas por um princípio essencial do Direito Penal: a punição eficaz tem função pedagógica e dissuasória. Onde há impunidade, há incentivo ao crime. Onde há resposta firme do Estado, há limites sendo reafirmados.

Mas a efetividade da lei não se mede apenas pela quantidade de anos previstos em uma pena. A lei só é respeitada quando é aplicada de forma real, rápida e visível. Isso requer mais do que papel e tinta — requer fiscalização, presença ostensiva, estrutura e recursos humanos preparados. Tudo isso custa dinheiro. E mais que isso: custa tempo, comprometimento e esforço coordenado entre o Executivo, o Judiciário, os órgãos de segurança e os sistemas de proteção social.

A verdade incômoda é que, sem vontade política clara e corajosa para enfrentar os agressores de mulheres, os números continuarão altos. Não se pode permitir que casos de violência sejam tratados com negligência ou relativismo, como se fossem apenas conflitos domésticos ou “questões privadas”. A omissão do poder público e da sociedade civil, em qualquer nível, é cúmplice da perpetuação da violência.

Além da resposta penal, há um desafio ainda maior: o da transformação cultural. É preciso romper com a cultura da subjugação das mulheres, que ainda encontra espaço em muitos setores da sociedade. Não adianta o Estado fazer campanhas sobre respeito e igualdade se, ao mesmo tempo, líderes religiosos ou comunitários reforçam discursos que colocam a mulher em posição de inferioridade. A sociedade precisa decidir, coletivamente, qual papel deseja dar às mulheres — e essa decisão deve ser baseada em igualdade, dignidade e liberdade.

É verdade que os tempos mudaram, e que hoje há mais autonomia feminina do que em décadas passadas. No entanto, setores nostálgicos da sociedade ainda pregam o retorno a um modelo em que a mulher era silenciada, confinada ao lar e privada de voz pública. Essa nostalgia que não respeita a autonomia da mulher — muitas vezes romantizada como “valores da família” — precisa ser encarada como parte do problema, e não como solução.

Reduzir a violência contra a mulher no Mato Grosso do Sul e no Brasil é possível. Mas isso exigirá ação efetiva, punição exemplar aos agressores, investimento público contínuo e coragem para enfrentar costumes nocivos à diginidade das mulheres ainda presente nas instituições e no cotidiano. Não há caminho mais curto — nem mais necessário.

ARTIGOS

Caetano canta música evangélica e o erro estratégico de setores progressistas

10/06/2025 07h45

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A cena é recorrente nos shows de Caetano Veloso: após sucessos consagrados de seu repertório, o artista entoa a canção “Deus Cuida de Mim”, do pastor Kleber Lucas. A resposta do público, composto em larga medida por admiradores laicos, progressistas e críticos do fundamentalismo religioso, é fria, por vezes, entremeada por vaias.

Muitos entendem essa escolha uma provocação deslocada, uma suposta concessão ao bolsonarismo, dado o histórico apoio evangélico à extrema direita. No entanto, essa leitura é, para dizer o mínimo, apressada e míope. Caetano não cede ao senso comum, mas propõe, pela via da música, uma reflexão profunda sobre escuta, alteridade e a complexidade da experiência religiosa no Brasil.

Reduzir os evangélicos à caricatura do reacionário militante é ignorar a pluralidade real e histórica desse campo e, no atual estado de coisas, incentivar a radicalização de muitos grupos.

Kleber Lucas, pastor batista, negro, progressista e oriundo de comunidade periférica no Rio de Janeiro (RJ), é um exemplo eloquente da riqueza que existe dentro do universo evangélico. Sua trajetória, marcada por pontes entre tradições religiosas, pelo respeito às culturas de matriz africana e pelo compromisso com a justiça social, destoa da retórica de ódio que contaminou setores das igrejas.

Quando Caetano escolhe cantar Kleber, ele o faz com plena consciência: não por ignorância sobre a força do bolsonarismo entre evangélicos, mas justamente para resgatar, em meio ao ruído, vozes que dissonam e que são invisibilizadas. Há, portanto, um erro estratégico e moral no impulso de vaiar Caetano. Rejeitar a canção e a sua proposta é rejeitar o convite a enxergar o outro em sua inteireza, com suas contradições e insurgências internas.

Ao zombar da religiosidade popular, sobretudo quando encarnada em sujeitos negros, pobres e periféricos, setores do campo progressista acabam por reproduzir o elitismo que denunciam e contribuem, inadvertidamente, para o isolamento de milhões de brasileiros.

O abandono simbólico das massas evangélicas, tratadas como um bloco homogêneo e retrógrado, é uma das razões pelas quais a extrema direita tem conseguido monopolizar esse campo. A política, afinal, não se faz só com razão: exige também empatia, imaginação e capacidade de escuta.

Cantar Kleber Lucas em um palco para o público majoritariamente progressista é, da parte de Caetano Veloso, um gesto político potente e perigosamente mal compreendido. Se a esquerda deseja cativar um público maior, precisa deixar de lado o conforto da superioridade moral e compreender, com generosidade e estratégia, a religiosidade do povo.

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