Artigos e Opinião

OPINIÃO

Wagner Cordeiro Chagas: "O primeiros passos como Capital"

Mestre em História pela UFGD

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Quando pesquisei sobre as eleições de 1982 em Mato Grosso do Sul (a primeira vez em que o povo deste estado elegeu seu governador), para escrever minha dissertação de mestrado em História pela UFGD, conheci um pouco mais da trajetória política de CampoGrande, a nossa bela capital, que neste dia 26 de agosto completa 120 anos de emancipação político-administrativa.

O que me chamou atenção, como pesquisador da área de História Política, foi a crise que o município experimentou poucos anos depois de ser elevado à sede do governo do mais novo estado da federação, Mato Grosso do Sul, criado em 11 de outubro de 1977. A crise se iniciou quando o então prefeito, eleito em 1976, Marcelo Miranda Soares (Arena), renunciou ao cargo, em julho de 1979, para assumir a função de governador deste estado após a demissão do primeiro governador, Harry Amorim Costa (Arena). Marcelo Miranda foi nomeado pelo presidente da República por meio de amplo apoio de seu padrinho político, o então senador Pedro Pedrossian (Arena). Com isso, o cargo de prefeito deveria ser assumido pelo vice-prefeito eleito Alberto Cubel Brull (Arena). Ocorre que o município não tinha o vice-prefeito, pois ele fora eleito deputado estadual no pleito de 1978. Coube ao presidente da Câmara Municipal, Albino Coimbra (Arena), assumir a função de chefe do Executivo na cidade, cuja gestão se estendeu até novembro de 1980.

O desejo de Pedro Pedrossian de se tornar governador do estado, enfim, foi realizado no mês de novembro de 1980, quando ele se articulou junto ao presidente João Figueiredo (PDS) e derrubou o governador Marcelo Miranda. Assim, Campo Grande passou a ter um novo prefeito; desta vez, nomeado pelo governador, já que, pelas regras do período da ditadura militar no Brasil (1964-1985), prefeitos de capitais não eram escolhido pelo voto popular. Pedro Pedrossian exonerou Albino Coimbra e nomeou o então deputado federal Levy Dias (Arena) prefeito da cidade entre 1973 e 1977. Até Levy ter seu nome aprovado pela Assembleia Legislativa, outro presidente do Legislativo campo-grandense foi prefeito interino entre os dias 7 e 19 de novembro: o vereador Leon Denizart Conte (Arena).

Levy Dias ficou até o mês de abril de 1982 como prefeito da Capital, quando o governador Pedro Pedrossian o exonerou, em razão de Levy querer ser o candidato do PDS ao governo do Estado nas eleições daquele ano, desafiando o governador, que apoiava outro nome para a disputa. Com a demissão de Levy Dias, a prefeitura passou – pela terceira vez – às mãos de um presidente da Câmara Municipal: no caso, o vereador Valdir Cardoso (PDS), que administrou de abril a maio de 1982. O governador escolheu outro prefeito, o engenheiro Heráclito de Figueiredo (PDS), então diretor do Departamento de Estradas (Dersul). Este administrou até o dia 14 de março de 1983.

Com o processo de redemocratização no Brasil, iniciado pelo retorno das eleições diretas para governador, em 1982, Mato Grosso do Sul escolheu o líder da oposição à ditadura, Wilson Barbosa Martins (PMDB). Empossado em março de 1983, o novo governador nomeou o pecuarista Lúdio Coelho (PMDB) como prefeito de Campo Grande. Até o nome deste ser aprovado pela Assembleia Legislativa, novamente um membro do Legislativo municipal teve de ocupar a cadeira de prefeito, e desta vez foi uma representante do sexo feminino: a vereadora Nelly Bacha (PMDB), primeira mulher no Brasil a ser prefeita de uma capital.

Lúdio Coelho assumiu a prefeitura em 20 de maio de 1983 e permaneceu até o dia 31 de dezembro de 1985. Em meados de 1985, com o País sob a égide de um governo democrático (José Sarney/PMDB), aprovou-se a lei que restabeleceu as eleições diretas para as prefeituras de capitais e outros municípios considerados área de segurança nacional, além da aprovação do direito de voto aos analfabetos, algo que foi negado no Brasil desde os tempos coloniais. Foi a primeira vez que, na condição de capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande elegeu seu prefeito. Concorreram à prefeitura: Juvêncio da Fonseca (PMDB), Levy Dias (PFL), Sérgio Cruz (PDT), Euclides de Oliveira (PCB), Jandir de Oliveira (PT) e Wilson Hokama (PTB). Graças à forte popularidade do PMDB naquele momento e ao apoio do governador Wilson Barbosa Martins, Juvêncio da Fonseca foi eleito.

Foi dessa forma que a Campo Grande que aprendi a gostar, por conta das pesquisas acadêmicas feitas na cidade e das visitas a familiares que deixaram Fátima do Sul para tentar uma vida mais digna na Capital, deu seus primeiros passos para se consolidar como capital do povo sul-mato-grossense. Parabéns, Cidade Morena; parabéns, cidadãos e cidadãs campo-grandenses!

 

ARTIGOS

O papel da IA no bem-estar moderno

21/03/2025 07h45

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Os últimos anos foram marcados por transformações em várias esferas da sociedade, e um dos conceitos que mais mudou e ganhou novos significados foi o de bem-estar. Se antes ele era relacionado principalmente com a saúde mental e física, hoje em dia já abrange diversos outros fatores, como qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, segurança e experiências personalizadas.

Esse cenário levou ao crescimento da economia do bem-estar, que, segundo dados do Global Wellness Institute (GWI), alcançou US$ 6,3 trilhões em 2023, montante 25% maior do que o valor avaliado em 2019 (US$ 4,9 trilhões). Para 2028, a expectativa é que o setor chegue a US$ 8,9 trilhões, o que reforça como essa pauta já é uma forte tendência.

Porém, vale destacar que os avanços nesse mercado foram possíveis, entre outros fatores, por conta da evolução da tecnologia, que ampliou o acesso a soluções inovadoras, otimizou processos e possibilitou a personalização do bem-estar de acordo com as necessidades individuais. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel fundamental, contribuindo ainda mais para que o bem-estar seja mais acessível e flexível.

Temos diversos exemplos que comprovam como as soluções inovadoras trazidas pela popularização da IA impactam diretamente o autocuidado e a forma como interagimos com o mundo: no setor da saúde, startups brasileiras como a Pipo Saúde utilizam a tecnologia para oferecer suporte a diagnósticos e otimizar o atendimento médico, permitindo que milhões de pessoas tenham acesso a serviços de saúde de forma mais eficiente. O bem-estar emocional também foi impulsionado com soluções como a da Vittude, uma plataforma que conecta pacientes a psicólogos por meio de IA, democratizando o acesso a cuidados mentais.

No que diz respeito ao bem-estar corporativo, ferramentas desenvolvidas por empresas como a Gupy ajudam organizações a monitorar o nível de satisfação dos funcionários e sugerem ações para melhorar o ambiente de trabalho, reduzindo o estresse e, consequentemente, aumentando a produtividade.

Outro exemplo do impacto positivo da IA no bem-estar moderno está na personalização do entretenimento, com plataformas como Spotify e Netflix, que usam IA para sugerir conteúdos que correspondem aos interesses do usuário, e do aprendizado, com ferramentas como o Duolingo, que usam IA para personalizar o ensino, tornando essa jornada mais eficaz e menos desgastante para os estudantes.

Acredito que essa tendência de sofisticação das tecnologias baseadas em IA vai tornar a busca pelo bem-estar completo ainda mais fácil. Desde aplicativos que monitoram padrões de sono e alimentação a assistentes virtuais que ajudam a gerenciar tarefas cotidianas, é fato que a tecnologia seguirá transformando a forma como cuidamos do nosso corpo, mente e relações.

Porém, não podemos esquecer que o segredo para o uso eficaz da IA nesse contexto inclui necessariamente o desenvolvimento ético dessas tecnologias, para que sejam seguras, inclusivas e realmente focadas no bem-estar humano.

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ARTIGOS

Financiamento rural e a reforma tributária

21/03/2025 07h15

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Os Fiagros são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Criados em 2021, são ativos de investimento do agronegócio, seja de natureza imobiliária rural, seja de atividades relacionadas ao setor. O Fiagro acabou se tornando uma fonte alternativa de financiamento para o produtor rural, de modo a não depender exclusivamente dos bancos e do Plano Safra.

Entretanto, em janeiro deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar nº 214/2025, que regulamenta a reforma tributária, mas vetou trechos que previam a isenção de tributos para os Fiagros e para os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Esses trechos isentariam tais fundos da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).

A justificativa do governo para o veto foi a ausência de autorização constitucional para que esses fundos não fossem considerados contribuintes do IBS e da CBS. Isso pode impactar diretamente o crédito para os produtores rurais. É uma insensatez e ilógico o que o presidente fez.

Os Fiagros são fundos em que as pessoas podem investir e que funcionam como fontes de financiamento para o agronegócio. No mundo inteiro, os fundos já são mais representativos do que os bancos. Esse tipo de fundo tem crescido bastante, pois permite também que investidores urbanos participem do setor agroindustrial, aproveitando o potencial do agronegócio brasileiro.

O Brasil conta com cinco grandes bancos e cooperativas de crédito, além de seis linhas de crédito disponíveis para o agronegócio. Há também o Plano Safra, que atende apenas uma pequena parte da produção. Dessa forma, os agricultores ficam nas mãos desses bancos e frequentemente enfrentam desafios para a concessão de crédito, tornando-se dependentes das instituições financeiras, que impõem taxas, garantias e burocracias muitas vezes incompatíveis com a realidade do setor.

Prova maior da importância de financiamentos alternativos é a notícia da suspensão do Plano Safra. O Tesouro Nacional decidiu suspender novas contratações dessas linhas de financiamento 2024-2025. A medida vale a partir de 21 de fevereiro. O governo, sempre correndo para remediar em vez de prevenir, editou a MP nº 1.289/2025, liberando 4,17 bilhões para conter a pressão do segmento. Ainda assim, é insuficiente para o que o setor demanda de fomento. 

Os fundos representam um novo universo, uma nova possibilidade de financiamento com juros menores, pois, muitas vezes, esse capital vem do exterior. Os investidores estrangeiros não estão acostumados com os juros elevados do Brasil e, portanto, taxas mais baixas já são atrativas para eles. O Fiagro é exatamente isso: uma fonte de financiamento. Além de financiar o campo, atualmente beneficia cerca de 600 mil investidores.

No momento, o Fiagro só paga imposto se houver mais de 100 cotistas no fundo, não sendo tributado pelo Imposto de Renda. Caso tenha menos de 100 cotistas, há a incidência de 15% de Imposto de Renda, cobrado apenas no momento do resgate do resultado pelo cotista. Além disso, o Fundo não paga PIS, Cofins ou ISS. Contudo, com esse veto presidencial, os Fiagros passarão a pagar os tributos previstos na reforma tributária, especificamente o IBS e a CBS. Isso significa uma alíquota de até 28,5%, o que inviabilizará completamente esses fundos.

É importante lembrar que a logística no Brasil é muito cara, os produtores gastam muito com transporte, e os custos trabalhistas e tributários são elevados. Agora, o governo tenta transferir mais essa responsabilidade para o produtor. Vale ressaltar, mais uma vez, que quanto mais difícil for a vida do produtor, mais difícil será a vida do consumidor, que verá o impacto nos preços dos produtos agropecuários nas prateleiras dos supermercados.

A nossa expectativa é que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifeste firmemente sua discordância com o veto e atue no Congresso para derrubá-lo. A tributação desses fundos compromete a competitividade do setor, aumenta os custos para os produtores, reduz a oferta de crédito no agronegócio e, por consequência, eleva os preços dos alimentos para o consumidor final.

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