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OPINIÃO

Vinicius de Oliveira Bezerra: Notas sobre história, redes sociais e política

Vinicius de Oliveira Bezerra é Acadêmico de História na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Redação

14/09/2015 - 00h00
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A produção midiática inunda nosso cotidiano, TV, rádio, jornal e, mais recentemente, a internet está presente em praticamente todos os momentos do nosso dia. Essa última, em especial, modificou radicalmente nosso cotidiano através das redes sociais. Por meio dessas estamos interagindo diretamente com informações do mundo todo. Algo que acaba de acontecer em Brasília ou Nova York é acessado em segundos por qualquer pessoa que possua acesso a internet, atualmente cada vez mais comum com a popularização dos smartphones. Essas mudanças nas mídias também alteraram as formas de interação com o meio social de várias formas, nos relacionamentos, nos costumes, na cultura, etc. Todavia, a transformação que destaco aqui é a maior participação política que as redes sociais promovem atualmente.

Nas revoltas e manifestações que eclodiram em países do norte da África e do Oriente Médio em 2011, que ficou conhecida como “Primavera Árabe”, as redes sociais foram amplamente utilizadas como meio de mobilização e expressão por parte dos manifestantes. No Brasil, durante os protestos que se espalharam por praticamente todo o país, em junho de 2013, as redes sociais também foram utilizadas com esse fim, se tornando um espaço para discussão e mobilização através do eventos marcados no Facebook e Twitter, além da postagem de vídeos da experiência de dentro dos protestos no YouTube. Dessa forma, percebe-se que as redes sociais deixarem de ser somente um meio de entretenimento para também serem utilizadas como ferramenta de expressão política.

Sem dúvida as redes sociais, principalmente após junho de 2013, mudaram a forma como o brasileiro se relaciona com a política. O velho ditado “religião, futebol e política não se discute” não se faz mais presente, facilmente percebido por meio da grande repercussão das eleições de 2014, estando frequentemente entre os assuntos mais populares das redes.

Por mais que muitas informações falsas são compartilhadas nas redes sociais, sendo concebidas como verídicas por muitas pessoas, é fato que o brasileiro está se interessando mais por política, acompanhando não só as eleições, mas também as investigações dos casos de corrupção por meio das redes sociais.

As últimas semanas foram movimentadas no cenário político de Campo Grande, com reviravoltas no Executivo e Legislativo municipal, com investigações e afastamentos ocorrendo em ambos. Tais mudanças foram acompanhadas intensamente por meio das redes sociais, com milhares de compartilhamentos e comentários nas páginas no Facebook dos principais portais de notícias da capital. Um espaço de debate foi criado na sessão de comentários, com posições diversas diante dos acontecimentos. Da mesma forma, as reviravoltas na política da cidade também foram vistas de forma bem humorada, resultando na criação de vários memes, o que não deixa de ser uma forma de crítica e participação política.

A pergunta que surge a partir dos recentes acontecimentos é como a população campo-grandense, que agora acompanha política com mais frequência por meio das mídias, principalmente através da internet e das redes sociais, irá se comportar nas eleições de 2016 diante dos desdobramentos recentes na política da capital. Em outras palavras, qual será o uso que o eleitor da capital irá fazer com as informações das investigações e afastamentos na escolha de seus representantes nas próximas eleições. As eleições de 2014 mostraram que, apesar da maior politização do brasileiro, ao acompanhar e participar mais da política, não se traduziu em grandes mudanças na escolha de seus representantes, pois vários nomes se repetiram, alguns com histórico de envolvimento em casos de corrupção. Isso também ocorrerá em 2016? Ou haverá uma mudança dessa vez? A resposta para essa pergunta só será colhida no futuro.

Ao historiador não cabe fazer uma previsão exata e inevitável do futuro, se esse fosse nosso trabalho com certeza nossa remuneração seria melhor. Porém, por meio das redes sociais, ocorreram transformações nas formas de participação política, principalmente após junho de 2013, e esse não parece ser um fenômeno imediatamente reversível. Veremos como a população campo-grandense acompanhará os desdobramentos das investigações e qual será seu impacto na escolha de seus representantes nas eleições de 2016.

ARTIGOS

Os impactos das alterações em subvenções para investimentos no agronegócio

31/12/2024 07h50

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As chamadas subvenções para investimento são uma espécie de benefício fiscal concedido pelo poder público para que as pessoas jurídicas que tributam pelo lucro real, incluído o produtor rural, instalem ou expandam seus negócios em determinadas regiões ou em determinados setores de atuação e, com isso, contribuam para o crescimento econômico do País.

Esses benefícios foram concedidos de diversas formas ao longo dos anos, gerando alguma redução ou isenção de tributos àqueles contribuintes aos quais eram concedidos, por sua vez, implicando uma melhora no resultado da atividade.    

Sobre esses tributos, que eram reduzidos ou deixavam de ser pagos, era discutida a incidência ou não de outros tributos, como o IRPJ e a CSLL, uma vez que, apesar de se tratar de um ganho econômico, esses valores não eram resultados da atividade propriamente dita, mas tão somente de uma economia fiscal.

Por muitos anos, o Poder Judiciário analisou a classificação das subvenções, separando-as em dois grupos, de investimento ou de custeio, e considerando se facultativos ou obrigatórios, entre outros possíveis requisitos, para apurar os efeitos desses benefícios, para fins de possível tributação dos valores em IRPJ e CSLL.

Além disso, diversas discussões foram instauradas perante o Poder Judiciário para tratar das possíveis diferenças entre subvenção relacionada a crédito presumido de ICMS e as subvenções de redução de base de cálculo, isenção, entre outras, e o efeito dessas diferentes classificações para a incidência ou não de IRPJ e CSLL.

Nesse cenário, a partir de 2017, houve alteração legislativa para constar que todas as subvenções seriam “subvenção de investimento”, não havendo mais nenhuma separação. Também nesse período foi realizado julgamento do EREsp nº 1.517.492, que entendeu pela não incidência de tributos sobre a subvenção na modalidade crédito presumido de ICMS, sendo irrelevante a classificação no conceito de investimento ou custeio.

Após, em abril de 2022, a partir do julgamento do REsp nº 1.968.755 do STJ, inaugurou-se um novo litígio sobre o tema, em razão dos contribuintes buscarem estender o conceito de não tributação adotado para as “subvenções de crédito presumido de ICMS” e para as “subvenções de isenção e redução da base de cálculo de ICMS”.

A seguir, em 2023, o STJ decidiu, por meio do Tema nº 1.182, que qualquer subvenção poderia ser excluída da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, desde que os valores fossem computados contabilmente em conta de Reservas de Lucros – Reserva de Incentivos Fiscais no patrimônio líquido.

Aparentemente, o assunto estaria resolvido e, portanto, bastava que as subvenções fossem classificadas e segregadas em uma conta de Reserva de Lucros – Reserva de Incentivos Fiscais para que ficasse livre da tributação de IRPJ e CSLL.

Contudo, e com objetivo de estancar a perda de receita tributária que essa decisão representaria, no fim do mesmo ano, o governo publicou a Lei nº 14.789/2023, que trouxe diversos requisitos a serem cumpridos para que os valores relativos a subvenções sejam abatidos do IRPJ e do CSLL ou considerados como crédito para abatimento desses e de outros tributos federais.

Assim, atualmente, a regra geral é de que há incidência de IRPJ e CSLL sobre as subvenções, exceto se atendidos os requisitos da Lei nº 14.789/2023, que entre outros pontos limitou a não tributação a apenas a 25% do crédito experimentado e após procedimento de pré-cadastro e aprovação sistêmica, ou seja, dificultando o dia a dia e atingindo o bolso do contribuinte.

Todavia, considerando o vaivém legislativo, bem como as diversas argumentações jurídicas possíveis contra a referida tributação, o assunto ainda não está encerrado e deve ser palco de alta litigiosidade, considerando que os contribuintes tendem a ingressar com ações judiciais, objetivando tanto a não inclusão do valor de subvenções para investimento na base de cálculo dos tributos referidos quanto a não aplicação da nova diretriz de tributação – definida pela nova legislação – ao crédito presumido de ICMS.

Recomendamos que o contribuinte fique atento às mudanças legislativas e procedimentais, bem como à evolução das discussões na esfera contenciosa tributário.

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ARTIGOS

Campanha educativa é fundamental para a implantação do Drex

31/12/2024 07h15

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O Banco Central (BC) está avançando rumo à implementação do Drex, a moeda digital brasileira, porém, vem enfrentando alguns desafios. Já entrando na segunda fase de testes, a moeda digital brasileira ainda carece de uma solução definitiva de sigilo que atenda à legislação brasileira. De quatro ferramentas de privacidade disponíveis, nenhuma delas conseguiu atingir todos os requisitos. Essa é uma questão fundamental ainda a ser resolvida.

Além disso, a segunda fase de testes traz algumas novidades: permitirá que ativos que não estejam sujeitos à regulação do BC possam ingressar na plataforma, começará a avaliar a adoção de contratos inteligentes e incluirá mais participantes no projeto-piloto. Dentro desse cenário, o Banco Central já prevê que a implantação do Drex deve ser adiada para 2025.

Na primeira fase do projeto-piloto, o BC elegeu 13 casos de uso, de um total de 42 propostas apresentadas pelos 16 consórcios que estão no piloto. Os escolhidos incluem tópicos de transações com diferentes ativos, como imóveis, automóveis e cédulas de crédito bancário (CCBs). 

No caso da compra e venda de carros, por exemplo, o Drex poderia resolver um dilema clássico: como fazer a transferência da posse sem receber o pagamento ou, do lado do comprador, depositar o valor da transação sem ter o bem em seu nome. Com o Drex, essa jornada de compra, baseada em fluxo de dados, será simultânea, transparente, segura e fluida, praticamente sem fricções. 

É todo um novo mundo que se abre para agentes financeiros, porém fica claro que a aplicação da moeda digital brasileira não será tão intuitiva quanto o Pix, sistema instantâneo de pagamentos que ganhou a adesão imediata e incondicional dos brasileiros. 

A pesquisa Da cédula ao Drex: a evolução do real em 30 anos, realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD) para o Mercado Pago, revela que 46% dos entrevistados não sabem se vão migrar para a moeda digital, refletindo incertezas quanto à aplicação dessa ferramenta. Essa insegurança pode derivar da falta de familiaridade com a blockchain e sua usabilidade. Detalhe: segundo a mesma pesquisa, 50,5% deles acreditam que o papel-moeda desaparecerá em 10 anos. 

Por conta de golpes anteriores e da volatilidade de ativos sem lastro, como Bitcoin e Ethereum, parte da população pode se sentir cautelosa em relação à tecnologia blockchain. Sempre vale a pena lembrar que, diferentemente de criptomoedas como Bitcoin e Ethereum, o Drex será lastreado no real, o que aumenta o seu alcance. 

Para estimular a adesão da população brasileira à moeda digital, é crucial investir em campanhas educativas para a chegada do Drex, um aspecto muitas vezes subestimado, mas tão importante quanto a fase de testes do modelo piloto. 

O Brasil é reconhecido como um terreno fértil para a implementação de novas tecnologias financeiras. A transformação digital já é uma prioridade para as empresas brasileiras, impulsionando eficiência, produtividade e competitividade. No entanto, para garantir que essa recepção continue, a educação financeira deve ser constantemente promovida.

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