Artigos e Opinião

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Venildo Trevizan: "Terra Mãe"

Frei

Redação

15/07/2017 - 02h00
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Nossa terra mãe é fecunda e generosa, é disponível e bondosa. Acolhe toda e qualquer semente, seja boa ou seja má, seja viva ou seja morta. Em seu coração há lugar para insumos e para venenos. Tudo aceita sem opinar e sem reclamar. Ela é feita de silencio e de entrega, de amor e de generosidade, de acolhida e produtividade. 

Nossa terra mãe! O seu ventre está em continua gestação. Dele surgem arvores, arbustos e ervas. Surgem flores das mais varadas cores, tamanhos e perfumes. Surgem frutas de diferentes medidas e múltiplos sabores. Surgem remédios e venenos. Tudo toma vida para prolongá-la ou eliminá-la.

Nossa terra mãe! Terra fértil e terra estéril. Terra profunda e terra entre pedras. Terra rica em produção e terra pobre em nutrientes. São muitas as situações em que se encontra. É a terra bem cuidada e bem cultivada. É a terra explorada e devastada pela ganância de ter mais. É a terra suplicando clemência e respeito.

Nossa terra mãe! Terra que generosamente produz seus frutos para o sustento de todas as criaturas. Mas nem todos tem acesso a eles. Muitos são proibidos de cultivar e usufruir. Muitos são expulsos e eliminados brutalmente. E o sangue humano se mistura às lágrimas dessa mãe que permanentemente está disponível a todos gratuitamente.

Nossa terra mãe! O Mestre dos mestres mostra grande conhecimento dessa realidade e aproveita o costume do lavrador para transmitir uma rica mensagem. Mostra o semeador semeando generosamente as sementes. Não preocupa se ela cai em terreno árido, ou entre espinhos, ou em meio a pedras, ou em terreno fértil. Todos tem possibilidade de produzir, pois todos recebem da mesma semente. O semeador aguarda pacientemente os frutos. É a paciência da natureza. É a paciência de Deus.

Nossa mãe terra! Nem todos aceitam e assumem sua missão. Existem corações estéreis e insensíveis ao sofrimento alheio. Existem corações que se encontram entre espinhos do desconforto e fragilizados pelo medo e pelo desânimo. Não se animam a investir nas tarefas humanitárias. Existem coraçõesem meio a pedras da superficialidade. A emoção pode produzir algum valor, mas é de momento.

Nossa mãe terra ! Existem corações generosos. São terrenos férteis e profundos. Produzem de acordo com a capacidade e a generosidade. São corações alegres e comprometidos com a justiça social, com as limitações humanas e com a esperança cristã.

Nossa terra mãe! Não interessa quanto produz. Interessa produzir com alegria e desprendimento. Produz para servir gratuitamente. Nesses corações sempre haverá espaço para exercitar o amor e a misericórdia. O pouco ou o muito contribui para a harmonia entre as pessoas e a partilha solidaria com os empobrecidos.

Nossa terra mãe! A terra sonhada pelo povo de Israel saindo da escravidão a caminho da terra onde corre leite e mel (Ex.3,8) e a caminho da liberdade. Terra sonhada por tantos e tantas que sob permanentes ameaças sonham um novo céu e uma nova terra (Ap.21,1) que desejamos incansavelmente.

ARTIGOS

O poder e as narrativas

04/01/2025 07h45

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Anos atrás escrevi um pequeno livro intitulado “Uma Breve Teoria do Poder”. Hoje está na quarta edição, veiculado pela Editora Resistência Cultural, que se notabilizou pela primorosa apresentação gráfica de suas edições. As edições anteriores foram prefaciadas por dois saudosos amigos: Ney Prado, confrade e ex-presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, e Antonio Paim, confrade da Academia Brasileira de Filosofia. A atual tem como prefaciador o ex-presidente da República e confrade da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Michel Temer.

Chamo-a de “Breve Teoria” por dedicar-me mais à figura do detentor do poder, muito embora mencione as diversas correntes filosóficas que analisaram a ânsia de governar, através da história.

Chamar um estudo de breve é comum. Já é mais complicado chamar uma teoria de breve. As teorias ou são teorias ou não são. Nenhuma teoria é breve ou longa, mas apenas teoria. Ocorre que, como me dediquei fundamentalmente à figura do detentor do poder, e não a todos os aspectos do poder, decidi, contra a lógica, chamá-la de “Breve Teoria”.

Desenvolvi no opúsculo a “Teoria da Sobrevivência”. Quem almeja o poder, luta, por todos os meios, para consegui-lo e, como a história demonstra, quase sempre sem ética e sem escrúpulos. Não sem razão, Lord Acton dizia, no século 19, que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

Ocorre que, no momento que o poder é alcançado, quem o detém luta para mantê-lo por meio da construção de narrativas, cada vez tornando-se menos ético e mais engenhoso, até ser afastado. As narrativas são sempre de mais fácil construção nas ditaduras, mas são comuns nas democracias e tendem a crescer quando elas começam a morrer.

A característica maior da narrativa é transformar uma mentira em uma verdade e torná-la para o povo um fato inconteste, ora valorizando fatos irrelevantes, ora, com criatividade, forjando fatos como, aliás, Hitler conseguiu com a juventude alemã com a célebre frase: “O amanhã pertence a nós”.

Nas democracias, a luta pelo poder é mais controlada, pois as oposições desfazem narrativas e os Poderes Judiciários neutros permitem que correções de rumo ocorram. Mesmo assim, as campanhas para conquistar o poder são destinadas não a debater ideias, mas literalmente destruir os adversários. Quando Levitsky e Ziblatti escreveram “Como as Democracias Morrem”, embora com um viés nitidamente a favor do partido democrata, desventraram que as mais estáveis democracias do mundo também correm risco.

O certo é que, através da história, os que lutam pelo poder e os que querem mantê-lo, à luz da teoria da sobrevivência, necessitam de narrativas, e não da verdade dos fatos, manipulando-as à sua maneira e semelhança, com interpretações “pro domo sua” das leis, reescrevendo-as e impondo-as, quanto mais força tem sobre os órgãos públicos, mesmo nas democracias, e reduzindo a única arma válida em uma democracia, que é a palavra, a sua expressão menor, quando não a suprimindo.

É que, infelizmente, há uma escassez monumental de estadistas no mundo e um espantoso excesso de políticos cujo único objetivo é ter o poder e, quando atingem seu objetivo, terminam servindo-se mais do que servindo ao povo, pois servir ao povo é apenas um efeito colateral, e não obrigatoriamente necessário.

Os ciclos históricos demonstram, todavia, que, quando, pela teoria da sobrevivência, os limites do razoável são superados, as reações fazem-se notar, não havendo “sobrevivência permanente no poder”. As verdades, no tempo, aparecem, e, perante a história, as narrativas desaparecem e surge “a realidade nua dos fatos”.

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ARTIGOS

Caminhos da vida

04/01/2025 07h15

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Novo ano. Novos caminhos. Novos sonhos. Novas esperanças. Com certeza serão muitas as pessoas olhando pela porta desse novo ano com uma maneira nova de olhar. Estarão mais cautelosas ao planejar e ao decidir em seus negócios e em seus projetos.

Esperemos que as lições do ano que findou sirvam de ponto de referência para os novos projetos, até mesmo para os caminhos dos sentimentos do coração e das forças da fé. Pois tudo o que acontecer será para o crescimento dos relacionamentos e das partilhas dos bens e da comunhão de vidas.

Esses sentimentos e essas atitudes serão sempre motivos no crescimento pessoal e comunitário das obras e das opções pela vida e pela fé. A palavra deus será a luz para quem se encontra na busca e será alimento seguro para quem se puser a caminho da felicidade. Mostra que, enquanto houver sonhos, haverá esperança. 

Assim acontecerá ao chegar até nós a palavra do escritor sagrado. Assim será a maneira de Deus se revelar ao mundo. Os seres humanos têm sua maneira. Deus também tem seus momentos e suas maneiras. Não haverá comparação. Haverá isso sempre, maneiras próprias e muito pessoais quando fala aos seres humanos.

Assim ele se revela em uma de suas cartas (Ef. 4, 30-45): “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus. Toda a amargura, toda a irritação sejam desterradas do meio de vocês. Afeiçoem-se do bem e do amor. Sempre que houver razões de queixa de uns pelos outros, perdoem-se, assim como Deus sempre perdoa. Vivam na concórdia e na harmonia”.

E o autor sagrado continua dizendo: “Evitem o mal. Amem o bem. Principalmente eliminem entre vocês toda a discórdia e todas as ofensas. Edifiquem a misericórdia e o perdão. Progridam na caridade a exemplo de Jesus Cristo que em tudo nos amou e sempre se entregou como oferta sagrada e perfeita”.

O exemplo permanece e permanecerá sempre vivo e edificante. Nada guardou para si. Tudo sacrificou por amor e pelo resgate de tantos prisioneiros da maldade desse mundo. Em tudo deixou sua marca de doador do bem e da graça. E tudo na gratuidade.

As portas do novo ano estão se abrindo em nossa frente. A esperança de dias melhores, não apenas diferentes, deverá alimentar a esperança, o bem, marcar o pensar e o agir de cada ser humano. E que em tudo possa se orgulhar de ter o rumo correto em seu viver e em seu agir iluminado pela fé em Deus.

Entramos no caminho do otimismo. Nele, não haverá espaço para os pessimistas. Não haverá também para os medrosos, os inseguros e para os descrentes. Não haverá lugar ainda aos vingativos e para quem guarda mágoas ou invejas. Para esses, permanecerá um vazio do tamanho de sua fragilidade em acreditar.

É preciso acreditar no Deus misericórdia, no Deus bondade e no Deus generosidade. É preciso acreditar no Deus que acredita em todos. Mesmo os que não creem nele. Ele os ama e neles confia pelo simples motivo de ter um coração bom e uma alma generosa.

Ano novo. Alma renovada. Espírito novo. Sentimentos renovados. Em tudo manter a pureza no ser, o correto no agir. E Deus nos abençoe.

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