Um bombardeio americano contra os talibãs matou 16 policiais afegãos por em engano nesta sexta-feira (21) na província de Helmand, sul do país, durante uma operação contra os insurgentes. O erro fortalece ainda mais as críticas em relação às forças estrangeiras.
O ataque aéreo, confirmado pelas forças americanas em Cabul, aconteceu na sexta às 17h e nele "morreram 16 policiais afegãos, entre eles dois comandantes", informou neste sábado (22) à agência France Presse um porta-voz da polícia de Helmand, Salam Afghan.
Os policiais terminaram de rastrear o povoado de Pachava, no distrito de Gereshk, a 150 km a oeste de Kandahar e "de expulsar os talibãs quando os americanos bombardearam", explicou. O porta-voz do ministério de Interior em Cabul, Najib Danish, contactado pela AFP, apresentou um balanço de doze mortos, mas o porta-voz do governador de Helmand, Omar Zwak, confirmou que 16 policiais morreram na linha de frente contra os talibãs.
O ministério do Interior enviou uma delegação ao local para que faça uma "investigação completa dos fatos", assegurou Danish. A operação e o erro foram admitidos pelas forças ocidentais em Cabul na sexta à noite em um comunicado, no qual informaram que "disparos aéreos provocaram a morte de forças afegãs amigas que estavam reunidas em campo", mas sem dar um balanço.
A missão da Otan disse que os tiros foram em "uma área do sul do Afeganistão, em grande parte controlada pelos talibãs" e anunciou a abertura de uma investigação interna, ao mesmo tempo em que transmitiu suas condolências "às famílias atingidas por este infeliz acontecimento".
Ataque talibã
Em um posto de controle no norte do Afeganistão, um ataque talibã matou outros 11 policiais, segundo informou neste sábado (22) uma fonte oficial à agência Efe. Dezoito insurgentes também morreram no local, e ao menos 20 policiais afegãos estão desaparecidos.
O ataque aconteceu no distrito de Tagab, na província nordeste de Badakhshan, indicou o porta-voz do governador provincial, Nik Mohammad Nazari. A violência no Afeganistão tem se intensificado durante os últimos dois anos, após o final da missão de combate da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no país. Neste momento o governo controla apenas 57% do território do país, segundo o Inspetor Especial Geral para a Reconstrução do Afeganistão (Sigar) dos Estados Unidos.
Ópio e fuzileiros navais
Grande parte da província de Helmand está nas mãos de talibãs, enquanto que os territórios que escapam de seu controle são palco de intensos combates. A província produz 85% do ópio afegão, principal fonte de receitas dos insurgentes através das taxas impostas aos agricultores.
Para conter os talibãs, 300 fuzileiros navais americanos foram destacados em abril na base de Camp Bastino, ao norte de Lashkar-Gah, a capital provincial.
No início da semana, apoiaram as forças afegãs para retomar um distrito-chave, Nawa, ao sul de Lashkar-Gah. Este distrito caiu em outubro nas mãos dos talibãs, o que colocou em risco o aeroporto regional e resultou na suspensão dos voos comerciais.
Erros estrangeiros
Dentro da coalizão ocidental, as forças americanas são as únicas que executam bombardeios aéreos contra os talibãs e o grupo Estado Islâmico. Com o tempo, os reiterados erros das forças estrangeiras alimentaram a ira da população.
O último incidente de magnitude, em fevereiro de 2017, matou 18 civis de Helmand, segundo a Missão das Nações Unidas no Afeganistão (Manua).
Em novembro, um bombardeio em princípio dirigido contra altos responsáveis talibãs na região de Kunduz, no norte do país, deixou 32 mortos e 19 feridos, incluindo várias mulheres e crianças, segundo a Manua.
No dia 14 de julho, fontes locais anunciaram que oito civis afegãos ficaram feridos em um bombardeio aéreo em Uruzgan, ao norte de Helmand, atribuído a "forças estrangeiras". No entanto, um porta-voz militar americano rejeitou as acusações e afirmou que "não foi realizado nenhum bombardeio nesse dia na província de Uruzgan".