Por acaso foi comemorado por aí o dia do folclore? Foi 5 de agosto, lembram? Acho que não; ninguém na escola falou, será? E o da cultura, sabem quando é? Pois bem, o dia da cultura – que abrange todo o universo do nosso imaginário, das nossas crenças, representações de mundo, nossas artes, todas elas; enfim, o que pensamos do mundo e das coisas que nos chegam por meio desse fenômeno coletivo a que damos o nome de cultura –, esse também tem um dia para se comemorar, e será no dia 5 de novembro. Será que a escola vai celebrá-lo? Oxalá. Por falar nisso, oxalá aqui é um advérbio de exclamação e não personagem do candomblé.
Que idiotice celebrar essas coisas bregas... que representações coletivas que nada... mais importante mesmo é celebrar o que está na moda, das estranjas, importante mesmo é o Halloween. E hoje, por aqui, a festa segue meio na balada, com DJ melhor.
Na verdade, nem mesmo sabemos o que significa, só que é o dia das bruxas. Legal né? Ou “manêro”, como queiram. Até mesmo nem sabemos o que é uma bruxa mais, porque, afinal, uma das poucas que conhecíamos era a da branca de neve. Socorro, quem é essa?
Mas todo evento folclórico – e o Halloween pertence a este repertório, lá nos Estados Unidos – tem um significado profundo, arraigado no inconsciente coletivo. Faz parte de um conjunto mais amplo de significações, não apenas de se travestir de bruxinhos e bruxinhas e suas abóboras luminosas ridículas ou até graciosas, como bonecos, mas, e o significado anterior e interior a essa comemoração, onde estará? Não neste Brasil, certamente, cujos saci-pererê, curupira, iara, mão-pelada, boto-cor-de-rosa, entre tantos, não têm aquele charme nem o nome sofisticado em inglês, imagina. São uns pobres-diabos, sem charme ou sofisticação. Até porque nada sabemos sobre eles, não é?
Se, pelo menos, tivéssemos copiado a tradição por inteiro (embora possamos questionar se isso se possa passar de uma cultura para outra), mas vamos lá: se isso pudesse ser feito, teríamos uma grande aprendizagem de humildade, pois as crianças aprenderiam a bater de porta em porta para pedir doces, e, por outro, de solidariedade, de quem as acolhe felizes e lhes presenteiam com eles.
Mas aqui é Brasil, né, e os significados simbólicos da partilha não encontraram respostas. Mesmo porque nosso universo de trocas simbólicas é muito restrito, como é o próprio simbolismo. Conosco é assim, na lata.
E as mães, por aqui, azafamadas a travestirem os filhos, a lhes pintarem as carinhas de caricaturas de bruxas (um parênteses: o mesmo ocorre quando as crianças se vestem de índios apaches, comanches e outros para comemorarem o Dia do Índio).
Porque, afinal, é Halloween, cadê a minha vassoura? Encantou-se já por antecipação de uma bruxaria?